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Finanças & Investimentos

Seis passos para a riqueza

Por Emanuel Gutierrez Steffen (*) | 29/09/2014 08:37

O soldado germânico do século XIX tinha dificuldade para organizar as contas da casa. A falta das planilhas de Excel talvez atrapalhasse um pouco. O pior mesmo era ter de evitar golpes de baioneta e balas de canhão. Num período de apenas oito anos, os germânicos passaram por três guerras. Chegaram ao fim dessa epopeia, em 1871, com um país novo, a Alemanha unificada, uma economia nova, em via de se tornar uma maravilha industrial, e um fantasma velho a assustar o governo: o socialismo. O ideário de justiça social seduzia os operários, que não contavam com nenhuma segurança financeira para si e para suas famílias. O governo reagiu. Num período de cinco anos, inventou o auxílio social por acidentes, o auxílio por doença e a aposentadoria. O primeiro modelo já parecia o atual. Reunia depósitos do trabalhador, do empregador e do governo. A quantia acumulada ficaria à disposição do beneficiado quando ele completasse 70 anos. Como isso era dez anos além da expectativa de vida do jovem alemão daquela época, o sistema exigia melhorias. O responsável pela bela invenção, o chanceler Otto von Bismarck, legou à humanidade, de uma vez só, duas grandes criações: a aposentadoria e a preocupação de que não conseguiremos aproveitá-la.

Lá se vão mais de 120 anos de debates sobre como juntar dinheiro antes de chegar à velhice. Uma autoridade no assunto vem propor que mudemos a forma de pensar a respeito. O orientador financeiro Gustavo Cerbasi, colunista de ÉPOCA, sugere que todo poupador tente seguir três caminhos, um após o outro ou paralelamente: ganhar dinheiro como assalariado, como empreendedor e como investidor. De acordo com a tese de Cerbasi, essas três frentes deveriam se tornar, uma de cada vez, a principal fonte de renda do poupador. Idealmente, viriam nesta ordem: ênfase no emprego durante a juventude, nos empreendimentos durante a maturidade e nos investimentos perto da aposentadoria (Cerbasi usa o conceito de “empreendimento” de maneira bem aberta, não apenas como criação de um negócio próprio. Veremos os detalhes à frente). Mas as três podem ocorrer ao mesmo tempo ou em outra ordem, ao gosto do estrategista. O importante é que haja planos para usar todas elas ao longo da vida. “O mais razoável é lançar projetos paralelos. Você vai largando aqueles de que gosta menos e abraçando aqueles que deslancham e de que você gosta mais”, diz Cerbasi.

A estratégia das três frentes foi usada pelo próprio autor, embora ele não tivesse consciência disso anos atrás. Ele trabalhou como consultor financeiro de empresas. Achou isso “desgastante”. Largou a consultoria empresarial e passou a dar aulas. Foi deixando as aulas para prestar consultoria financeira pessoal. Deixou a consultoria pessoal em 2008, para dar palestras e escrever livros e artigos, aquilo que mais gosta de fazer. Ao longo do percurso, derrapou algumas vezes. Em 2008, ficou exausto demais por aceitar ministrar 200 palestras. Hoje, controla melhor a agenda. Em 2011, tentou licenciar seu nome para cursos de finanças pessoais. Percebeu que ameaçaria seu maior patrimônio – sua reputação. Já tomou decisões financeiras ousadas, como vender o único imóvel próprio, passar a viver de aluguel e aplicar o dinheiro em ações (fez isso no momento certo e lucrou). Sentado numa cafeteria em São Paulo, com a mochila na cadeira ao lado, Cerbasi é a imagem da serenidade e satisfação. “Hoje, consigo ter férias e tempo para reflexão, conversa, estudos. Preciso disso. Poderia estar ganhando mais dinheiro, mas prefiro uma estrutura de trabalho enxuta e tempo livre”, diz ele, com ar jovial.

A proposta de Cerbasi não invalida as estratégias financeiras que vêm surgindo desde que o primeiro alemão pensou no conceito de aposentadoria. As novas estratégias aparecem sem eliminar as anteriores. Seus adeptos se apresentam lado a lado, como num cardápio. Entre os mais populares estão o investidor arrojado (ele pensa em aplicar em ativos de risco, como ações, e chegar aos milhões), o concurseiro (cuja meta é tornar-se funcionário público e garantir facilmente a aposentadoria integral) e o empreendedor (que tenta criar um negócio próprio e ficar rico). Outro, ainda pouco difundido, mas muito razoável para o mercado de trabalho do século XXI, o saltador de projeto em projeto. Ele alterna carreiras diferentes e períodos de descanso, trabalho e estudo, a fim de prolongar a vida profissional e aproveitar mais a vida.

Cerbasi não discorda da mais tradicional das estratégias – o investimento de longo prazo, a fim de juntar o máximo de dinheiro. Mas vem duvidando de sua viabilidade. Nos últimos tempos, dois fatores o incomodam. Primeiro, a esperança do brasileiro de parar de trabalhar cedo. Uma pesquisa do banco HSBC com 16 mil pessoas em 15 países, entre 2012 e 2013, revela algo embaraçoso para nós. O brasileiro gostaria de se aposentar, na média, aos 46 anos. É a expectativa mais otimista – poderíamos dizer a mais preguiçosa? – entre as nações avaliadas.
O segundo fator a incomodar Cerbasi é a tendência, comum entre os poupadores, a confiar unicamente na estratégia de poupar devagar e sempre, no longo prazo. Trata-se da estratégia mais propagada e defendida, e também da mais falsamente simples. Induz o potencial poupador a acreditar que a seguirá facilmente, por ela não exigir preparação técnica, ao contrário dos investimentos arrojados ou da abertura de um negócio próprio. Essa estratégia exige, porém, um grau de disciplina que muitos não conseguirão desenvolver. A evidência está nos números. Num levantamento de opinião da Bradesco Seguros com 500 pessoas, apenas 10% disseram dar prioridade a algum tipo de poupança de longo prazo. Num levantamento de dados com 1.700 usuários, o site de organização financeira GuiaBolso descobriu que apenas um terço daqueles com renda superior a R$ 10 mil consegue poupar e investir. Na faixa com renda de R$ 5 mil a R$ 10 mil, somente um em cada quatro investe. Os grupos avaliados são pequenos, mas representam estratos mais ricos da sociedade. Deveriam ser os mais poupadores.

No conceito bem abrangente de “empreendedorismo” adotado por Cerbasi, o poupador certamente encontrará alguma opção confortável, diz Tales Andreassi, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios (GVCenn) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele adverte para os perigos de enxergar, na nova tese, uma sugestão de que qualquer um possa ou deva abrir um negócio. “O empreendedor precisa ter identificado uma oportunidade e poder correr um risco. Nem todo mundo tem o perfil necessário. Quem não tem pode abrir uma empresa, falir e perder as economias”, diz. O alerta tem sentido. A nova proposta de Cerbasi pode receber críticas e não tem o condão de eliminar os riscos do mau planejamento. Mas tem o mérito de incluir mais opções na vida financeira, para além da lenga-lenga de renda-fixa-ou-renda-variável. E ter à frente mais opções obriga cada um de nós a pensar mais seriamente: estou fazendo tudo o que poderia para aumentar minhas chances de ter um futuro feliz?

Fonte: maisdinheiro.com.br/Gustavo Cerbasi
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(*) Emanuel Gutierrez Steffen – Criador do portal www.mayel.com.br

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