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Artes

Cordel em muro é homenagem a gente simples, mas importante

Muro de escola municipal no distrito de Anhanduí foi usado como espaço para ilustração e homenagem

Aletheya Alves | 16/03/2022 07:08
Vendedor de doces, Onésio foi homenageado em muro de escola. (Foto: Matheus Fernandes)
Vendedor de doces, Onésio foi homenageado em muro de escola. (Foto: Matheus Fernandes)

Quem antes passava pela BR-163 em Anhanduí, distrito de Campo Grande, via uma escola com muros envelhecidos e sem cores. Hoje, após uma revitalização feita com ajuda da própria comunidade, o espaço se tornou uma homenagem para quem vem fazendo história no local.

Professor e poeta, Renato Dias Novaes, de 26 anos, foi quem teve a ideia de construir uma narrativa nos muros da escola em que dá aula. Ele conta que havia escrito um cordel sobre a vida em Anhanduí e, após ver no espaço uma oportunidade de homenagear o distrito e ainda incentivar o gosto pela Arte, decidiu se mobilizar para a revitalização.

“Nós fizemos a releitura de um cordel que eu tinha escrito e também colocamos alguns pontos de destaque de Anhanduí. Ficou bem relevante e foi bacana porque a própria comunidade foi colaborando para executarmos”, explica.

Antes desgastado, muro foi restaurado para se tornar releitura de cordel. (Foto: Matheus Fernandes)
Antes desgastado, muro foi restaurado para se tornar releitura de cordel. (Foto: Matheus Fernandes)

Nos muros da escola, além de trechos do texto, personagens que ficaram fixados nas lembranças de quem viveu no distrito também foram incluídos. “Citamos tanto as famílias quanto colocamos também alguns personagens e elementos. Temos, por exemplo, o Onésio, que vendeu doce na escola por muito tempo e todo mundo o conhece”, diz.

Além da homenagem, outro objetivo do professor foi manter um ar de nostalgia no distrito através das lembranças ilustradas.

Em conjunto com Renato, quem criou os desenhos e fez a pintura dos muros foi o estudante de Publicidade e Propaganda, Matheus Fernandes, de 18 anos. Morador de Campo Grande, ele conheceu Anhanduí pessoalmente através do convite do professor para que ele cuidasse da parte ilustrada.

Matheus relata que sempre gostou de trabalhar com arte e, por isso, foi convidado por Renato. “Fiz a releitura do cordel e passei para a parede. Foi uma parceria mesmo, tive várias ideias, mas como não conhecia Anhanduí, pedi ajuda e o professor foi sugerindo algumas ideias”.

Elementos como locais importantes também foram inseridos nas paredes. (Foto: Matheus Fernandes)
Elementos como locais importantes também foram inseridos nas paredes. (Foto: Matheus Fernandes)

Além do senhor que vendia doces, Matheus detalha que espaços também foram ilustrados, como o Clube do Laço. Para o estudante, mais do que ter feito um trabalho, a experiência foi importante tanto para ele quanto para quem contribuiu e irá aproveitar as ilustrações.

“Tivemos ajuda de outras pessoas também na pintura e no cotidiano. Achei uma experiência surreal mesmo, até porque foi diferente de tudo o que eu havia feito”.

Cordel de Anhanduí

Em sua poesia em formato de cordel, o professor apresenta Anhanduí como “um pedaço do céu”. Além de destacar algumas famílias tradicionais, que foram inseridas no muro, Renato ainda exemplifica como é a vida na cidade do interior.

Famílias citadas no cordel tiveram seus nomes gravados no espaço pintado. (Foto: Matheus Fernandes)
Famílias citadas no cordel tiveram seus nomes gravados no espaço pintado. (Foto: Matheus Fernandes)

No texto, o distrito é criado como um espaço de “gente honesta que vive a fazer o bem”, mas em meio às belezas do espaço, há também as curiosidades engraçadas. “Há também uns “caloteiro” que nunca paga ninguém. Muita conversa fiada, se alguém faz coisa errada, o povo aumenta cem.”

Para o professor, a construção de narrativas sobre a cidade é cada vez mais importante tanto para não deixar com que as histórias se percam quanto para garantir que toda a comunidade continue ligada à literatura.

Pimentas citadas por Renato em seu texto também foram ilustradas. (Foto: Matheus Fernandes)
Pimentas citadas por Renato em seu texto também foram ilustradas. (Foto: Matheus Fernandes)

Confira abaixo o cordel completo:

Eu uso a minha poesia

hoje em formato de cordel

para apresentar minha terra

que é um pedaço do céu


Minha pequena cidade

de tantas curiosidades

que eu escrevi no papel.


Um distrito que surgiu

lá na década de 50

conhecido e comentado

pelo doce e a pimenta.


Quem bebe da água daqui

sempre volta a Anhanduí

Certeza que se alimenta.


Aqui tem gente honesta

Que vive a fazer o bem

Há também uns caloteiro

que nunca paga ninguém.


Muita conversa fiada

se alguém faz coisa errada

o povo aumenta vezes cem.


Se quiser pagar um boleto

tenho uma história para contar

você tem que chegar antes

do limite acabar.


Banco aqui é raridade

procure outra cidade

se o dinheiro quiser sacar.


É engraçado e preocupante

o que eu vou contar a vocês

Esse fato curioso que acontece toda vez

Coincidência permanente

fica um ano sem morrer gente

mas quando morre é uns cinco ou seis.


Aqui é terra de famílias

de histórias tradicionais

Tem os Nantes, Oliveiras, os Silvas, os Novaes

Os Lima, Melo e Martins

É uma lista sem fim de sobrenomes especiais.


Esse é o cordel de Anhanduí

Que entre riquezas e dificuldades

é terra de gente guerreira

que é feliz de verdade.


Se um dia muda, eu não sei

o fato é que eu sempre terei

orgulho dessa cidade.

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