O primeiro partido de massa brasileiro foi de extrema-direita
É até difícil de imaginar, mas, em meados dos anos 1.930, era comum nas ruas de Campo Grande - e de todas as grandes cidades - cruzar com homens vestindo calça preta, camisa verde, gravata preta e uma braçadeira semelhante à nazista contendo, dentro de um círculo branco, não uma suástica, mas a letra grega sigma. Eram chamados de "encamisados". De preto na Itália, de caqui na Alemanha, de verde no Brasil. O apelido não veio à toa. A extrema direita andava uniformizada, que remetia a uma padronização de toda a sociedade como eles consideravam ideal. Assim como remetia à disciplina militar, seu maior fetiche.
Liberdade? Qual liberdade?
Esses homens de verde tinham dificuldade de lidar com a liberdade no sentido liberal-democrata - aquele espaço permitido a cada um para buscar o seu melhor, com tolerância para desacordos. Esse ideal iluminista - o da tolerância por diferenças, o de culto ao debate - foi questionado de frente.
Ambições intelectuais.
A Ação Integralista Brasileira - AIB - era o nome desse partido. E tinha muitas ambições intelectuais. O comando desse partido era formado por artistas e pensadores, tal como na Europa. Muitos não sabem que Mussolini, que tentavam copiar no Brasil, era um leitor voraz. António Salazar, seu companheiro português, um erudito de renome nos meios econômicos. Hitler, um artista de segunda, trouxe para sua proximidade alguns dos maiores nomes de cientistas, filósofos, cineastas....Assim também foi no Brasil. Eram rígidos com um comportamento educado. Ficavam chocados com qualquer tipo de rudez. Grosseria era inadmissível.
Vinicius de Morais era integralista?
Os integralistas tinham um "duce", um "führer", que aqui batizaram de "Chefe Nacional" . Seu nome era Plinio Salgado, um político paulista do interior, muito magro e baixo, mas perante um microfone eletrizava o público. Plinio era escritor e jornalista. Um romancista razoável do modernismo brasileiro. Seus melhores amigos foram expoentes como Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo. E tinha mais. Miguel Reale, um dos maiores juristas brasileiros, era integralista. Também eram o folclorista Luís da Câmara Cascudo, o então padre Hélder Câmara, o político San Tiago Dantas e, depoimentos afirmam, o poeta Vinicius de Moraes. Ele próprio sempre correu do tema. Por aqui o chefe Integralista era Newton Cavalcante, um engenheiro-militar, comandante do exército local, preocupado com as ruas, praças e avenidas da cidade.
Um milhão de filiados.
Nem de centro, nem de esquerda, o primeiro partido de massa brasileiro foi de extrema-direita. Foi a Ação Integralista. Naquela época, o Brasil contava com tão somente 40 milhões de habitantes. Seria como termos atualmente um partido com 5.5 milhões de filiados. Gigantesco. Getúlio Vargas o enxergou como a maior ameaça ao seu poder. E o proibiu. Não houve barulho. Em seus míseros quatro anos, ainda caiu na clandestinidade por uns meses. E sumiu.