Em cidade pantaneira de MS, médicos do Einstein atendem pacientes do SUS
População troca tempo de estrada até Capital por atendimento na tela do computador
Para tratar uma bursite com ortopedista e a ansiedade com um psiquiatra, o eletricista Rafael Casanova, 46, levantava da cama às 2h da manhã e viajava 220 quilômetros de Miranda até Campo Grande porque, na cidade onde mora, não há esses especialistas. O estado ansioso dele só piorava por ficar até dois dias sem trabalhar em função disso.
O mesmo acontecia com a diarista Sirlei Santos, 47, que madrugava para levar o filho Wesley, 21, cadeirante e com paralisia cerebral, para ser avaliado por um médico da Capital. Por causa da condição, ele detestava viajar. "Gritava o caminho inteiro. Era supercansativo fazer esse trajeto a cada 15 dias no começo e, mesmo depois, de seis em seis meses", ela conta.
Eles vivem na área urbana de Miranda, a primeira região do município pantaneiro onde foi implantada no SUS (Sistema Único de Saúde) a consulta médica a distância no pós-pandemia. Agora, ela não é mais medida para evitar a covid-19, e sim para minimizar a peregrinação por atendimento até a Capital.
Médicos do Einstein - Desde abril deste ano, Rafael e Wesley foram dois dos 178 pacientes atendidos através da tela do computador instalado na ESF (Estratégia de Saúde da Família) Rosalino Pereira Dantas. Os médicos com quem se consultaram são especialistas do Hospital Albert Einstein, que fica em São Paulo (SP).
Profissionais da neurologia adulta e pediátrica, cardiologia, pneumologia, endocrinologia, reumatologia e psiquiatria da instituição privada ouvem os pacientes do SUS, receitam remédios e pedem exames, quando preciso. A parceria é possível graças a programa federal, que prevê isenção de impostos ao setor privado em troca do serviço.
Em outros 17 municípios de Mato Grosso do Sul, a teleconsulta está disponível nos mesmos moldes em pelo menos uma unidade de saúde. A SES (Secretaria Estadual de Saúde) reconhece que são regiões carentes de recursos médicos especializados. A maioria está localizada na região de fronteira com a Bolívia e Paraguai.
Em Guia Lopes da Laguna e Nioaque, proposta igual está em fase de implantação. O secretário de Saúde de Mato Grosso do Sul, Maurício Simões, promete que haverá aumento de 20 para 40 em quantidade de cidades onde há acesso a esse serviço. Estão nesse pé Ribas do Rio Pardo e Inocência, onde a população é impactada pela construção e anúncio de fábricas de celulose, e Três Lagoas, que já tem atividades nesse sentido e apresentou resultados em um congresso, citou o titular da pasta.
Aprovação - "No início, as pessoas ficaram com um pouco de receio", admite a secretária municipal de Saúde de Miranda, Rosemeire Lopes. "Mas a gente começou a divulgar bem e o povo está até procurando esse tipo de atendimento. Gostaram e estão preferindo do que ir para a Capital", continua.
A secretária afirma que os moradores de Miranda sentem a resolutividade das consultas pelo computador. "Veem que não fica só na tela. Vai para o papel, vira pedido de exame, receita de medicamento", explica. Detalhe que dá mais segurança aos pacientes e ela cita é a presença do médico da unidade mirandense ao lado do paciente enquanto a teleconsulta acontece. O profissional local participa de todo o processo.
"Para dizer bem, eu amei. Não tenho mais a dificuldade de acordar de madrugada. Os exames e remédios que ele [o médico de São Paulo] passa para a gente são bons", diz Sirlei. Rafael também aprova.
A teleconsulta não acaba definitivamente com as viagens até Campo Grande ou outro polo de saúde em Mato Grosso do Sul, já que alguns casos exigem o atendimento presencial. Isso é avaliado pelo médico da unidade onde o paciente busca por uma consulta.
Aldeias - Um dos pontos principais do programa que prevê as teleconsultas é a chegada desse suporte tecnológico às aldeias de Mato Grosso do Sul e dos outros Estados que aderiram ao convênio com o Hospital Albert Einstein.
A SES não informou se a população indígena dos 18 municípios onde ele está presente já tem acesso. O secretário de Saúde do Estado comentou que, implantado, esse serviço precisa estar de acordo com a cultura das etnias. "Tem que adequar a linguagem à cultura. Chamar pessoas que conheçam a cultura para ajudar a desenvolver. Se você não abordá-los com uma linguagem própria, é uma situação que não vai avançar", disse, durante evento na última quarta-feira (16).
Já a secretária de Saúde de Miranda afirma que o município está em vias de levar a teleconsulta às unidades das regiões rurais, que incidem nas aldeias. No município, vivem indígenas das etnias kinikinau, kadiwéu e terena.
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