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Artes

Brincos e colares desenhados com fogo são modinha criada por Elder no Nova Lima

Ele largou o emprego, hoje vive de arte e a meninada do bairro é a maior propaganda

Gustavo Maia | 29/12/2018 08:57
Brincos e chaveiros também recebem pirografia. (Foto: Gustavo Maia)
Brincos e chaveiros também recebem pirografia. (Foto: Gustavo Maia)

Com o acesso à internet a gente acaba conhecendo muita gente criativa que dribla as dificuldades para ganhar um trocado. Foi assim que Elder Matheus, de 21 anos, morador do bairro Nova Lima, encontrou uma forma de sobreviver. Tudo começou quando, há alguns anos, ele se deparou na internet com um pingente de madeira, desenhado com pirografia. A técnica, que é basicamente desenhar na madeira com uma espécie de caneta em brasa, chamou atenção e ele decidiu que poderia fazer aquilo. Na época, Elder trabalhava reformando caixas d’água de metal. E foi no trabalho mesmo que um dia, do nada, ele pegou um pedaço de madeira e com as ferramentas que tinha, uma esmerilhadeira e uma furadeira, fez sua primeira peça. De lá pra cá, não parou mais.

Ele conta que não demorou muito tempo para as encomendas começarem a aparecer, bastou postar 1 vez na internet. “Principalmente o pessoal da dança, que eu conheço, eles usam esse estilo de colar, de brinco”, conta.

Primeiro os pedidos vinham de amigos, vizinhos, e depois de gente que ele nunca tinha visto na vida. Hoje Elder fabrica chaveiros, colares e brincos, tudo de madeira, que há pouco mais de um ano passou a vender sob encomenda. Os desenhos pirografados são os mais variados - desde personagens de desenhos animados como Dragon Ball, Pokemón, Simpsons e Mario Bros, até cópia de fotografias das pessoas.

Elder Matheus encontrou no artesanato sua nova fonte de renda. Hoje ele produz brincos, colares e chaveiros. (Foto: Gustavo Maia)
Elder Matheus encontrou no artesanato sua nova fonte de renda. Hoje ele produz brincos, colares e chaveiros. (Foto: Gustavo Maia)

Mas o trabalho não para por aí. O pirógrafo usado hoje é feito com um fio de carregador de celular conectado a uma agulha de costura. Tudo isso Elder também aprendeu assistindo a vídeos na internet. Agora pretende comprar um pirógrafo profissional, para melhorar a qualidade de suas peças e poder fazer os desenhos com mais detalhes. “É difícil fazer ele dar contato e funcionar. É bem caseiro mesmo. Mas eu consigo modelar a agulha do jeito que eu quero pra deixar os traços finos ou mais grossos”, explica. Antes de construir seu próprio pirógrafo, ele usava uma máquina de solda do seu antigo emprego para gravar na madeira.

Desde o início, ele garante que já evoluiu muito. “Eu guardo alguns dos primeiros que eu fiz, de lembrança. Hoje eu olho e penso ‘caramba, que feio’ e consigo ver a diferença, aos poucos o meu trabalho tá melhorando”, avalia.

Na produção, Elder diz que quase tudo é feito com material reaproveitado, e as ferramentas que não tem, inventa. “Eu pego os caixotes de mercado, que eles jogam fora, e as madeiras que não são muito velhas, que são mais limpas, eu uso. Eu adaptei uma lixa na furadeira, que eu também vi no youtube, eu prendo com cola quente. É um processo até a madeira ficar pronta pro desenho”. A única coisa que ele compra são as miçangas, que também são de madeira, e a tinta usada em algumas peças. “Esses dias eu fiz o troféu pra um evento. Nunca tinha feito, mas me pediram, eu decidi tentar e deu certo”, conta.

Os colares que Elder produz com pirografia. (Foto: Gustavo Maia)
Os colares que Elder produz com pirografia. (Foto: Gustavo Maia)

Sobre o sucesso do empreendimento, com peças hoje no pescoço e nas orelhas da garotada do bairro, ele acredita que foi um processo natural em que “as pessoas foram vendo, comprando, postando foto na internet e aí mais gente via e queria”.

Hoje quem compra as peças de Elder, pode até receber o produto sem sair de casa. “Se for muito longe, eu cobro o valor do passe, porque eu vou de busão. Não tenho outra condução. Mas a maioria das vezes as pessoas vêm buscar. Ou então a gente combina de se encontrar no centro, que fica mais fácil”, explica.

Ele conta ainda que já recebeu encomendas inusitadas, como a de uma mãe que lhe pediu para desenhar na madeira seu bebê, que havia falecido. “Ela mandou uma foto da filhinha dela no caixão, pra eu desenhar. Pra mim foi meio pesado desenhar esse pedido. Acho que a criancinha tinha meses de idade quando faleceu. Mas eu fiz, desenhei umas asinhas de anjo, do jeito que ela pediu. Quando eu entreguei ela ficou super feliz com a lembrança da filhinha dela”, relata.

Mas Elder não vive só do artesanato. Desde os 14 anos ele é da turma do street dance, que agora também faz a propaganda das peças dele. Assim como a arte da pirografia, ele também aprendeu a dançar pela internet. “Sempre gostei de dança de rua, mas nunca tive ninguém pra me ensinar. Tinha uma galera que dançava na escola, mas eles não me davam muita bola porque eu ainda era criança. Mas eu não tava nem aí: passei um ano vendo vídeo na internet e treinando sozinho. Depois disso eu conheci a galera do Real Beat Breakers, que já dança há muito tempo. E aí depois que eu aprendi, nunca mais parei, e isso já faz sete anos”, conta.

Quem quiser conferir mais sobre as peças pirografadas do Elder, e até fazer encomendas, é só visitar o perfil dele no instagram. Quem sabe você não se interessa e decide aprender também.

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Produção artesanal: colares pirografados por Elder são feitos em casa com material reaproveitado. (Foto: Gustavo Maia)
Produção artesanal: colares pirografados por Elder são feitos em casa com material reaproveitado. (Foto: Gustavo Maia)
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