Poesia foi companhia de Marlene até quando vida se resumia a casamento
Professora precisou lutar para conseguir criar as três filhas e ainda realizar sonho de estudar
Quando era pequena, Marlene Alves de Souza começou a unir palavras no caderno para entender os próprios sentimentos e, desde então, não parou mais. E, graças ao amor pela poesia, conseguiu lutar pelos próprios sonhos, superar ideias machistas e realizar o sonho de estudar.
“Eu morava no sítio, então tinha muito contato com a natureza e ficava encantada com aquilo. Lembro que escrevia mesmo sem ter ninguém na família que também fizesse isso porque minha mãe não tinha condições e, para o meu pai, mulher tinha só que saber escrever o próprio nome para poder assinar na hora do casamento”, narra Marlene.
Apesar do pensamento da época, ela explica que não abandonou o gosto pelas letras, mas conseguiu completar apenas parte do Ensino Fundamental antes de se casar. Aos 15 anos, havia saído da casa dos pais e teve sua primeira filha, sendo que as duas seguintes não demoraram muito a vir.
Já chegando aos 30 anos, Marlene se separou e, com as três filhas, precisou focar na criação da família. “Fui trabalhar servindo café, fiquei um tempo e depois trabalhei com os freis. Nesse tempo, terminei minha escolaridade, mas ainda não tinha conseguido fazer a faculdade”.
Cerca de dez anos se passaram desde quando terminou o período escolar e, ainda com os sonhos guardados, ela conta que decidiu enfrentar os vestibulares para seguir o caminho.
“Queria ser professora porque gostava mesmo de escrever, então fiz o vestibular e passei de primeira. Durante a graduação foi quando eu mais escrevi e logo que acabei já comecei a dar aulas de Língua Portuguesa”, conta a professora aposentada.
Retornando ao amor pela poesia, ela conta que a escrita sempre veio fácil e, com a caneta em mãos, as palavras pareciam trilhar seu próprio trajeto. “Escrevi sobre a lua, sobre a primeira vez que fui para a praia e até uma foto que tirei de uma aluna soltando pipa me inspirou”.
Hoje, mesmo aposentada, as palavras continuam se fazendo presentes, inclusive quando ela menos espera. Neste ano, uma amiga e vizinha faleceu e, é claro, foram as letras que resolveram aparecer.
“Seja com sentimentos tristes ou felizes, a poesia me ajuda a entender o que estou pensando, o que estou sentindo. É a forma com que eu entendo a vida, não tem uma ordem certa”, diz Marlene.
Sem se imaginar longe das criações, ela completa dizendo que apesar de todas as dificuldades, a poesia sempre esteve consigo. “Acho que essa é a beleza da poesia, ela faz parte da vida. Eu sempre gostei e poder escrever é a realização de um sonho”.
Confira abaixo alguns dos poemas escritos pela professora:
A pureza no olhar
Uma criança brinca
Sob o céu azul da manhã
O brincar traz toda a fantasia
De uma infância feliz.
Um lugar tranquilo
Pássaros, cigarras, sol, brincadeiras...
O vento entoando uma nova canção
Que embala nossos mais secretos sonhos
Corações livres, sem o ranço do ódio
A pipa no ar
E junto com ela, o olhar
O sonho cada vez mais alto
O céu é o limite:
Na imaginação infantil
Só há lugar para o bem
O amor prevalece sobre todo o mal
Pois aqui não haverá guerra
Enquanto houver o olhar de uma criança
Brinquemos com ela, olhando na mesma direção!
E seu lugar no mundo estará garantido
Nesse mundo onde todos podem brincar
Sempre haverá a esperança de Paz.
O Encontro
Ao encontrar-me com o mar
Emoção, encantamento, alegria!
Pés descalços na areia fria
fiquei por ali a contemplar
Quanta beleza!
Olhando para o infinito
Passei a me perguntar
Mar ou céu?
Céu ou mar?
Qual dos dois é mais bonito?
As nuvens no céu parecem as ondas no mar
No mar, as ondas distantes são estrelas no céu a brilhar.
É o mistério de Deus:
Ora o mar é o céu
Ora o céu é o mar.
Natal
Todas as dores ficam para trás
Hoje tudo se transforma
Em esperança, amor e Paz.
É tempo de amar
É tempo de doar aos necessitados
Aproveitando esta luz que aquece nossos corações, nos faz sonhar como crianças,
e ver o mundo com os olhos da alma.
É tempo de abraçar o irmão;
Passar otimismo para todas as pessoas.
É tempo de plantar uma roseira
no jardim de nossa existência,
para que possamos colher o perfume das rosas;
Fazer as crianças sorrirem e 'crescer' com elas,
acreditando em um futuro colorido
sem violência, sem fome, e sem frio.
A esperança se tornou certeza.
Não existem trevas!
Nasceu hoje o Salvador.
No mundo todo brilha uma Luz.
Toquem os sinos... Celebremos:
É Natal de Jesus!
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