Arte que se espalha em muro “abraça” curiosos na pandemia
Após dias pintando, a forma como a artista plástica e arquiteta Natacha Figueiredo fez o desenho é que gerou curiosidade.
Uma vila antiga, com aspectos da arquitetura europeia e paisagismo entre paredes, portas e janelas, se multiplica a cada passeio do olhar pelos traços da obra recém finalizada pela artista plástica e arquiteta Natacha Figueiredo, na Rua Doutor Paulo Machado, em Campo Grande. O movimento marcado no muro em tinta preta tem atraído curiosos e virou “abraço”, segundo a artista, para moradores antigos que não colocam a cara para fora de casa em meio a pandemia.
É uma criação que, para além de trazer um valor estético à fachada de um escritório de arquitetura, tem dois objetivos bem delineados.
Ao mesmo tempo em que conta uma história da relação do lugar com a arquitetura e o paisagismo, dando peso de criatividade, os traços delicados que foram surgindo ao longo dos dias nessa quarentena virou distração, especialmente para a vizinhança, que viu de perto o avanço da obra e todo dia perguntava o que a artista fazia por ali.
“Tinha uma moradora que até tomava café comigo, alguns passavam e perguntavam o que eu estava fazendo. Outros, ao verem eu pintando até no período da noite, com um refletor e uma escada, passavam gritando pedindo para que eu fosse para casa. Mas cada traço naquele muro era um desafio emocionante”, descreve a arquiteta Natacha Figueiredo, autora do desenho.
Na visão de Natacha, esse foi um dos seus maiores desafios como artista grafiteira, já que o spray foi deixado de lado e ela escolheu pintar o muro com mais de 10 metros todo com pincel fininho. “Foi a primeira vez que fiz uma obra com um pincel tão pequeno em muro, o maior que eu já fiz dessa maneira. Foi demorada, mas foi a forma que eu encontrei de levar mais delicadeza ao muro, aos desenhos.”
O muro virou tela para a obra de arte depois que a proprietária do escritório de arquitetura, Ateliê 1285, Ludmila Vasco, decidiu parar de lutar contra pichação em seu muro.
“Desde que me mudei para aquela casa, onde hoje na verdade é o nosso escritório, eu sempre vi o muro ser pichado. Eu passava tinta e, em poucos dias, surgia a pichação. Foi quando eu resolvi nem investir mais na fachada.”
Durante muito tempo o investimento dela e das sócias foi somente no interior do escritório. “Eu cheguei a cogitar uma pintura nova, fachada mais moderna ou revestimento, mas abandonei por medo que pichassem de novo.”
Mas, tratando-se de arte, Ludmila acredita que exista um respeito. “Se o muro é uma tela em branco, percebi que sempre haverá uma pichação. Foi quando eu decidi colocar nele arte, especialmente o grafite” diz a arquiteta, que acredita na conexão e respeito da pichação com a linguagem artística.
A pandemia também impulsionou, lembra Ludmila. “Tudo isso que está ocorrendo no mundo fez muita gente colocar em prática sonhos antigos.”
Logo no início da pandemia, a arquiteta e as sócias sentaram com Natacha para conversar sobre a obra. “Não queria nada clichê, mas algo que remetesse à arquitetura, ao nosso trabalho, ao nosso amor por ele”.
Quando a artista chegou com o croqui e as referências de uma arquitetura europeia desenhadas à mão numa folha grande de papel, Ludmila se apaixonou. “Na hora eu me encantei, a Natacha conseguiu desenhar exatamente o que a gente sonhava.”
Após muitas horas e dias de trabalho, sobe e desce de escada, suor e muita explicação aos curiosos, Natacha terminou a obra que quebra a rotina do olhar de quem passa na frente do escritório. “É muito bacana ver as pessoas curiosas, tirando foto, tentando entender a história contada através dos traços”.
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