De fazendeiro a dono de hotel que completa 40 anos, Pedro hospedou 3 presidentes
De família rica, nascido em Fortuna, no interior de São Paulo, ainda na juventude seu Pedro se tornou um homem de posses. Apesar de todo dinheiro em mãos, é em um hotel de 17 andares, que completa 40 anos, que está uma "paixão eterna", diz.
Construído na Rua Barão do Rio Branco, no centro de Campo Grande, em 1976, o primeiro proprietário do prédio foi Equicio de Figueiredo Abath. Anos mais tarde, em 1996, com o imóvel fechado, o paulista Pedro Vieira Góis decidiu comprar o lugar e virar o dono do Hotel Jandaia.
“Eu gostei muito de Campo Grande, a escolha do hotel foi pela região. É no coração da cidade, bem no Centro. Quem passava por aqui poderia aproveitar tudo a sua volta”, justifica Pedro.
Para um homem de 83 anos, seu Pedro tem energia de sobra. Não abre mão de trabalhar todos os dias. No hall de entrada, o jeito simples e todo simpático mais parece de um hóspede. Quando o Lado B encontrou seu Pedro pela primeira vez, na frente do hotel, ele se apresentou como funcionário, sem revelar a verdade sobre a ligação com o estabelecimento.
Depois, topou dar entrevista, mas antes de qualquer palavra, passou para tomar o café da manhã no salão, como faz todos os dias. “Só consigo conversar comendo umas frutas”, brinca. Do trajeto que faz do escritório até o segundo andar, seu Pedro se dedica a cumprimentar os hóspedes e falar com algum funcionário sempre que pode. Quem é hóspede já o conhece de longe e não se intimida em lhe dar um abraço.
Ele diz que a simplicidade é o que faz os dias serem sempre os melhores ali. “De fato, aqui ninguém é dono de nada. Eu trato meus funcionários como se fossem meus filhos, eu sou muito justo e eu não vou tirar um grão de arroz da boca de ninguém. Eu tenho que ser humano, ser rico em saúde e honestidade. Não tenho o porque querer esbanjar nada”.
Enquanto mostra cada cantinho do hotel com orgulho, fala do encanto em ter escolhido a região certa. “Veja só, estamos no centro e isso é maravilhoso. Temos de tudo por perto”, diz.
O amor pelo o hotel é tanto que, depois de um tempo, Pedro comprou um apartamento em frente ao Jandaia. Basta atravessar a rua e já está no trabalho. Da cobertura do prédio em que mora vê o hotel todos os dias e faz a caminhada diária dentro da própria casa. “Meu apartamento é grande, tem 400², posso caminhar lá dentro mesmo, depois desço pra tomar o café da manhã e trabalhar”.
Com 2 filhos, 6 netos e 8 bisnetos, Pedro administra o hotel ao lado do filho Valdir Vanderlei Vieira. Apesar do título de patrão e cerca de 60 funcionários, o senhor baixinho, de cabelos brancos, faz questão de cuidar de perto o que é da família. "Eu administro bem meus 83 anos e não consigo ficar sem trabalhar. Só que pra ser hoteleiro tem que olhar no rosto, cumprimentar e ajudar as pessoas. Ser um homem de bem”, ensina o dono que direto pega a vassoura pra ajudar a varrer o estacionamento que pra ele é o quintal de casa.
Pecuarista por influência dos pais, Pedro chegou aqui em 1994 com a esposa, com quem é casado há 61 anos, e os filhos. “Quando eu vim pra cá, tinha boas amizades. Naquela época se falava em terra boa e mais ou menos baratas. Eu vendi terra que era valorizada em São Paulo e decidi vir pra cá”, lembra.
Exibindo um velho jornal guardado no escritório, ele lembra de um dos momentos importantes assim que chegou na cidade. "Concluí o curso de piloto aqui em Campo Grande, eu e meu filho. Nessa matéria está o dia do batismo", mostra. Naquele ano, ele e o filho Valdir receberam o banho de óleo no Aeroporto Internacional de Campo Grande que simbolizava o batismo e a conclusão do curso.
Pedro também investiu na compra de lotes e construiu casas na cidade, até que um dia soube que o Hotel Jandaia estava à venda e ele já andava a procura de motivação para mais trabalho. “Sempre fui fazendeiro, mas acho que também viver disso é para quem tem a vivência ali dentro da fazenda. Eu já estava na cidade, meus filhos começaram a crescer, se formar e eu vi nesse hotel uma oportunidade”, conta.
Depois de fechar a compra do edifício, chegou a vez de dar cara nova ao Jandaia. O hotel que já era conhecido por receber a alta sociedade, receberia uma reforma luxuosa e um evento marcante na reinauguração em 1996.
Pedro lembra que só havia o prédio. O espaço onde hoje funciona a recepção e o anexo com sala de jantar, academia e espaço para jogos, foi ele quem mandou construir. Em toda a esquina estavam ainda as casas antigas, que deram lugar ao estacionamento e áreas do hotel.
“Fiz uma parte nova. Comprei dois terrenos da esquina e eu só não mudei o nome do hotel porque achei o nome muito simpático. Porque Jandaia? Não sei porque a escolha, mas é o nome de um pássaro lindo”, comenta.
A reinauguração formal foi no dia 12 de outubro de 1996. A escolha da data tem sentido na fé. “Sou católico e nossa família é muito devota de Nossa Senhora Aparecida. Eu sempre achei Campo Grande um lugar abençoado e a gente queria que essa data também fosse”.
A reabertura foi marcada pela presença dos amigos, família e políticos da época. Ao lado de Pedro, estava o ex-governador Wilson Barbosa Martins e o prefeito Juvêncio da Fonseca. Quando o hotel voltou a funcionar, passou a receber os principais visitantes da cidade, de time de futebol, a artistas.
Pedro jura não se envaidecer pela figuras que já passaram por ali, mas tem orgulho do patrimônio que vem cuidando de perto há 20 anos. “De fato isso daqui é uma passagem e tudo que eu faço é porque gosto de viver bem com as pessoas. O pouco que a gente tem é graças a saúde que Deus me deu. Não sou uma pessoa vaidosa, nunca me apeguei muito a quem esteve aqui, sempre tratei todo mundo da mesma maneira”, garante.
Nas memórias, carrega a presença de pessoas famosas que já se hospedaram ali. “Já tivermos três presidentes da república, Fernando Henrique, Lula e Dilma. Também teve Romário, Kaka, Ronaldo, Ronaldinho, Zezé di Camargo e Luciano, Ivete Sangalo, Antônio Fagundes e Jô Soares”, lembra.