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Economia

Esperança é a última que morre para quem assiste centro virar cemitério

Lamento de trabalhadores do comércio se apoia no chão frágil da esperança de que a pandemia vá embora logo

Izabela Sanchez e Clayton Neves | 18/03/2020 13:03
Esperança é a última que morre para quem assiste centro virar cemitério
Todos os vendedores desta loja capturados no momento em que nenhum atendeu cliente (Foto: Henrique Kawaminami)


É fácil caminhar no chão novo da Rua 14 de Julho. Não há movimento, vendedores postam-se na frente das lojas, braços cruzados, a espera do cliente. Recém-requalificada, a principal passarela do comércio em Campo Grande não teve muito tempo de colher os frutos do calçadão modernizado. Rapidamente esvaziou. Em época de pandemia, na perspectiva amedrontada de quem depende de comissão para pagar as contas, a esperança é a última que morre para quem vê o centro virar um cemitério.

Nem uma semana completa se passou para que já fossem confirmados 6 casos, em Campo Grande, da doença causada pelo novo coronavírus  – números divulgados na terça-feira (17) – e para que desde o último sábado (14), o movimento já em queda, minguasse até quase desaparecer.

Cemitério foi a palavra usada por uma vendedora entrevistada pelo Campo Grande News, nome grave numa época em que há temor pela vida. Mas esperança foi palavra unânime: todos, apesar de terem muitos motivos para desespero, esperam pela época ainda porvir, substituta da dificuldade.

Enquanto ela não vem, ainda assim, o medo é justamente pela dependência das comissões de venda e até pelas possíveis demissões de pessoal. Há a impressão geral de que é um cenário inédito. Pessoas que trabalham há mais de 20 anos no comércio disseram nunca terem visto nada parecido, nem durante as épocas de crise econômica.

Esperança é a última que morre para quem assiste centro virar cemitério
Sirlei vê movimento em queda na loja de cosméticos que gerencia na 14 de Julho (Foto: Henrique Kawaminami)

Em uma loja de cosméticos da Rua 14 de Julho, a gerente Silei Mariotti afirma que já no final de semana o movimento começou a cair. Depois desta segunda-feira (16), a queda foi ainda mais acentuada. “Não normalizou mais”, disse, citando redução de 40% nas vendas.

Álcool em gel 70% já não está disponível para compra e todo o estoque foi feito para os trabalhadores, deixado para higiene que tranquiliza os clientes. “Financeiramente tem sido meio difícil e até agora estamos pensando no que vai ser feito”, disse. Entre as medidas, cita, a redução de horário de trabalho e funcionamento da loja está na lista.

Claudia de Souza, 45, trabalha com comércio há 25 anos e é vendedora na loja há 4 anos. “Não lembro de outro período tão difícil”, disse, ao lembrar do primeiro surto de gripe A H1N1.

Em uma loja de roupas, a gerente que trabalha ali há 7 anos anos, Gleyci Campos, 35, também acompanha a queda, sem ter muito o que fazer, desde sábado. Ela trabalha há 17 anos no comércio.

“Para um comissionado e para quem depende de vendas a expectativa sempre é melhor, sempre alta, infelizmente agora está bem difícil”, disse. Segundo ela, a loja até decidiu reduzir a meta estabelecida para os vendedores. “No ano passado estava ruim e agora está péssimo”.

A loja em questão está desde ontem fechando uma hora mais cedo.


Esperança é a última que morre para quem assiste centro virar cemitério
Elda nomeou o cenário que vê na 14 de Julho nesta quarta-feira (18): cemitério (Foto: Henrique Kawaminami)


Cemitério - A vendedora Elda Reis, de 31, contou estar muito próxima de bater a meta, mas que há três dias “o centro está um cemitério”. Com a falta de clientes, sem comissão, o jeito é não comprometer contas fixas com ganhos adicionais. “Tento não contar com a comissão nas contas, tento me adaptar com o salário fixo e guardo o que vier a mais”, disse.

“Com todo esse momento vendedor vive de esperança”, sintetizou. “A gente espera que essa fase vai passar logo”, comentou.

Em uma loja de acessórios com várias unidades, a gerente Raquel Louzada, 32, disse ter sentido impacto de 70% nas vendas de todas as lojas. “As lojas sempre foram cheias e agora estão vazias, o cliente está apreensivo e com medo”, comentou.

Segundo ela, a loja tomou precauções, retirou provadores, colocou álcool gel a disposição e agora, resta “esperar”. “A gente está esperando é que essa epidemia passe logo porque tem sido catastrófico para o comércio”, comentou.

Esperança é a última que morre para quem assiste centro virar cemitério
"Esperança é a última que morre", disse Tainá (Foto: Henrique Kawaminami)

Esperança é a última que morre - A vendedora Tainá Nogueira, 24, aposta na gentileza e na criatividade para fisgar os poucos clientes que ainda restam em meio “ao movimento que está caindo muito”. “Isso é motivo de preocupação, mas esperança é a última que morre e nossa expectativa é que passe logo esse surto, todo o comércio na 14 depende disso”,

“A gente aposta em atitudes para cativar o cliente. É preciso deixar ele mais confiante na loja e o atendimento sempre tem que melhorar”, pontua.

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