Construção amarga alta em preços e mão de obra "roubada" por gigante da celulose
Pandemia inflaciona e atrasa matéria-prima, enquanto trabalhadores preferem construção em Ribas do Rio Pardo
Esse é um dos piores momentos para quem investe em construções de longo prazo em Mato Grosso do Sul. O setor sofre com os preços de matéria-prima, que sobem cada vez mais em função da pandemia, e ainda tem dificuldade para encontrar mão de obra qualificada.
Faltam trabalhadores na Capital e cidades do interior, porque boa parte foi atraída para construção de uma enorme fábrica de celulose, em Ribas do Rio Pardo, a 103 quilômetros de Campo Grande.
O panorama é revelado pelo presidente do Sinduscon MS (Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção do Estado de Mato Grosso do Sul), Amarildo Melo. “Quem tem juízo, não inicia obra de longo prazo nesse momento”, alerta.
Alguns materiais usados nas obras, além de terem preços inflacionados, demoram até oito meses para serem entregues, atrasando as obras.
“Os preços não se estabilizam. A cotação de aço, por exemplo, sobe todo mês. Têm vários produtos com cotação diária, como é o caso dos fios de cobre. Está muito instável. As pessoas voltaram a construir, mas não é um momento bom. Obras de pequeno prazo sentem um pouco menos, mas as maiores requerem cuidado”, explica.
Quem investe na construção já sabe que a obra vai atrasar e ainda não tem a certeza do custo final, de acordo com Melo. A falta de mão de obra é outro baque para o setor na avaliação do sindicalista.
Segundo Melo, a construção em todo o Estado foi impactada com a migração dos trabalhadores para a obra da indústria de celulose Suzano, em Ribas do Rio Pardo. “Eles estão pagando um valor acima. Estamos importando mão de obra de tudo quanto é lugar, até do Nordeste. O mercado privado vai se acomodando, mas não está nada bom”, comenta Melo.
Locação – Quem investiu e tem imóveis prontos para alugar, por sua vez, encontra um cenário positivo, segundo o presidente do Secovi-MS (Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul), Marcos Augusto Netto. “Apesar da alta na taxa de juros, os valores ainda estão cabendo no orçamento das famílias e o mercado está avançando”, explica.
No primeiro semestre deste ano, o Estado registrou recorde de financiamento de imóveis, com R$ 1,14 bilhão em negócios, segundo a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).