Ideia inicial do herdeiro era vender imóvel por R$ 6 milhões com a condição de transformá-lo em casa de poesia
Manoel de Barros ultrapassou barreiras geográficas, mas a preservação da memória do poeta é discutida nas limitações da Rua Piratininga, no Bairro Jardim dos Estados, em Campo Grande. A casa desenhada por Manoel e onde ele escreveu suas poesias começa a ser rascunhada para virar museu. O projeto é encabeçado pelo neto Silvestre de Barros e o amigo Pedro Spíndola.
Na tarde dessa terça-feira (15), sob a aura de Manoel, sentaram-se no sofá da sala amigos e representantes do Governo do Estado. A conversa era para levar adiante o projeto e definir se o museu nascerá de uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), associação ou instituição.
A proposta inicial era de vender a casa por R$ 6 milhões, com todo o acervo pessoal do poeta e da esposa dona Stella com a condição de que o imóvel fosse transformado em um museu. Entre os herdeiros, o neto Silvestre Nogueira de Barros quem ficou com o imóvel.
"Desde que a gente recebeu esse imóvel a ideia inicial era fazer girar dinheiro, mas dentro desta casa tem uma história muito bonita da vida dele e minha também. Morei muitos anos aqui e não achei correto destruir isso da noite para o dia, por isso criamos essa ideia", explica o engenheiro.
O primeiro pensamento foi oferecer a casa para aquisição do Governo do Estado e Prefeitura Municipal de Campo Grande, em parceria com instituições, para que o imóvel e as memórias da Rua Piratininga seguissem onde Manoel viveu.
"Meu papel neste projeto é manter a casa original, do jeito que vocês estão vendo, até a decisão. A aquisição seria, da minha parte, o que eu gostaria, mas me interessa arrendamento, aluguel, parceria, permuta. Tudo isso seria útil", discorre o neto.
E quem por muitos anos visitou o amigo garante: a casa está do jeito que Manoel e Stella deixaram. Jornalista e amigo, Bosco Martins, hoje assessor no Governo do Estado, foi um dos participantes da reunião.
"Nem o tempo corroeu, não tem reforma, você sente a presença do poeta e temos que distribuir isso para as pessoas. Mas como manter? Não é só criar um instituto, um museu, é a manutenção disso e isso custa dinheiro. Temos que exaurir esforços nisso", manifesta Bosco.
Produtor cultural e presidente da Fundação Nelito Câmara, Ricardo Câmara foi o primeiro a dizer o quanto estar ali, na sala de Manoel, era o mesmo que estar sob a aura do poeta, ainda que fisicamente ele não esteja mais sentado na pontinha preferida do sofá.
"É sempre um prazer estar aqui, mesmo sem eles, a aura do Manoel e da dona Stella se perpetuaram na casa", comentou. Experiente à frente de organizações e instituições, Ricardo opinou sobre pontos burocráticos e parte técnica que uma Oscip impõe.
"De repente, em vez de vender o imóvel, ter como aluguel e também todo acervo não só para visitação, mas preservação e difusão da obra. Poderíamos fazer um conselho e ter pessoas ligadas a Manoel de nome nacional", sugere.
Da Cultura do Estado, o secretário e o subsecretário estadual de Cidadania e Cultura, João César Mattogrosso e Eduardo Romero e o presidente da Fundação de Cultura, Gustavo Castelo, mais conhecido como Cegonha, falaram da vontade política do Governo do Estado em abraçar o projeto, mas que é preciso achar um caminho, e que o Governo pode fazer uma intermediação junto à iniciativa privada.
O projeto segue sendo rascunhado pelo amigo de Manoel, o também jornalista Pedro Spíndola para posterior apresentação às instituições. Profundo conhecedor da obra e do poeta, seu Pedro viveu 30 anos ao lado de Manoel.
Enquanto os admiradores das sutilezas aguardam os próximos escritos da história, entrar na casa de Manoel sempre provoca emoções. Em um dos banheiros da parte de cima do sobrado, já amarelado um bilhete avisa "não colocar papel no vaso". As coisas desimportantes de Manoel.
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