Integração entre culturas é aliada contra seca e pode dobrar produção
Com a integração de lavoura e pecuária, a produção de carnes e grãos de Mato Grosso do Sul deve dobrar até 2035. A estimativa é de pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Embora sejam inúmeros os benefícios do sistema, que é um forte aliado contra os danos da estiagem, muitos produtores ainda resistem a utilização do sistema, que consiste em plantar capim junto com os grãos e a área de soja com integração em Mato Grosso do Sul não passa de 15% do total de 2,3 milhões de hectares plantados, segundo o pesquisador Júlio Salton.
Quando o agricultor planta somente milho depois da safra de soja, vai colher cerca de 4 toneladas por hectare, mas se agrega o capim o volume sobe para até 10 toneladas, o que representa aumento de 150% na produção, segundo o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa, Ademir Hugo Zimmer. O sistema só traz benefício segundo ele, pois reduz algumas pragas, plantas daninhas, retém mais umidade para a soja subsequente.
“Surpreendentemente, do ano retrasado para esse último ano nessa região de Nioaque, Maracaju, Rio Brilhante e Sidrolândia houve um incremento de mais de 150%, na minha opinião. Eu nunca tinha visto tanto milho com braquiária como foi nessa última safrinha”, comenta Ademir, ao explicar que quando se tem a palha junto com o milho no ano normal se pode colher três sacas de soja a mais e quando falta chuva se tem de 12 até 15 sacas a mais. “Isso porque retém água, cicla mais nutriente, protege mais o solo e evita algumas pragas, principalmente as ervas daninhas, diminuem de 80% a 90%”.
Os benefícios são atraentes também para pecuaristas, pois dá para sequestrar mais CO², o solo é beneficiado com matéria orgânica, reduzem gases do efeito estufa e a presença da pastagem melhoram a estrutura do solo, penetração de água. “É tudo que se quer, principalmente quando entra também a plantação de árvore, dá para tirar da atmosfera até duas toneladas de gás carbônico por ano”, comenta Ademir.
São mais de 20 anos de pesquisa sobre integração lavoura e pecuária e recentemente começaram estudos sobre a inclusão da floresta, segundo Júlio. Embora chegue a passos lentos nas fazendas, a tecnologia é o futuro das cadeias produtivas na opinião do pesquisador. “Para inserir essa integração o produtor tem que se informar, contar com assistência técnica. Tem que investir para poder ter retorno. De todos que conhecemos, nenhum que começou a fazer integração deixou de fazer. Não voltou atrás, porque o negócio é bom, dá trabalho mas dá dinheiro”, diz Júlio.
Variedades de capim, que podem ser chamados de forrageiras, lançadas recentemente foram apresentadas pela Embrapa no Showtec, evento agropecuário ocorrido ente os dias 21 e 23 de janeiro, em Maracaju, a 160 quilômetros de Campo Grande. Produtores interessados em mais informações e orientações podem procurar a instituição, nas unidades de Corumbá, Dourados ou Campo Grande.
O especialista lembra que há linhas de crédito para esse fim, mas a adesão ao sistema depende da decisão de cada produtor. “Mas isso terá que ser feito, porque a soja passa a ter mais capacidade de enfrentar veranicos e a pecuária é muito mais produtiva. Então você triplica a produção pecuária”, destaca Júlio.
De todo modo, os produtores devem aderir cada vez mais ao sistema, por conta dos benefícios em tempos de estiagem, na avaliação de Júlio. “Em lavouras com esse sistema, a soja resite mais a períodos sem chuva, porque usa as forrageiras com aquelas raízes cumpridas. A planta morreu, aquelas raízes vão morrer e com isso deixam canais por onde a água infiltra, faz irrigação do solo e também a raiz da soja aproveita para ir mais fundo e se vai mais fundo pode buscar água em camadas mais profundas”, explica o pesquisador, ao lembrar de áreas que chegam a ficar 15 ou 20 dias sem chuva no Estado.