Artes feitas por inteligência artificial trazem reflexão sobre ferramenta
Nesta semana, posters no estilo “Pixar” feitos por IA dominaram a internet
Durante os últimos dias, a internet foi dominada por posters no estilo “Pixar” feitos por IA (inteligência artificial). Mas, para além da viralização, há muito o que se pensar sobre os efeitos e modos de usar ferramentas do tipo.
Com pontuações sobre a utilização das ferramentas, o designer e professor universitário Gabriel Quartin e o também designer e desenvolvedor de jogos João Felipe Abraham comentam o tema.
Para Quartin, uma boa forma de começar a pensar sobre inteligência artificial é ao observar o próprio termo. “É riscar a palavra inteligência e focar no artificial. Fica mais fácil compreender no paralelo com a culinária, que já conseguimos distinguir a mais tempo a diferença entre uma massa fresca e um macarrão instantâneo. Resolve, mata a fome, mas sabemos que nutritivo e requintado não tem nada”.
A partir dessa lógica, o professor comenta que esse tipo de ferramenta pode ser positivo ou negativo dependendo da forma com que ela é usada. Na sua avaliação, a inteligência artificial precisa ser pensada como algo que ajuda o usuário a chegar a uma solução maior, ela faz parte do caminho.
“Nesse aspecto, essa ferramenta é maravilhosa, um ótimo poupa tempo. De volta à culinária, posso dizer que um extrato de tomate é muito mais fácil do que ter que pisar nos tomates e facilita fazer seu molho. O problema é usar como peça final, as pessoas estão comendo ketchup achando que estão comendo um macarrão com molho”, comenta Quartin.
Pensando em seu cotidiano, João também comenta justamente pela velocidade dos resultados obtidos. Na área de desenvolvimento de jogos, ele narra que consegue, por exemplo, gerar características básicas para o personagem e gerar uma arte com esses condicionamentos.
“Isso em pouco tempo, questão de dois a três minutos no máximo. Você vê que a agilidade no resultado final é muito grande, mas vale ressaltar que essas imagens que são geradas dificilmente são usadas exatamente da mesma forma com que saiu. Elas vão precisar passar por correções porque a inteligência artificial ainda tem alguns defeitos”, diz João.
Outro aspecto a ser pensado é em que como esse tipo de ferramenta pode ou não precarizar trabalhos de artistas, por exemplo. Nesse sentido, o professor destaca que o mercado já possui a lógica de precarização, entretanto é necessário que os trabalhadores e consumidores não ajudem a acelerar esse processo.
Sem se aproximar de alarmismos, ele pontua que a dica para profissionais da área é que não tenham apenas habilidades que giram apenas em torno de ferramentas. “Seja um profissional que pense o problema, conecte ideias, equilibre a criatividade com a racionalidade e se adapte às novas tendências”.
Já aos consumidores, ele defende a necessidade da consciência sobre o uso das imagens geradas por inteligência artificial, por exemplo. “Tenham consciência de que postar sua arte é um sinal positivo para as empresas de que esse estilo pasteurizado está no gosto do povo”, diz.
Retornando à área de jogos, João pontua que colegas artistas têm se preocupado com a autorização para criar as obras de IA. “O uso indevido das imagens de artistas em bancos de dados por uso da IA é um problema, tanto que plataformas como a Steam, uma das distribuidoras de jogos, têm políticas de proibição de comercialização de jogos que tenham uso IA na criação”.
Especificamente no exemplo citado por João, o uso nessas plataformas precisa confirmar a autorização dos artistas para que seja aprovado.
“Vejo a IA como uma ferramenta que pode auxiliar esses desenvolvedores. Cabe a nós, trabalhadores da área, nos aperfeiçoarmos. Acho muito difícil que essas ferramentas sejam abolidas, é uma coisa que veio para ficar. Acredito que é necessário utilizarmos como ferramenta ao invés de brigarmos com ela”, pontua João.
Na visão do professor, há também uma perda de originalidade com o uso de ferramentas do tipo. “O que as IA fazem é basicamente acessar vários portfólios de artistas humanos, pegar tudo e bater no liquidificador, gerando o suco mais genérico que você pode imaginar. Aqui, podemos traçar discussões de plágio dessas obras, de cair em estereótipos preconceituosos como já acontece ao tentar gerar personagens pretas e indígenas”.
Completando as ideias, Quartin explica que formas positivas de usar as IA partem do uso como ferramentas. “Elas são úteis para tarefas simples, usar para transcrever um texto que você, pessoa humana, vai melhorar depois, pedir palavras chaves para te dar um ponto de partida na sua criação”.
Outras ideias são gerar elementos que podem ser manipulados digitalmente depois e incluir ideias no dia a dia, “ainda assim, tenho ciência que da mesma forma com que estamos voltando ao analógico, as pessoas estão preferindo comida caseira e pagar mais caro no gourmet porque estão cansados do industrial. Em pouco tempo, vamos valorizar mais quem faz algo original do que quem está se especializando em inteligências artificiais”.
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