Após queixa de deputado, museu vai consultar jurídico sobre exposição
Parlamentar Paulo Siufi (PMDB) achou mostra "erótica" demais para adolescentes de 16 anos
Antes de qualquer alteração na classificação - com indicação etária para maiores de 16 anos - da mostra "Maria Não é Mais Virgem”, o Centro Cultural José Octávio Guizzo deve buscar orientação jurídica. A polêmica que ataca mais um vez, em apenas seis meses, a arte em Campo Grande foi levantada pelo deputado estadual Paulo Siufi (PMDB), nesta quinta-feira (15), que avaliou a exposição “erótica” demais para garotos da referida idade.
A mostra de Lina da Anunciação, que propõe um olhar sobre alguns dos vários elementos que tocam a sexualidade da mulher, inspira o conceito de liberdade e quebra tabu em relação ao corpo da mulher, mas também trouxe à tona a lembrança da exposição Cadafalso, da artista plástica Alessandra Cunha, realizada no Marco (Museu de Arte Contemporânea), de julho a setembro de 2017. À época, deputados estaduais de Mato Grosso do Sul denunciaram as obras alegando apologia à pedofilia e um quadro chegou a ser apreendido.
Nesta quinta-feira, o parlamentar disse a jornalistas, durante sessão na Assembleia Legislativa, que vai pedir a reclassificação da faixa etária da exposição, que foi lançada para maiores de 16 anos. Junto à mostra de Lina da Anunciação, o Centro Cultural José Octávio Guizzo recebe a exposição "Arte - Substantivo Feminino", da artista Priscila Pessoa, com indicação etária para maiores de 18 anos.
Para ele, adolescentes de 16 anos, principalmente do sexo masculino, ainda não estão maduros para esse tipo de exposição. Siufi não visitou a mostra, mas soube por terceiros que se trata da “intimidade da mulher”.
Ao Campo Grande News, a coordenadora do Centro Cultural, Luciana Kreutzer admite que este é um momento em que essas exposições estão sendo muito discutidas, porém, na maioria das vezes sem fundamento nenhum. Diante da fala da queixa do deputado, Luciana afirmou que buscará orientação jurídica.
“Espero que ele, como representante do povo, esteja respaldado por alguma lei. Porque eu acho tão contraditório uma colocação como esta em relação a uma exposição que tem o conceito de liberdade, com tanta coisa explícita na internet, como sexo e violência. É contraditório a proporção da polêmica. Estamos discutindo arte contemporânea. A base da reprodução é o sexo, não entendo porque é tão tabu. Nós vamos buscar orientação com assessoria jurídica”, disse.
A coordenadora rebate o posicionamento do deputado e faz um convite. “O que incomoda tanto? É a arte? A situação explícita? Eu não vejo as pessoas se manifestarem por coisas piores. Podemos nos basear com o cinema, com diversas cenas explícitas, e que a classificação não ultrapassa os 16 anos. Temos que ter respeito em primeiro lugar, respeito a liberdade, para com as outras pessoas. Mas fica o convite para todos virem conhecer a exposição e o contexto das atividades preparadas”, finalizou.
O gerente de patrimônio histórico e cultural da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul) e especialista em museologia e história da arte, Caciano Lima, defende que só “há diálogo quando existe encontro”. Para ele, a queixa do deputado chega à população como um deserviço.
“Os diálogos só existem quando há encontro. É muito fácil criticar sem conhecer. O deputado como representante do povo, conhece o museu ou frequenta espaços de arte? Essa exposição foi montada com conceito e pensada por especialistas da área. Porque quando as pessoas ficam sabendo por terceiros, a informação não chega de forma correta, é como um telefone sem fio. Vejo o comentário de forma negativa, ele deveria incentivar”, desabafou.
O especialista reforça o convite ao parlamentar. “Eu faço um convite ao deputado para que ele vá até a exposição, conheça e perceba que não há nada demais. Ele como representante do povo deveria incentivar as pessoas a participarem das exposições, do conselho estadual de cultura. Dessa forma, ele cria uma imagem negativa das atividades do próprio poder público”, finalizou.
Deputado afirmou que avaliará levar a demanda para o governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Apreendido – Em setembro do ano passado, após mobilização surgida na Assembleia, tendo com um dos participantes o deputado Paulo Siufi, o quadro “Pedofilia” foi apreendido no Marco (Museu de Arte Contemporânea) pela Polícia Civil.
A obra fazia parte da exposição “Cadafalso”, da artista plástica mineira Alessandra Cunha Ropre, e foi levada por suspeita de apologia à pedofilia. A obra foi “inocentada” e devolvida para o museu, que alterou a classificação etária para 18 anos.