Rezadeiras e benzedeiras na Campo Grande de cem anos atrás
Apesar da hierarquia católica ter se oposto rigorosamente, há séculos, a todas as religiões não cristãs, rebaixando-as à condição de idolatria, superstição e feitiçaria, na prática, muitas vezes, era outra a realidade. Eram frequentes as denúncias contra homens e mulheres que recorriam a feiticeiros e feiticeiras em especial quando os remédios de boticas não surtiam efeito.
Excomungados?
Deveriam ser excomungados aqueles que utilizassem patuás e bolsas de mandinga, assim como os que usassem cartas para afeiçoar e alienar homens e mulheres ou fizessem adivinhações de casos futuros, interpretar sonhos e prognosticar o futuro com base em cantos de aves ou vozes de animais. Também estavam proibidos que se benza gente, gado ou quaisquer animais, nem use de salmos e palavras para curar feridas ou levantar espinhela (segundo a tradição popular a espinhela seria um pequeno osso no peito que causava cansaço e dores fortes quando "caído"). Malgrado a preocupação da igreja, Campo Grande tinha muitas rezadeiras, benzedeiras e adivinhos.
A "expertise" dos não cristãos.
Eram variadas as práticas e "expertises" dos humildes heterodoxos não cristãos. Alguns benziam panos para estancar feridas, outros benziam contra quebranto, mal-olhado, carne-quebrada, ventre caído e bicheira. Havia os especialistas em benzer crianças.. Tinha quem curasse retenção de urina com rosário. E ainda havia os que curassem de cobra e dor de dente cortando pequenos talhos com uma navalha na "coroa" das pernas dos homens e na "chave" da mão das mulheres; untavam os talhos com saliva e mandavam rezar sete padre-nossos e sete ave-marias.
Achar coisas perdidas e ser valente.
A reza para achar coisas perdidas era para Santo Antônio e devia medir o local com um cordão. Era possível estancar sangue com rezas complexas. E havia aqueles que rezavam para ser valentes. Até para curar sapinho da boca existiam "peritos" em rezas. Mais difícil era encontrar reza para engasgo ou erisipela. Era uma benzedura especial.
A reza para curar erisipela.
"Ia Pedro e Paulo para Roma, Jesus encontrou e lhe perguntou: Onde vais Pedro? Vou a Roma, Senhor, que há de novo? Muita erisipela. Torna para lá Pedro e dize que lhe ponham o céu da minha oliva, que logo serão sãos". Deveriam repetir essas palavras cinco vezes e rezar cinco pais-nossos e cinco ave-marias. Será que mudou alguma coisa? Duvido.