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Artes

Da música à costura, Nêgalu fez da cultura de rua sua vida e afeto

Artista Nêgalu faleceu aos 32 anos neste domingo (19) e ficou marcada pelas lutas e afetos

Por Aletheya Alves | 21/05/2024 06:34
Nêgalu durante apresentação no Festival Afronta. (Foto: Divulgação/Muriel Xavier)
Nêgalu durante apresentação no Festival Afronta. (Foto: Divulgação/Muriel Xavier)

Luciana Ferreira da Silva, a Nêgalu, fazia questão de falar sobre como a cultura de rua era sua vida, tanto que sonhava em seguir a carreira como rapper e, ao mesmo tempo, criar suas próprias coleções de roupas que mostrassem o orgulho e paixão pelo Hip Hop. Aos 32 anos, a rapper e costureira teve a vida interrompida após um AVC (Acidente Vascular Cerebral), tendo deixado, nas palavras de amigos e da família, suas lutas e paixões como legado da periferia.

Produtora cultural e amiga de Luciana, Jéssica Cândido de Oliveira garante que quem teve o privilégio de conhecer a artista, conheceu uma mulher que sabia batalhar e sentir. “A Lu estava construindo tudo na raça, na fé e acreditando na cultura de rua. Ela sempre falava que cresceu nesses eventos, indo para o horto, no guanandi de rap e hip hop. Falava que a cultura de rua era a vida dela”, diz.

E, longe de ser alguém fria, Nêgalu era carinho e esperança. “Na mesma proporção que ela era forte e de luta, ela era de afeto também. Quem conheceu a Lu sabe do sorrisão dela, da fé que tinha nas pessoas e como sempre falava que a gente tinha que acreditar que as coisas iam mudar, melhorar”, descreve Jess sobre a amiga.

Nos últimos anos, a produtora cultural explica que se aproximou ainda mais de Lu graças ao movimento para destacar a cultura de rua, que definia a vida da artista.  Nesse caminho, acompanhou as produções musicais da artista, inclusive a produção de duas músicas e um videoclipe que Lu sequer conseguiu ver pronto.

"Lu fazia parte da produção do Festival Afronta MS, também fazia parte da coordenação do colegiado de Hip Hop de MS, bem como era uma das facilitadoras estaduais na Construção Nacional do Hip Hop", descreve Jess.

E foi seguindo essa lógica que a rapper mergulhou nos movimentos e lutas pela valorização.  “A gente começou a se organizar porque via a necessidade do estado ver que existem outros gêneros, além do sertanejo, outras áreas, outras potências. A Lu amava arte de rua, o Hip Hop, independente de dinheiro”

Lu deixou dois singles gravados e um videoclipe. (Foto: Arquivo pessoal)
Lu deixou dois singles gravados e um videoclipe. (Foto: Arquivo pessoal)
Além da música, artista também sonhava em focar na costura. (Foto: Arquivo pessoal)
Além da música, artista também sonhava em focar na costura. (Foto: Arquivo pessoal)

Além da música, outra face de Nêgalu era a costura, essa também voltada à cultura de rua. Jess explica que, durante a pandemia, Luciana precisou vender suas máquinas e estava em um processo de comprar novamente os equipamentos para suas criações.

“Ela estava ganhando mais confiança enquanto rapper e foi interrompida. A gente sabe que seria um caminho muito lindo, muito promissor”, completa Jess.

Explicando melhor sobre a Lu costureira, seu marido, Bruno BR, detalha que a artista dominava as máquinas e estava se planejando para se qualificar ainda mais no ramo da moda. “Ela era muito boa mesmo e tinha mais esse sonho. Queria voltar a mexer com costura e fazer uma coleção, mas foi interrompida”.

Tendo estado ao lado da esposa em seus últimos momentos, Bruno conta que Luciana passou sua última tarde rindo, como gostava. E, apesar de sua trajetória ter sido interrompida tão cedo, ele garante que muitos sonhos foram realizados.

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A Lu se propôs a fazer muita coisa e realmente fez. As meninas falam sobre legado e ela vai mesmo deixar isso, desde entrar nos movimentos aqui trazendo rapper do interior para fazer parte da cena até perder a vergonha de subir no palco, tudo isso ela fez, descreve Bruno.

Além de batalhar pelo o que acreditava na arte, Lu também fazia questão de reforçar que não tinha nada de “super mulher”, como o marido conta. “Ela falava que guerreira era a She-Ra, que ela cansava, sentia dor, tinha sentimentos. E isso era importante também, ela falar disso. A Lu sonhou e sentiu muita coisa. E agora a gente pensa em como a vida é rápida, em como ela estava rindo, falando de tudo isso e aconteceu essa tragédia”.

Mas, para além da perda, Bruno completa dizendo que o que fica de Lu são os sonhos construídos no caminho. “A música dela vai ficar, os ensinamentos e tudo o que conquistou também. A Lu conquistou muita coisa e iria conquistar ainda mais”, finaliza.

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