De São Paulo para Campo Grande, o cartunista e muralista Fabio Q. vem pra somar
Diretamente de São Paulo, uma das referências em grafitti, quadrinhos e artes plásticas desembarcou de vez por aqui, e está morando em Campo Grande desde dezembro do ano passado. Fábio Q, como é conhecido, já está ministrando oficina de quadrinhos no Centro Cultural José Octávio Guizzo (CCJOG), já pintou murais no bar Brava e lançou sua última publicação, a HQ "Onírica", no mesmo local.
Já são mais de 7 meses em território sul-mato-grossense e o artista se sente feliz em poder, pouco a pouco, contribuir com a cena artística regional. "Aqui tem muitos talentos, alguns emergentes, que sentem a necessidade de profissionalização e de espaço para mostrar seu trabalho", diz ele.
Com a energia e experiência de quem tem dois contos em formato de fanzine e duas HQs lançadas, a "Onírica" e "Janela da Alma". Já com o pseudônimo Efe Queiroz, ele lançou a HQ infantil "Nessa Arca Tem Bicho" com a escritora Rubia Sibele.
Como muralista, Fábio tem trabalhos assinados com a Adidas, Greenpeace, MTV, Nescau, além de já ter pintado a 23 de maio, centro de São Paulo, a Favela Galeria, o túnel da Avenida Paulista com o tema dos 100 anos da imigração japonesa, e diversos outros pontos importantes para a cultura urbana.
Renovar a cena por aqui, trazer uma visão além do comum, é a missão que tem sentido nesse começo de vida nova na Capital, ao lado de sua esposa. "Nasci em São Paulo, morei quase que minha vida toda lá e tem uma hora que a cidade te desgasta mesmo. Minha esposa é de Campo Grande, já vinha pra cá a passeio há pelo menos oito anos e em 2017 decidimos por nos mudar".
A procura pela oficina no CCJOG, com turmas lotadas e fila de espera de oito pessoas prova que tem muita gente afim de se profissionalizar ou de aprender, nem que seja por hobby, à construir uma narrativa em quadrinhos.
"São alunos entre 14 e 30 anos, alguns já tem um traço próprio definido e outros estão começando a entender o processo. Eu busco, antes de tudo, desvencilhar a ideia de que só existe quadrinhos de super-herois de grandes editoras como DC e Marvel. Pra muita gente, assim como foi pra mim, esse é o primeiro contato com as publicações, mas eu busco introduzir o tema da autopublicação independente, e dos prêmios mundiais que chegam às mãos de profissionais brasileiros".
Diferente destes alunos com os quais tem contato, Fábio começou a fazer quadrinhos depois de se encontrar no grafitti. Nascido na favela de São Mateus, ele até tinha acesso aos quadrinhos da época, mas na efervescência do rap nacional e da cultura urbana como todo, o acesso à arte por meio do que existia na rua foi mais fácil.
"Eu sempre desenhei e gostei muito de quadrinhos. Mas o colégio público não incentivava a literatura, por exemplo. Eu me lembro da primeira experiência com um livro na mão. Foi incrível. Porém o acesso a uma biblioteca pública demandava que eu tomasse condução, gastasse dinheiro, um dinheiro que nem eu nem minha família tínhamos. Então a rua me introduziu à arte pelo graffiti e sou grato a isso".
Os imensos paineis coloridos enchiam a cinza São Paulo de vida. Observá-los e categorizá-los era parte de sua rotina. O primeiro prêmio de grafitti na 2ª Mostra de Grafitti do Museu da Imagem e do Som de São Paulo, vencido junto com seu primo, fez Fabio querer entrar de vez no mundo das tintas e sprays.
"Ali eu tive contato com grandes artistas, como os Gêmeos e o Speto. No começo eu fazia grafitti pra me descobrir. Entender as possibilidades de técnica, melhorar os traços, só depois de muito tempo eu passei a criar a minha identidade de desenho".
Até hoje o rap é seu maior influenciador na arte. "Faz parte da minha essência", como melhor define o artista.
Mas, obviamente, novas ideias passaram a interessar Fabio, que mergulhou em temas como mitos, religiões e arte raiz. Esses pontos ficam mais expostos no trabalho como artista, que consegue incluir essas simbologias em seus desenhos e contos.