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Artes

Capital ganha murais gigantes feitos com as cinzas do Pantanal

As obras são uma homenagem aos brigadistas florestais e estão sendo feitas no Aero Rancho e Vila Nasser

Por Idaicy Solano | 05/07/2024 06:10
Grupo uniu forças para tirar imagem do papel e trasnformar em arte no muro da escola (Foto: Alex Machado)
Grupo uniu forças para tirar imagem do papel e trasnformar em arte no muro da escola (Foto: Alex Machado)

Com o intuito de fazer a população refletir e questionar as queimadas que estão acontecendo não apenas no Pantanal, mas também em outros biomas brasileiros, escola e residencial em Campo Grande ganham esta semana pinturas feitas a partir das cinzas das queimadas do pantanal sul-mato-grossense e da Mata Atlântica.

A iniciativa é a Parede Viva, por meio do ‘Festival Parede Viva - Edição Cinzas da Floresta’, que conta com apoio da RNBV (Rede Nacional de Brigadas Voluntárias) e Mina Cultura. As obras são uma homenagem aos brigadistas florestais, que realizam um trabalho fundamental contra o fogo e pela preservação ambiental

São sete artistas envolvidos na pintura de um mural, na parede da Escola Municipal Licurgo de Oliveira Bastos, no Bairro Vila Nasser, e na lateral do prédio do Conjunto Residencial Aero Rancho, na Avenida Vereador Thyrson de Almeida.

A artista visual Lua Maria, 27, explica que para criar as tonalidades que vão tingir as paredes, estão sendo utilizadas as cinzas das queimadas no Pantanal e na Mata Atlântica, misturadas com verniz e tinta. Ao todo, são sete artistas envolvidos no trabalho, divididos em duas equipes.

O artista Victor Macaulin é o responsável pela imagem que está sendo pintada na empena do edifício localizado no Bairro Aero Rancho, o terceiro mais populoso de Campo Grande. O trabalho teve início na segunda-feira (1°), e segue até sábado (6). A obra será dividida em duas empenas, cada uma com 57,2 m². O prédio escolhido é de moradia popular, no qual vivem mais de 200 famílias.

Pintura no prédio do Conjunto Residencial Aero Rancho (Foto: Divulgação)
Pintura no prédio do Conjunto Residencial Aero Rancho (Foto: Divulgação)
Serão duas empenas pintadas no Aero Rancho (Foto: Divulgação)
Serão duas empenas pintadas no Aero Rancho (Foto: Divulgação)

As imagens retratadas no mural na Vila Nasser são de autoria da artista Alice Hellmann, 33, de Bonito. O trabalho retrata vários cenários dos balneários da cidade de Bonito, cavernas de Bodoquena, as margens do rio Formosinho, além da fauna presente no Pantanal. Na tarde desta quinta-feira, em simultâneo com o trabalho sendo realizado na parede, os alunos da escola também participaram de oficinas de pinturas, promovida pelo coletivo de artistas.

Alice detalha que foram horas de trabalho, fazendo os desenhos em folhas, utilizando carvão, a partir da observação direta da natureza, antes deles serem reproduzidos no mural. “Os desenhos foram feitos olhando as árvores por muitas horas, uma experiência biofílica. Para mim também foi um desafio ficar sentada, olhando, desenhando a mão, sair do tablet um pouco, do desenho digital. Então eu tentei levar o material também para essa área de criação, criar o desenho orgânico”, detalha a artista.

Uma parte do mural também retrata a imagem dos brigadistas que estão na linha de frente do combate ao fogo, além do artista paulista Mundano, entre os brigadistas, recolhendo as cinzas que estão sendo utilizadas nas pinturas.

Imagens retraram a fauna e a flora sul-mato-grossense (Foto: Alex Machado)
Imagens retraram a fauna e a flora sul-mato-grossense (Foto: Alex Machado)
Cinza das queiamdas sendo misturada na tinta e no verniz (Foto: Alex Machado)
Cinza das queiamdas sendo misturada na tinta e no verniz (Foto: Alex Machado)
Pintura foi feita inicialmente em papel A4 com carvão (Foto: Alex Machado)
Pintura foi feita inicialmente em papel A4 com carvão (Foto: Alex Machado)

Alice explica que não quis destacar a destruição, e sim transmitir esperança e o sentimento de que se deve proteger a biodiversidade, tanto no Estado, quanto fora dele. A artista conta que a movimentação atraiu muitos olhares curiosos e o questionamento se a pintura será apenas em preto, branco e cinza. Ela explica que o fato da pintura ter apenas as texturas das cinzas misturada na tinta,  é justamente para provocar a reflexão.

“Quando a gente conta que tá pintando com as cinzas da floresta, alguém vem e fala, ‘mas o Pantanal tá pegando fogo?’, e aí a gente já abre esse diálogo. A ideia é que esse impacto chegue na área urbana. Vai que inspira uma pessoa a se voluntariar pra uma brigada de incêndio. A gente tá querendo assim, plantar essa ideia, de salvar as florestas. A gente tem sentido essas ondas de calor, então acho que é o momento de falar sobre isso”, finaliza.

Detalhes serão feitos todos em preto e branco (Foto: Alex Machado)
Detalhes serão feitos todos em preto e branco (Foto: Alex Machado)
Em meio aos brigadistas, o artista Mudano retratado recolhendo as cinzas utilizadas no projeto (Foto: Alex Machado)
Em meio aos brigadistas, o artista Mudano retratado recolhendo as cinzas utilizadas no projeto (Foto: Alex Machado)
Mural está localizado em escola municipal na Vila Nasser (Foto: Alex Machado)
Mural está localizado em escola municipal na Vila Nasser (Foto: Alex Machado)

Queimadas - Nas últimas semanas, incêndios têm sido responsáveis pela devastação de florestas,e  já alcançaram patamares históricos, com maior número de queimadas registrados desde 1988, segundo a central de monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Até o último dia 23 de junho, 480 mil hectares foram queimados em Mato Grosso do Sul, o que levou o governo estadual a decretar situação de emergência por 180 dias.

Enquanto os números seguem em crescimento e se demonstram alarmantes, a Coleção MapBiomas aponta que um em cada quatro hectares do Brasil pegou fogo nas últimas quatro décadas. Somente em 2023, a área queimada no país foi equivalente à metade do território da Bélgica, segundo a última edição do relatório, lançado em 18 de junho.

Parede Viva - O projeto é uma iniciativa sociocultural que utiliza a arte urbana como uma ferramenta para abrir paredes que dividem pessoas e espaços. Desde 2010, o coletivo atua desenvolvendo projetos sob encomenda para diferentes clientes e demandas, sempre buscando a valorização e remuneração justa dos artistas brasileiros, valorizando as diversidades culturais.

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