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Arquitetura

De arquitetura singular, escola passa por primeira reforma profunda em 50 anos

Construído quando MS ainda era MT, prédio da Escola Estadual Lúcia Martins Coelho é relíquia em meio a projetos padronizado

Tainá Jara | 25/07/2019 08:24
Fissuras no teto da quadra de esportes demonstram necessidade de reforma (Foto: Kisie Ainoã)
Fissuras no teto da quadra de esportes demonstram necessidade de reforma (Foto: Kisie Ainoã)

Claraboias e janelas largas para iluminação natural e resistentes vigas de concreto à mostra. As estruturas parecem conceito de arquitetura da onda sustentável, mas há quase 50 anos já era ideia dos arquitetos responsáveis pelo prédio da Escola Estadual Lúcia Martins Coelho, localizado na Rua Bahia, no bairro Jardim dos Estados, em Campo Grande.

Inaugurada em março de 1971, na gestão do ex-governador Pedro Pedrossian, a unidade passa pela primeira grande reforma, para se adequar às normas de acessibilidade e envernizar sua história. Segundo o governo do Estado, responsável pela obra, o projeto será concluído no final do ano.

Os anos sem grandes intervenções são comprovados pelo engenheiro Marco César Costa Cardoso, responsável pela execução da obra, ao mostrar as inúmeras fissuras inscritas nas grandes formas geométricas de concreto que encobrem o ginásio do colégio. “Os sinais na laje são assinaturas dos problemas do prédio”, explica.

Reservado para a práticas esportivas, o espaço começou a receber cara nova de fora para dentro e ainda deve passar por intervenções até dezembro de 2019, data em que SED (Secretaria de Estado de Educação) prevê para finalizar a reforma de todo o colégio. São R$ 2,9 milhões em investimentos, sendo cerca de R$ 800 mil dos cofres federais. A intervenções vão contemplar cerca de 400 alunos de uma das instituições mais antigas e tradicionais da Capital.

Anfiteatro, banheiros, cantinas e salas de aulas passam por revitalização e as mudanças fazem parte desde o início do ano letivo de 2019 da rotina de alunos e funcionários. A reforma começou no final do ano passado, durante as férias de verão.

Além da estrutura para receber pessoas com deficiência, o prédio ganha projeto de pânico e incêndio com certificação do Corpo de Bombeiros, impermeabilização de toda cobertura, instalação elétrica e hidráulica, reforma do auditório, troca de piso e pintura geral. 

Reforma também prevê recuperação do telhado da escola. (Foto: Kisie Ainoã)
Reforma também prevê recuperação do telhado da escola. (Foto: Kisie Ainoã)

Singular - Para Marco César, interferir na estrutura é uma grande responsabilidade. “É um local de interesse histórico. Pode mexer, mas não em tudo”, explica.

Inaugurada durante o governo de Pedro Pedrossian, quando Mato Grosso do Sul ainda era só Mato Grosso, a escola tem arquitetura singular, projetada pelos arquitetos paulistas Raymundo de Paschoal, Haron Cohen, Antonio Foz e Laonte Klawa, em 1969.

Conforme o arquiteto e pesquisador Ângelo Arruda, o edifício é um grande exemplar da chamada arquitetura brutalista paulista, predominante no cenário brasileiro nos anos 1960. “O uso do concreto armado e aparente é a sua tônica com a expressão bruta do material e Campo Grande tem vários exemplares importantes”, explica.

Paulo Mendes da Rocha, ainda vivo, é um dos principais representantes deste movimento. Além dele, João Batista Vilanova Artigas, falecido em 1985, também foi um dos protagonista do movimento. Ele é responsável pelo projeto da sede da Agepan (Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos de Mato Grosso do Sul), localizado na Avenida Afonso Pena.

Conforme Arruda, a Escola Lúcia Martins Coelho foi construída em um contexto em que novas dependências eram introduzidas, como laboratórios, refeitórios etc, frutos das mudanças na política educacional nacional. O concreto armado e a feição moderna, características da radicalização do movimento modernista na arquitetura podem ser vista no prédio.

O projeto único é um dos últimos executados antes da padronização de escolas da rede pública de ensino. Construções deste tipo foram intensificadas durante a gestão de Levi Dias na prefeitura da Capital, no anos 70. Na época, mais de 12 escolas-padrão foram construídas, todas projetadas por Cyríaco Maymone Filho.

Atualmente, a escola está protegida pelo PDDUA (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental), enquadrada na Zeic 2 (Zona Especial de Interesse Cultural), que compreende edificações e conjunto de edificações que possuem valor histórico relevante para a memória da identidade local, regional e nacional, constituindo exemplares únicos, ou um grupo constituído em sua época e com condições de restauração.

Estando nesta lista de edificações, a escola tem protegida telhados e todas as fachadas, assim como ornamentos e características de calçamento externo. Com isto, é possível alterar ap a área interna do prédio desde que não danifique a estrutura ou modifique.

Prédio foi inaugurado em 1951, durante a gestão de Pedro Pedrossian (Foto: Kisie Ainoã)
Prédio foi inaugurado em 1951, durante a gestão de Pedro Pedrossian (Foto: Kisie Ainoã)
Piso tátil nos corredores é para atender pessoas com deficiência visual (Foto: Kisie Ainoã)
Piso tátil nos corredores é para atender pessoas com deficiência visual (Foto: Kisie Ainoã)

Novidades - Entre as melhorias com maior impacto no projeto original do prédio, estão as obras de acessibilidade. Piso tátil já foi instalado nos corredores do piso superior. As portas de acesso as salas ficaram mais largas. São 90 centímetros para que pessoas com cadeiras de rodas possam passar sem problemas.

Banheiros e vestiários ainda passam por obras, mas já têm áreas reservadas para pessoas com alguma deficiência de locomoção. Na cantina, os cadeirantes contarão com um balcão mais baixo. Elevador será instalado na escadaria de acesso ao ginásio. O espaço também contará com rampas.

No auditório, as intervenções apenas começaram com a instalação de portas corta fogo. Toda a rede elétrica foi trocada. Até mesmo a laje passa por obras. Manta impermeabilizante implantada no concreto ajudará a preservar a estrutura e reduzir o calor no interior do prédio. “Mexer nesse prédio é como uma cápsula do tempo”, afirma Cardoso se referindo a diversas camadas encontradas nas paredes e teto da estrutura.

(Reportagem alterada às 13h44 desta quinta-feira)

Confira a galeria de imagens:

  • (Foto: Kisie Ainoã)
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