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Em Pauta

Triste fim de Lima Barreto na Bruzundanga eterna racista

Mário Sérgio Lorenzetto | 20/11/2022 09:40
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Chovia muito no 1 de novembro de 1.922. Na Vila Quilombo, como Lima Barreto se referia ao bairro onde vivia com a família, sua irmã, Evangelina, desdobrava-se para cuidar dele e do pai. Com sérios problemas psiquiátricos, João Henrique, o pai de Lima Barreto, chegava ao fim de uma vida de miséria. No quarto ao lado, Lima Barreto inspirava cuidados. Aos 41 anos, estava mais uma vez acamado, estado frequente com os excessos do álcool cobrando seu preço. Evangelina serviu um chá ao escritor. Uma hora depois, encontrou Lima Barreto morto, sentado na cama. Triste fim de Lima Barreto, junto com Machado de Assis, ambos negros, os maiores escritores brasileiros.


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É preciso saber como morreu.

"Para se compreender bem um homem não se procure saber como oficialmente viveu", diz Assis Barbosa, coberto de razão, o biógrafo de Lima Barreto. E completa: "É [preciso] saber como morreu". 2022 é o ano do centenário da morte de Lima Barreto. Coincide com um dos momentos mais agudos da República de Bruzundanga, como Lima Barreto denominava este Brasil eivado de crueldade e injustiça, impiedosamente esquadrinhado por ele nos "Triste Fim de Policarpo Quaresma", "Os Bruzundangas" e "Coisas do Reino do Jambon".


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Uma república cimentada pelos privilégios.

É difícil entender Lima Barreto sem perceber que vivemos em um país desenhado pela desigualdade e comentado pelos privilégios. Uma república que expulsa sistematicamente negros e pobres para periferias cada vez mais distantes. Poucos se irmanavam com ele no trânsito social e intelectual. Di Cavalcanti estava entre os poucos amigos que foram a seu enterro. E evoca detalhes. "A chuva não parava. A terra caia, enlameada, sobre o caixão negro". E sintetiza a vida do escritor: "Lembro-me dele com uma ternura imensa. Como uma caricatura dolorosa. Como se eu o estivesse vendo, encostado a uma porta modesta de botequim, a sorrir para a imbecilidade anônima dos bem-confortados".


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A crítica ácida de Lima Barreto.

Lima Barreto foi um crítico desconcertante do Brasil. Seus temas eram sobre os "entalados estados de sítio brasileiros", nossa horrenda arquitetura urbana, "nossos gurus e sabichões", a cultura  eternamente colonizada, a "exploração cínica e demagógica dos mais fracos", "o amor desbragado pelo dinheiro", "a destruição dos oceanos, verdes e morros", "o pó de vaidade dos títulos e fardões", "o comércio da religião".
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