Mansão dos Dibo abre as portas ao público transformada pela Casa Cor
As grades caíram e agora são as pedras e o fogo que recebem quem chega a uma das poucas mansões que ainda resistem em pé na Avenida Afonso Pena. A casa da família Dibo não perdeu as características do brutalismo, impressas no projeto de Rubens Gil de Camilo há cerca de 30 anos, mas reabre as portas transformada pela Mostra Casa Cor MS.
Dos 41 profissionais que encararam o desafio de criar 30 ambientes, a maioria tomou partido da casa construída na década de 1980. Os arquitetos se apropriaram de elementos que fazem do lugar uma referência até hoje. O concreto continua aparente nas vigas e no efeito ripado do teto. As claraboias, espalhadas por quartos e salas, permanecem para assegurar a entrada de luz natural. O piso de madeira recebeu lixa e verniz.
Mas nessa repaginada em grandes proporções, a casa ganhou design sofisticado e alguma coisa de identidade sul-mato-grossense. Os índios são os que mais aparecem como referência cultural da região, no artesanato, nas artes plásticas, e até em cantos guarani na trilha sonora escolhida pela arquiteta Luciana Teixeira, para receber os visitantes já na “Garagem de Estar”.
Da aldeia Jaguapiru, em Dourados, ela trouxe trabalhos em palha e penas, para adornar a cadeira Ñanderú, desenhada por Luciana a partir de pesquisas com tecidos tensionados. “Eu uso o neoprene para ter elasticidade e conforto, o que fala muito sobre o jeito de morar sul-mato-grossense”, explica.
A identificação com esse jeito de viver surge, inclusive, nas obras escolhidas para dar identidade aos espaços. A arte já clichê de Isaac de Oliveira não ficou de fora. Mas também há artistas plásticos menos saturados, como o corumbaense Edson Castro.
Eloísa Vacari e Liana Godoy usaram a foto de uma árvore do Parque das Nações Indígenas, do fotógrafo e arquiteto Fellipe Lima. Na Varanda da Família, a imagem recortada e emoldurada é a nossa referência natural em um espaço acolhedor, de vegetação em contraste com pedras vulcânicas negras no chão e com o concreto aparente da estrutura do prédio.
O desing de interiores Douglas Raldi reservou um cantinho no Foyer das Artes para reverenciar a fé, que em Campo Grande tem como um dos símbolos a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Pela casa, estão também muitos sonhos de conforto e tantos outros de ostentação.
A adega tem 300 garrafas de vinhos e espumantes, além de uma versão moderna do antigo gramofone, que veio dos EUA. No mesmo lugar onde antes ficava o depósito de bebidas dos Dibo, a versão dos arquitetos Diego Martins e Diego Rezende reaproveitou parte da marcenaria e tem a mistura de cola, cimento e água para dar cor à parede.
Na suíte do casal, a banheira antiga foi preservada, assim como os vidros que abrem a paisagem que vem de fora. Silvia Cristina Braz e Karla Estrela
Alguns projetos ainda teimam em exibir grandes lustres, pedras caríssimas, lareiras pouco aplicáveis no calor de Mato Grosso do Sul ou tapetes sem sentido, com valores surreais para dias que exigem bom senso.
Mas a beleza de design inovador também aparece, a começar pelos revestimentos que saltam das paredes em nuances diversas, dependendo de onde bate a luz. Alguns são lançamentos, também em valor alto, outros são ideias de quem assina os ambientes.
A cozinha clean, assinada por Jamil Paroschi, não usa pedra ou madeira no tampo de armários ou da pia. A alternativa é uma massa rígida, de textura que parece um couro, mas com durabilidade superior.
Na Sala de Jantar, Malu Bernardes criou um painel em MDF. É um mosaico montado com triângulos em 3 tons, para camuflar a iluminação indireta. Também levou um balanço para a mesa de jantar delicada, de desenho leve, outra vez para contrastar com o peso do concreto aparente.
Pela profunda vontade de Campo Grande ter praia, alguns arquitetos tentaram atingir esse clima usando vidro, luz natural e tons claros.
O restaurante Casa Cor, de Sandra Madeira, tem inspiração náutica. Ocupa o lugar da antiga varanda, camuflou a churrasqueira da família, e usou muito branco e azul para transportar as pessoas ao litoral. Nas paredes, dois grandes jardins verticais são feitos de musgos, vegetação resistente que exige apenas borrifadas diárias de água
Varanda que antes servia apenas de passagem, na Casa Cor MS é outro lugar com atmosfera de praia. O espaço gourmet tem cheiro de manga, estampas que exaltam a fruta e mangueiras em tamanho miniatura, em referência ao Manga Park, local que reúne foodtrucks na cidade e vai movimentar a programação da mostra a partir de sexta-feira, servindo comidinhas diferentes a cada semana.
A Casa Cor MS será aberta ao público no dia 26 de agosto e segue até 9 de outubro, na Avenida Afonso Pena 4025. A visitação pode ser feita de terça a domingo, de 16h às 22h. Os ingressos custam R$ 40,00.
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