Os caros anticorpos monoclonais chegarão antes das vacinas
César Milstein, um cientista argentino, na hora de seu descanso, pensou em fundir uma célula de um tipo de câncer com um modesto glóbulo branco produtor de anticorpos. as defesas do corpo humano. Era uma ideia revolucionária. Unir o mal com o bem. A doença com a cura. O resultado foi um Frankenstein maravilhoso, uma espécie de superglóbulo branco que era capaz de gerar proteínas defensivas sem parar. Milstein e seu colega alemão Georges Köhler, tinham inventado as fábricas de anticorpos. Em 1984 ganharam o Nobel de Medicina por esse invento.
Uma nova frente de guerra contra muitas enfermidades.
Aquele "insight" de criatividade é hoje a base de uma revolução. Sua técnica para obter anticorpos muito específicos - denominados monoclonais, porque são originários de um clone - inaugurou uma nova frente na guerra contra as enfermidades. Sete dos dez medicamentos com maiores vendas no ano passado foram anticorpos monoclonais, como o trastuzumab, que aumentou a sobrevivência de mulheres com câncer de mama. Um vez fracassados todos os medicamentos para combater o coronavírus, o mundo científico, quase inteiro, mira para os anticorpos monoclonais.
"Temos a cura", diz Donald Trump.
O presidente norte americano, Donald Trump, como sempre exagerado, já dá a batalha por vencida. Com o uso de dois anticorpos monoclonais, em três dias estava bem de saúde. "Temos a cura", proclamou em 11 de outubro. Além das vacinas, os anticorpos monoclonais são a grande esperança de frear a pandemia. Quem está à frente na corrida dos anticorpos monoclonais são duas empresas norte-americanas: Regeneron e Ely Lilly. Trump usou dois anticorpos da Regeneron, um obtido de ratos modificados geneticamente e outro extraído de um paciente. A universidade de Oxford está testando esses anticorpos monoclonais desde setembro em 2.000 pacientes. Mas o anticorpo monoclonal que parecia mais avançado, em vias de ser colocado nos hospitais, era o da Ely Lilly. Seus 300 testes foram suspensos depois de detectarem um possível problema de segurança que está sendo investigado.
Asseguram que chegarão antes das vacinas.
São mais de 70 testes de anticorpos diferentes com esse tipo de medicamento revolucionário. A maioria dos cientistas acreditam que eles chegarão antes das vacinas. Não será fácil. Os cientistas estão comprimindo décadas de trabalho em meses. A Regeneron calcula que colocará no mercado em torno de 300.000 doses em pouco tempo. Mas vale lembrar que exatamente 300.000 pessoas ficam infectadas pelo coronavírus diariamente. A ideia da Regeneron é vender seu primeiro anticorpo monoclonal apenas para idosos e obesos. Mas ele será caro, muito caro.
143 mil dólares ou 30.000 dólares?
A escassez pode disparar os preços desses medicamentos que já são muito caros. O preço anual do tratamento de uma pessoa com câncer nos EUA é de 143 mil dólares. Mas os anticorpos monoclonais desenvolvidos para combater doenças infecciosas misteriosamente custam 30 mil dólares. César Milstein, falecido em 2002, lamentava esse absurdo: "Estou horrorizado com os preços que estão cobrando por alguns desses anticorpos monoclonais dirigidos a células tumorais. O que cobram é indigno".