No 1º concerto do ano, público conhece o talento de alunos do Lageado
Camerata é composta por crianças e adolescentes que têm aulas gratuitas de música, com instrumentos até raros por aqui.
Eles ainda são crianças e adolescentes, têm idades entre 10 e 17 anos, mas levam a música tão a sério que a colocaram nos planos para um futuro com arte. Em comum, moram nos bairros na região da BR-262 e fazem parte da Camerata do Sesc Lageado.
Desde 2014, são oferecidas aulas de música e de dança no Sesc Lageado. Atualmente são 350 alunos matriculados nos cursos que ensinam diferentes instrumentos musicais e balé. Do total, 20 fazem parte da Camerata.
O Lado B acompanhou a primeira apresentação deste ano, que foi realizada na quinta-feira (7), no Sesc Cultura, em Campo Grande.
Aos 12 anos, Pedro Victor Meireles da Silva conta que se interessa por música desde os 4 e atualmente, toca violoncelo. Ele começou na bateria, passou pela flauta, por instrumentos de percussão, violão, violino e “eu acho que só”, diz. “A gente ensaia a semana toda para chegar na apresentação, que é a coisa mais importante que a gente faz”.
Apesar de já dominar todos esses instrumentos, ele não pensa em parar e diz quer aprender mais. “Sonho em ser músico, tocando vários tipos de instrumentos”.
Jhemerson Edmundo Alonso Alves também é um dos integrantes da Camerata. Aos 13 anos, conta que entrou para o grupo porque queria aprender violão. A mãe então começou a procurar cursos até encontrar o Sesc da região. Só que na primeira vez que tentou entrar, não conseguiu e ficou na lista de espera.
“Fazia dois cursos: violão e percussão. Agora, decidi me especializar nos instrumentos de percussão e eu toco a marimba”, conta. Além de música, os alunos aprendem lições para vida, diz Jhemerson. “Eu acho que é um ambiente muito bom, porque a gente renova. A gente saí de lá com uma nova perspectiva, um novo jeito até no modo de ser. A gente evolui em questão de calma e acaba aprendendo mais. Eu sou muito ansioso e a música, quando a harmonia se encaixa, traz um bem estar e vai relaxando, causando um sentimento na gente. Ela tem poder de mudar”, explica o estudante.
Jhemerson está tocando atualmente a marimba, instrumento de percussão semelhante ao xilofone, com lamelas de madeira, que ao serem percutidas com baquetas produzem som. “Eu não consigo levar o meu instrumento para casa, porque é muito grande. Tento ir umas duas horas mais cedo para poder treinar a marimba”.
Para o futuro, ele é um dos que sonha em seguir carreira de músico. “Pretendo seguir a minha carreira de músico fazendo faculdade de música na Federal”.
Se depender do exemplo em casa, Jhemerson vai longe mesmo. A irmã do adolescente também participa do projeto, tocando violoncelo e acabou de ingressar na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Segundo ele, a irmã, Jhennifer, de 17 anos, ficou na dúvida em entre Música e Direito e acabou optando pelo segundo. “Ela escolheu o Direito e vai fazer Biomedicina mais para frente, porque ela quer ser perita criminal”.
Aos 12 anos, a história de Guilherme da Silva Barbosa é um pouco diferente. Ele não tinha familiaridade com a música até entrar nas aulas. Ele “foi obrigado a entrar”, mas conta que depois começou a gostar e nem pensar em parar.
“Foi para não ficar à toa em casa. A minha mãe foi lá e me matriculou sem eu saber. Depois eu fui lá, comecei a gostar e fui me dedicando”, diz. Guilherme começou com violão, passou pela percussão, violino, viola e agora, está no contrabaixo.
Jhemerson conta que a convivência entre ele e Guilherme começou um pouco tensa “discutindo sem querer” por conta de opiniões nas aulas, mas os desentendimentos ficaram no passado., graças à música. “Depois a gente vai vendo que não é necessário. Que a gente está ali para aprender a tocar um instrumento. A gente foi se aproximando mais com a chegada da marimba e nós dois começamos a tocar”, afirma Jhemerson.
No bairro, os garotos dizem que há quem se interesse pela música e eles prontamente fazem propaganda das aulas, mas que também tem quem seja indiferente. “Quando a gente apresenta no bairro, eles param para prestar atenção e vêm e perguntar para gente”, diz Guilherme.
A assessora técnica de cultura do Sesc Lageado, Franciele Gadoti diz que, entre os objetivos do projeto está a arte como ferramenta de transformação e que as aulas também fazem, em alguns casos, uma aproximação entre pais e filhos.
Na quinta, a apresentação foi de cerca de 50 minutos, com clássicos da música erudita, de Bach e Tchaikovsky e algumas canções populares como Mercedita. A regência fica com o professor Vladmir Carvalho.
A camerata foi composta por 16 alunos que tocam violoncelo, viola, contrabaixo, violino, flauta transversal, violão e a marimba
A apresentação foi a primeira do ano no Sesc Cultura, na avenida Afonso Pena, no antigo prédio do Exército.
Como funciona - O gerente do Sesc Lageado, Luciano Barbosa, explica que as atividades de música e dança começaram em janeiro de 2014 e a camerata tem dois anos. Atualmente, estão matriculados 350 alunos de cinco bairros da região: Lageado, Parque do Sol, Dom Antônio Barbosa, Vespasiano Martins e Colorado.
Primeiro, foram oferecidas duas modalidades, mas o desejo de montar uma orquestra fez com que as aulas abrangessem outros instrumentos. Os alunos que fazem aula de violão e de balé ganham os respectivos materiais.
Já os que tocam outros instrumentos, que podem ser levados de um lugar para o outro, como o violino, utilizam os emprestados. Aqueles que tocam instrumentos grandes, como a marimba, têm que chegar mais cedo para poder praticar fora do horário de aula.
A marimba, por exemplo, veio de Belém para Campo Grande, doado pelo Sesc do Pará. O instrumento não é comum, possui uma sonoridade diferente e pode ser tocada por até duas pessoas.
“Eles levam os instrumentos para prática em casa, em forma de comodato, e depois, devolvem. Porque não adianta estudar violino e não ter o violino. O curso tem aula em três dias da semana: prática instrumental, teoria musical e prática em conjunto. Contudo, o estudo da música precisa ser com os professores e mais o treino, repassando partituras e tem que ser em casa”, explica Luciano.
Para participar, é necessário ter renda máxima de três salários mínimos e estudar em escola pública.