Custos inviabilizam atividade de auxiliar de mototáxi e provocam debandada
Queda no movimento, concorrência, preços defasados, aluguéis caros e mais recentemente o aumento dos combustíveis tornaram para muitos a atividade de auxiliar de mototaxista inviável. Profissionais e representantes da categoria afirmam que a soma de todos esses fatores tem provocado uma “debandada” no setor.
“A praça acabou, quebrou. Nós estamos vivendo momentos terríveis da nossa classe. Nós não suportamos. Como vamos ficar o dia inteiro trabalhando para ganhar às vezes R$ 30”, questiona Dorvair Boaventura Caburé, presidente do Sindmototáxi (Sindicato dos Mototaxistas de Campo Grande”.
Ele explica que o setor se organiza da seguinte forma: a prefeitura disponibiliza um número determinado de alvarás. Esses permissionários podem “terceirizar” a função a auxiliares normalmente cobrando aluguéis pelo uso do ponto e dos veículos. A transação é legal e os condutores devem se registrar na Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito).
“Há mais de dez motos paradas em alguns pontos pela falta de interesse em atuar como auxiliares. Só aqui no sindicato eu tenho duas. O cara não aguenta. A maioria migrou para o transporte por aplicativo e outros voltaram para suas antigas profissões”, diz Caburé.
A chegada do Uber na cidade, segundo ele, aumentou a lista de problemas que começa pelos valores das corridas, que são tabelados pelo município e calculados em cima da quilometragem rodada. O preço inicial ao embarcar um passageiro atualmente é R$ 3,50 e foi atualizado pela última vez em 2014.
“Eu fiz um pedido de reajuste à Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), mas está difícil. Em um momento tão difícil como agora, é claro que era preciso ter um aumento, principalmente porque o combustível, que estava regredindo, agora vai ter uma alta que vai gerar um impacto”, afirma o líder sindical.
Do ponto ao balcão – Celso Pereira, 56 anos, trabalhou como auxiliar de mototaxista de 2014 até meados de março neste ano, quando mudou de emprego e tornou-se recepcionista. No começo, segundo ele, era possível tirar R$ 2 mil livres, mas os ganhos foram caindo até tornar o ofício inviável para sustentar a família.
“A grande dificuldade foi a queda no movimento. Eu trabalhava na esquina da Marechal Rondon e 14 de Julho, rodeado de mototáxis, táxis e depois Ubers. Eu não era permissionário e pagava R$ 600 por mês de aluguel e não fazia nem R$ 60 por dia, daí começou a apertar”, lembra.
Na avaliação dele, o ofício atualmente só está compensando para quem é permissionário. “Para quem é casado e tem família, trabalhar como auxiliar não dá. Tem que ser solteiro e não ter compromisso nenhum, com nenhum tipo de custeio pessoal”, diz Celso.
Segundo ele, alguns donos de alvarás estão cobrando muito caro para o uso do ponto. “Tem alguns que exigem R$ 1,4 mil para locais 24 horas. Isso é um absurdo, não poderia passar de R$ 800 nesses locais e até R$ 400 em pontos que funcionam R$ 12 horas. A questão é que não há norma que limite o valor do aluguel”, pontua.
A chegada do Uber veio apenas agravar a situação, uma vez que o movimento nos pontos de mototaxi após a implantação do aplicativo na cidade despencou pela metade.
Hoje Celso se diz satisfeito onde trabalha, com carteira assinada e ganhando um valor fixo no fim do mês capaz de custear as despesas. “Antes, no meu caso, eu não podia nem fazer um compromisso porque não sabia se ia entrar dinheiro ou não para pagar”, completa.