Quando os céus e os trilhos levaram esperança para Coxim
Em meados de 1961, o aeroporto Salgado Filho, em Coxim, recebia o primeiro DC-3 da VASP, inaugurando a rota comercial entre São Paulo e a cidade sul-mato-grossense. Até então, as viagens eram penosas e demoradas, feitas principalmente em ônibus que enfrentavam estradas de chão batido. A nova rota aérea representou um avanço significativo na conexão de Coxim com os grandes centros urbanos. No entanto, esse progresso foi breve. Em 31 de março de 1964, o último voo pousou na cidade, encerrando uma fase promissora da aviação local. A interrupção do serviço foi um golpe para a região, que voltou a depender das precárias condições do transporte terrestre.
As estradas de terra e o Expresso Baleia
Antes da chegada dos voos comerciais, quem precisava se deslocar entre Coxim e outras cidades tinha como principal opção os ônibus do Expresso Baleia. A rota ligava Campo Grande a Cuiabá, cruzando Coxim em um percurso que durava três dias. As dificuldades eram muitas: estradas de terra, poeira sufocante no verão, lamaçal intransitável no inverno. Os passageiros pernoitavam em Ribeirão Claro, um ponto de parada estratégico nos arredores de Coxim. A viagem era uma epopeia, uma prova de resistência. Com a suspensão dos voos da VASP, Coxim voltou a enfrentar o isolamento rodoviário, evidenciando a necessidade crônica de investimentos em infraestrutura.
A ferrovia que nunca chegou
No final do século XIX, um projeto ambicioso prometia revolucionar a logística da região: a construção da ferrovia ligando Uberaba, em Minas Gerais, a Coxim. Em 13 de junho de 1896, o jornalista Antônio Borges Sampaio teve a honra de cravar a primeira estaca da estrada de ferro. O gesto simbolizava o início de uma era que jamais se concretizou. A obra foi engavetada e, no início do século XX, abandonada de vez. O traçado que poderia ter transformado Coxim em um entroncamento ferroviário estratégico virou apenas uma promessa frustrada. A ferrovia que nunca chegou é um dos muitos capítulos de desenvolvimento interrompido na história do município.
Memórias de um Escritor e de uma Cidade
Essas histórias estão registradas no livro “Raízes de Coxim”, do escritor e pecuarista João Ferreira Neto, que faleceu recentemente. A obra não se propõe a ser um primor literário, mas traz informações valiosas sobre a cidade da piracema, resgatando episódios pouco conhecidos de seu passado. Ao narrar o período em que Coxim teve voos comerciais e o projeto ferroviário que nunca saiu do papel, João Neto reconstrói a memória de uma cidade que já esteve no centro de grandes promessas de desenvolvimento. Seu livro se torna, assim, uma contribuição indispensável para quem se interessa pela história regional, ajudando a preservar fatos que poderiam ser esquecidos.
Texto de Alexsandro Nogueira
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