"Todos devem ficar parados e o governo deve imprimir dinheiro"
Eis a solução progressista - Precisamos de mais desemprego para evitar o desemprego. Já fazia muito tempo que eu não lia nada escrito por Paul Krugman. E ao deparar-me com sua última coluna no The New York Times, constatei que não perdi nada, pois ele não mudou em nada. Estando hoje no extremo tanto do keynesianismo quanto do partidarismo político, ele há muito tempo abandonou qualquer tipo de análise econômica, e hoje se dedica àquilo que Mises rotulou de metafísica.
Não obstante, minha curiosidade foi mais forte tão logo vi que ele escreveu que reabrir a economia e permitir que as pessoas voltem a trabalhar irá certamente causar uma depressão econômica. Escreve ele:
“Na semana passada, a Secretária de Estatísticas do Trabalho [Bureau of Labor Statistics] confirmou oficialmente o que já sabíamos: com alguns meses da crise da Covid-19, os Estados Unidos já têm um nível de desemprego igual ao da Grande Depressão. Mas isso não equivale a dizer que estamos em uma depressão. Só saberemos se é verdade quando virmos se este desemprego extremamente alto irá durar muito tempo — digamos, um ano ou mais.
Infelizmente, o governo Trump e seus aliados estão fazendo de tudo para tornar mais provável uma depressão em grande escala.”
Agora, muitos de nós acreditamos que as maciças intervenções monetárias e fiscais na economia, tanto do governo federal quanto dos governos estaduais, irão afetar ainda mais a economia e, aí sim, causar uma depressão e fazer com que a taxa de desemprego dispare ainda mais.
Este, no entanto, não é o ponto de Krugman. Com efeito, ele parecer acreditar que não há intervenção estatal o suficiente — algo que, aliás, é uma constante em seus escritos.
Krugman afirma que reabrir a economia e permitir que a produção e o trabalho voltem irá gerar a próxima depressão.
Já estivemos nessa seara antes. Como esquecer daquele inesquecível dia, em 2011, quando Krugman disse que se o governo imaginasse que alienígenas fossem atacar a Terra e começasse a gastar preparando alguma defesa, a economia estaria curada?
Quem já leu (ou lecionou, como é o meu caso) economia keynesiana sabe que, de acordo com os keynesianos, a economia de mercado sempre está à beira de um colapso e prestes a vivenciar uma recessão e um maciço desemprego a menos que o governo (a) reduza juros até não poderem mais ser reduzidos, e (b) incorra em maciços novos gastos para estimular a "demanda agregada", pois o "pleno emprego" só pode ser alcançado com o governo intervém. E ponto final.
Mas mesmo eu devo admitir que esta coluna em específico me pegou de surpresa. Embora ainda recorra aos tradicionais partidarismos, Krugman intensificou. À pergunta sobre como evitar uma completa depressão, Krugman responde que "temos de manter o curso atual" (em suas palavras) e manter todo mundo trancafiado em casa por um período de tempo ainda maior.
Seu raciocínio é que, se os governos autorizarem as pessoas a saírem do seu confinamento doméstico agora, todos os "avanços" supostamente já obtidos contra a Covid-19 serão perdidos, e aí a rocha voltará a rolar morro abaixo até chegar ao vale da montanha. Escreve Krugman:
“Se pudéssemos controlar o coronavírus, a recuperação poderia ser realmente muito rápida. É verdade, a recuperação da crise financeira de 2008 levou muito tempo, mas isso teve muito a ver com problemas que se acumularam durante a bolha imobiliária, com um notável nível sem precedentes de endividamento das famílias. Não parece haver problemas similares hoje.
Mas controlar o vírus não significa "achatar a curva", o que, aliás, já fizemos — conseguimos desacelerar a disseminação da Covid-19 o suficiente para nossos hospitais não estarem superlotados. Significa esmagar a curva: reduzir muito o número de americanos infectados, depois manter um alto nível de testagem para localizar novos casos, juntamente com o rastreamento de contatos para podermos pôr em quarentena os que podem ter sido expostos.
Para chegar a esse ponto, porém, precisaríamos primeiro manter um regime rigoroso de distanciamento social, não importa quanto tempo dure, para reduzir as novas infecções a um nível baixo. E então teríamos de proteger todas as pessoas com as testagens e o rastreamento já disponíveis para as pessoas que trabalham diretamente para o governo, e para quase mais ninguém.”
O mais próximo deste tipo de raciocínio foi o do correspondente da Associated Press no Vietnã, Peter Arnett. Após um bombardeio aéreo americano dizimar o povoado de Ben Tre, ele pronunciou a frase imortal: "Foi necessário destruir a cidade para salvá-la".
Na novilíngua atual, Krugman está dizendo que, para salvar a economia, o governo tem de decretar e impingir políticas que irão afetar severamente a atividade econômica. Ninguém deve produzir nem trabalhar. Todos devem ficar parados em casa até haver testes disponíveis para cada indivíduo.
No entanto, Krugman, sendo Krugman, acredita que há uma "solução" fácil a ser aplicada neste ínterim, a qual irá permitir a economia continuar funcionando suavemente — sem ninguém trabalhar, é claro. Escreve ele:
“Ao mesmo tempo, o governo e seus aliados parecem estar decididos a não fornecer a ajuda financeira que nos permitiria manter o distanciamento social sem dificuldades financeiras extremas. Prorrogar os benefícios aos desempregados, que vão expirar em 31 de julho? "Só sobre nossos cadáveres", disse o senador Lindsey Graham. Ajudar os governos estaduais e locais, que já demitiram um milhão de trabalhadores? Isso seria um "pacote de resgate para estados democratas", segundo Mitch McConnell.” (Grifo meu)
Ou seja: se todo mundo ficar parado em casa, e o governo simplesmente imprimir moeda e distribuir para cada indivíduo da economia, os problemas econômicos estão resolvidos. Essa declaração expõe por completo a extrema mentalidade keynesiana: imprimir dinheiro é o equivalente mais próximo a realmente produzir algo. Como todo keynesiano, Krugman comete a falácia da composição: ele acredita que se algo pode ser bom para uma pessoa (ou para algumas poucas pessoas), então será bom para todas as pessoas.
No caso dos EUA, já vimos que, graças às atuais políticas estatais (que somam seguro-desemprego dos governos estaduais e federal a mais uma ajuda de US$ 1.200 para cada cidadão), muitos trabalhadores estão recebendo de seguro-desemprego benefícios que são maiores que os salários que recebiam quando ainda trabalhavam.
Logo, não é surpresa nenhuma que os pedidos de seguro-desemprego só fazem aumentar e muitos continuem sem trabalhar. De acordo com jornalistas keynesianos da CNBC, isso é "ótimo".
Não, isso não é ótimo. É um desastre em construção. Embora possa ser bom para mim se o governo me der um milhão de dólares por semana para não trabalhar, isso seria efetivo somente se eu fosse o único recebendo o benefício. Embora o resto da sociedade ficasse em pior situação em decorrência desta política — dado que isso seria uma explícita política de transferência de renda de todos para mim —, eu ao menos poderia dar a desculpa de que isso realmente é "ótimo", pois, na linguagem keynesiana, tal política faria aumentar a "demanda agregada".
Agora, pense nessa política em uma ampla e vasta escala, com todo mundo recebendo dinheiro criado do nada pelo Banco Central, e você terá uma ideia do que Krugman está realmente defendendo em nome de impedir uma depressão. Embora o governo já tenha inundado a economia de dinheiro recém-criado com a esperança (a vã esperança) de que isso irá sobrepujar os permanentes danos econômicos trazidos por um desligamento compulsório da economia, Krugman está deixando claro que esses estímulos ainda não são o bastante. Sua crítica partidária acima mostra que, na prática, ele quer que o governo coloque praticamente toda a força de trabalho como recebedora de benesses.
Isso lembra a famosa frase de Keynes, que disse que a expansão do crédito que ocorre quando o governo cria dinheiro do nada realiza o milagre de "transformar pedras em pães". Krugman essencialmente está dizendo a mesma coisa: o governo, por meio de volumosas injeções de moeda na economia, magicamente fará surgir coisas reais. Ninguém precisa trabalhar ou produzir. A mera criação de papel-moeda (ou dígitos eletrônicos) irá miraculosamente se converter no surgimento mágico de novas máquinas e equipamentos. Linhas de produção surgirão milagrosamente. Bens e serviços reais aparecerão do nada. Coisas "aborrecidas" como poupar, investir e produzir podem ser perfeitamente contornadas.
Infelizmente, várias autoridades políticas e econômicas ao redor do mundo genuinamente acreditam que isso é possível. Para a nossa miséria, a ideia de que imprimir moeda é a cura para tudo é algo que rejuvenesce à medida que se esquecem as experiências passadas. Assim como vários outros na esquerda, Krugman acredita que temos apenas duas opções: trancar todo mundo em casa e derrotar o novo coronavírus ou permitir que as pessoas vivam suas vidas sem interferência do governo e, com isso, adoecem e morram.
É óbvio que estas não são as únicas opções. E tampouco estamos diante de um dilema. A política original do lockdown, que Krugman endossa, surgiu em decorrência de um modelo epidemiológico completamente fraudulento criado por Neil Ferguson, do Imperial College de Londres, que previu que 2,2 milhões de americanos morreriam a menos que o governo decretasse imediatamente a quarentena de toda a população (sendo que o próprio Ferguson caiu em desgraça e renunciou).
E hoje, após quatro meses de pandemia mundial, já há evidências concretas de que o lockdown não altera o número de mortos per capita. Estatísticos não conseguem encontrar nenhuma diferença de excesso de mortalidade entre os países que se trancaram e os que não.
Logo, é praticamente tão difícil levar o Krugman epidemiologista a sério quanto é impossível levar o Krugman economista a sério. Para resumir, enfim, a última explosão krugmaniana, temos a seguinte progressão: (a) fechar empresas e proibir pessoas de trabalharem resultou em maciças demissões e em uma taxa de desemprego igual à da Grande Depressão; (b) deixar as pessoas voltarem a trabalhar, empreender e produzir irá resultar em níveis muito maiores de adoecimento, o que irá aumentar ainda mais o desemprego; (c) portanto, imprimir muito dinheiro e manter todo mundo trancado em casa é a solução e tudo ficará bem.
As falácias lógicas são avassaladoras. E não pense que isso é monopólio de Krugman. Ele é apenas o difusor mais famoso. Todos os economistas heterodoxos ao redor do mundo defendem o mesmo: a impressão de dinheiro é a solução. Se os governos continuarem mantendo as empresas fechadas e ordenando as pessoas a continuarem em prisão domiciliar, as taxas de desemprego irão disparar para níveis sem precedentes, e vivenciaremos uma depressão ainda pior. Como corretamente apontou Elon Musk, se todos estão em casa sem produzir coisas, não mais existirão coisas. E imprimir moeda não vai solucionar isso.
No entanto, Krugman afirma que se os governos imprimirem dinheiro e ainda estimularem o endividamento, tudo estará sob controle. E toda a esquerda progressista pensa o mesmo. Esta não é uma lógica apenas de Keynes, mas também de malucos como Silvio Gesell e os atuais seguidores da Teoria Monetária Moderna.
Para ser honesto, a única coisa que está faltando nesta última fantasia de Krugman é começar o artigo com "Era uma vez…"
Fonte: William L. Anderson é um scholar adjunto do Mises Institute, e leciona economia na Frostburg State University/ Mises.org.br. Disclaimer: A informação contida nos artigos e em qualquer outra publicação relacionada com o nome do autor não constitui orientação direta ou indicação de produtos de investimentos. Antes de começar a operar no SFN (Sistema Financeiro Nacional) o leitor deverá aprofundar seus conhecimentos, buscando auxílio de profissionais habilitados para análise de seu perfil específico. Portanto, fica o autor isento de qualquer responsabilidade pelos atos cometidos de terceiros e suas consequências.