Com verba antecipada, escolas de samba prometem o maior carnaval
A chegada do fim de ano tem um ingrediente especial nos festejos tradicionais em Corumbá, no mês de dezembro. É o ritmo carnavalesco ecoando pelos quatros cantos da cidade com o lançamento dos sambas-enredo das dez escolas de samba, se preparando para a folia de 2019, que acontecerá em março. O carnaval, na realidade, nunca acaba na cidade mais festeira do Estado: os carnavalescos trabalham o ano inteiro para o desfile na Avenida General Rondon.
“Uma semana depois da apuração, ganhando ou não, a gente volta ao barracão para se organizar para o próximo carnaval”, afirma o vice-presidente da escola A Pesada, Neidivaldo Colombo, o Gugu. “Nossa Casa Show (no porto-geral) realiza eventos nos fins de semana para arrecadar fundos para a escola, envolvendo toda a comunidade. A gente não fica esperando apenas o apoio financeiro do Município ou do Estado”, garante ele.
Prova disso, A Pesada, vice-campeã do carnaval desse ano, já está com 50% de suas fantasias sendo finalizadas. A escola, além da organização, tem um ponto à frente das demais: a parceria com a agremiação União da Ilha do Governador, do Rio de Janeiro, que todo ano cede profissionais para qualificar seus aderecistas, além de fornecer material semiacabado mais aprimorado. Um dos diretores da Ilha e apoiador, Paulo César Martins, é corumbaense.
Verba liberada
A exemplo da Pesada, as demais escolas vêm trabalhando em ritmo forte para o próximo carnaval. A antecipação da verba liberada pela prefeitura, em novembro, permitindo a compra de material feita em São Paulo a preços acessíveis, foi um grande ganho para reduzir custos e avançar na preparação das agremiações. A prefeitura prometeu repassar R$ 600 mil para as escolas, em três parcelas, e está sendo esperado mais R$ 300 mil do Governo do Estado.
Em quatro anos, o Estado injetou R$ 1,3 milhão no carnaval local e, além dos recursos às entidades carnavalescas para 2019, é aguardado repasse de verba estadual para custear dois shows nacionais após os desfiles. A programação da folia do próximo ano não foi definida, mas deve começar já em janeiro, com rodas de samba pela cidade. Em dezembro e janeiro, a prefeitura libera as duas últimas parcelas de R$ 200 mil cada às escolas.
“O adiantamento da prefeitura alavancou o carnaval, as escolas compram por melhor preço e tem mais tempo para o acabamento das fantasias e seus carros”, explica José Martinez, o Zezinho, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de Corumbá (Liesco). Ele está apostando em um dos maiores carnavais em 2019. “Estamos cada vez mais aprimorando, atingindo a profissionalização das escolas, porém ainda dependemos do apoio público.”
Falta patrocínio
Nesse ano, o Estado liberou R$ 22 mil para cada escola e a Liesco criou uma expectativa de uma cota de R$ 30 mil para o próximo carnaval. Zezinho Martinez cobra maior participação do empresariado local no apoio à folia. O segmento se beneficia do período carnavalesco com o aquecimento do comércio local. Em 2018, Município e o Estado investiram R$ 3,5 milhões e o carnaval gerou R$ 14 milhões na economia e atraiu mais de oito mil turistas, em cinco dias.
“Está comprovado que os recursos destinados ao carnaval de Corumbá, um dos melhores do Brasil, não é custo, mas investimento”, aponta o secretário estadual de Cultura, Ataíde Nery. “Cada R$ 1 aplicado tem retorno de R$ 7 com o aquecimento da economia local por meio do turismo, comércio, a rede hoteleira e geração de emprego e renda, além de valorizar uma das maiores manifestações populares do nosso Estado”, acrescenta.
O desfile das escolas de samba acontecerá nos dias 3 e 4 de março. As dez agremiações integram grupo único e em 2020 voltará o critério de acesso e decesso. “A unificação valorizou as escolas intermediárias, que surpreenderam no último carnaval”, diz Martinez. A Mocidade da Nova Corumbá foi a campeão em 2018 e duas escolas do antigo Grupo B, Caprichosos e Estação Primeira, superaram as grandes Império do Morro e Vila Mamona.
Os preparativos
Em busca do tetracampeonato, a Mocidade aposta no retorno do interprete carioca Braguinha, que já defendeu a Grande Rio, Mocidade de Padre Miguel e Imperatriz Leopoldinense, e no enredo “110 Anos dos Divinos Santos do Brasil” - a umbanda tomando conta da avenida. A escola lança seu samba no dia 15 de dezembro e desfilará com 1.000 componentes, 16 alas e cinco carros alegóricos. “Vai ser um show”, promete a presidente Fernanda Vanucci.
A Pesada também homenageia a umbanda com o enredo “São Jorge Fé e Devoção” e terá 1.200 integrantes, 18 alas e cinco carros. “Queremos o título, segundo lugar já fomos”, diz o carnavalesco Neidivaldo Colombo. A rival Império do Morro comemora 61 anos e homenageia o ex-procurador de Justiça corumbaense Fadel Iunes, que morreu em 2017, cujo enredo será lançado no dia 8 de dezembro. A escola sairá com 1.400 pessoas, 20 alas e cinco carros.
A campeoníssima Vila Mamona, que ficou em 8º lugar no carnaval de 2018, se recompõe administrativamente e usa a reciclagem para superar problemas financeiros. “A Vila volta com tudo, vibração não falta”, garante seu presidente, Ricardo Cavassa. A escola homenageará a vizinha cidade de Ladário, cujo samba será escolhido no dia 8 de dezembro, com a presença de sua bateria nota 10. Desfilará com 800 componentes, 15 alas e cinco carros.
As demais escolas, de menor estrutura, também prometem um grande carnaval, onde a antecipação das compras será o ponto de equilíbrio para brigar com as chamadas grandes. A empolgação toma conta dos barracões. “A preparação da escola está adiantada e vamos surpreender”, adianta o presidente Cremílson Mesquita. A escola, classificada em 7ª lugar nesse ano, homenageará o presidente da Fundação de Cultura de MS, Athayde Nery.