Ratzinger, o Papa que alertou sobre o cansaço do cristianismo
Chamava a atenção que continuava sendo um professor, mesmo quando chegou ao ápice da igreja católica. Acostumado a dizer o que pensava sem filtros, com clareza, animado pela curiosidade, como todo intelectual autêntico, não mudou ao assumir o manto papal. Sua linguagem nada tinha de clerical. E sua única diversão era observar os gatos que encontrava nos passeios, vestido como um padre comum, nas imediações do Vaticano.
Seminarista, foi obrigado a servir no exército nazi.
Aos 16 anos, Ratzinger, nascido em uma modesta família católica, totalmente alheia ao nazismo, foi obrigado a servir como auxiliar antiaéreo no exército nazista. Desertou e foi preso pelos norte-americanos. Reagiu à prisão como um estudante modelo, compondo versos gregos a lápis em um caderno. E a lápis escreveu, com uma letra diminuta, cheia de abreviaturas, a trilogia sobre Jesus de Nazaré, que, muito humilde, considerava passível de críticas.
A crítica à sua própria instituição.
Ratzinger foi um homem corajoso e honrado. Ainda que muitos o tivessem como um conservador, tinha uma concepção radical da igreja. Estava "lastrada", segundo ele, por "demasiados aparatos e a imundície dos abusos". Foi decidido e eficaz ao enfrentar os abusos na Irlanda e na instituição "Legionários de Cristo". Mas, por nunca deixar de dizer o que pensava, ficou marcado entre os muros do Vaticano como aquele que dizia que o futuro da igreja no Ocidente era de ser minoritário, pois a fé estaria se extinguindo nessa região do mundo. Concordaria se tivesse dito que a igreja e a fé estão em crise, mas não em estado de extinção.