Quando todo mundo já havia cansado de estátua viva, um bebê surpreendeu a feira
Rosimeire conquista adultos e crianças ao representar Nossa Senhora com Jesus negro nas mãos
Na concorrência com o robô humano e o policial com fuzil, a mulher segurando uma boneca nas mãos ganha de lavada na Feira Central. Quando Rosimeire Ribeiro, de 32 anos, sobe no pedestal, a tinta prata do seu rosto compete com a luz amarela do corredor cheio de visitantes e, em poucos minutos, as primeiras moedas chegam. É o pagamento pelo trabalho de estátua viva que consegue se comunicar com o público de um jeito diferente.
“É um trabalho sensível, o gesto dela é sutil e passa um lado muito pueril que mexeu com meu imaginário”, descreve a professora universitária Cleovia Almeida de Andrade, de 50 anos.
Para alguns, a profissão antiga e que não é novidade pelas ruas de Campo Grande, conseguiu surpreender graças ao movimento constante de um bebê representando Jesus. “Pra mim ficou claro uma coisa: ela está com um bebê negro nas mãos e fala através dele. Além de escolher uma Nossa Senhora com um menino Jesus negro e ter essa competência com as mãos embora seja estátua, acho que ela foi duas vezes provocadora e isso tornou o trabalho dela incrível, sensível”, declara o professor Adilson Francisco, de 50 anos.
As crianças piram, chegam pertinho indagadas com a mulher que nem pisca e ainda consegue fazer com o que a boneca passe mensagens de fé, entregues em pequenos rolinhos de papel. Ao lado da mãe Renata Fernandes, de 34 anos, Isaac foi correndo colocar as moedinhas e ainda levou um pirulito para casa. “Ele gostou e o que me chamou atenção foi a pose dela, com movimentos que são diferentes do que a gente está acostumado”, destaca a funcionária pública.
Tem gente que chega pertinho só pra ver se a estátua respira. “Por um tempo fiquei pensando se ela de verdade. Ao chegar perto fiquei encantada, ela representa Nossa”, comenta a funcionária pública Devalcir Zadi de Assis, de 70 anos.
Rosimeire não conversa e evita dar entrevista durante o expediente, como forma de não romper com a curiosidade gerada. Ao telefone, ela fala com orgulho do trabalho realizado desde 2012 que, hoje, é sua única fonte de renda. “Gosto do público e a estátua viva chegou até mim pelo teatro. Hoje, faço por amor à arte que me conquistou”.
Nascida em Campo Grande, além de se apresentar na Feira Central, ela viaja o país como estátua viva em eventos. “Amo o teatro, mas descobri que não queria me apresentar trancada, prefiro ir para as ruas”.
A grana que ganha nas ruas não é o suficiente, por isso, ela trabalha em eventos cobrando cerca de R$ 150,00 a hora. “Faço muitos casamentos e formaturas, especialmente, formaturas de Direito em que eles querem uma estátua viva da Deusa da Justiça”.
Com uma tinta própria para a pele, a preparação dura minutos ou horas dependendo do tamanho da roupa. “Já precisei usar quase no corpo inteiro e isso leva tempo para fazer”.
Sobre o personagem que tanto chama atenção na Feira Central ela fiz que foi o primeiro quando iniciou a profissão. “Eu estava em uma roda de pessoas e tudo começou com um fantoche. Era época de Natal e eu fui a Nossa Senhora em um pequeno teatro, de lá pra cá eu decidi fazer esse personagem na estátua, hoje, é o meu preferido”.
O desafio é se equilibrar no pedestal com a curiosidade do povo. “Às vezes as crianças quase me derrubam da caixa, mas já estou acostumada. Única coisa capaz de acabar com a minha apresentação é a chuva, porque a maquiagem vai embora”.
Quem quiser contratar, o telefone de Rosimeire é (67) 99218-6679. Confira abaixo sua apresentação.
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