Após covid, “ressurreição” de casal foi decorar casa inteira para Páscoa
No Santo Antônio, Júlio e Elizabeth sobreviveram ao vírus e puderam voltar com as decorações que tanto gostam
Foi só depois de passarem pelo medo da morte e ficarem internados no hospital pela covid-19 que Júlio César Diniz, 63 anos, e Elizabeth Grisólia Strobel, 70, puderam agradecer pela vida "estendida" e redescobrir juntos aquilo que sempre gostaram de fazer: decorar a casa. O tema? Faltando sete dias para a Páscoa, não é preciso dizer que a deles dois já estava pronta há algum tempo.
“O empenho é todo da Beth”, elogia o marido. “É que já tenho prática de fazer. No máximo, demorei 1 semana montando tudo. Mas isso só à noite… é mais fresco”, elucida.
Os dois já são figurinhas carimbadas pela tradição da décor no bairro Santo Antônio, onde vivem há pelo menos 30 anos. Porém, por mais que o costume seja o de receber amigos, familiares, vizinhos de perto – e até os de longe, do outro lado da cidade – para conferir a arrumação do casal, este ano eles nem arriscaram: tudo feito de portas fechadas.
Quem quiser bisbilhotar é só conferir pelo portão. Isso tá permitido, desde que se use máscara!”, brincaram.
Na casa, não faltam bonequinhos e enfeites de coelhos de tudo que é tamanho. Inclusive um deles imita o próprio casal, tanto na altura quanto no gênero. O diferencial… bom, é difícil falar qual é. Tem decorações de vários tipos de materiais, entre feitos de tecido, cerâmica, palha, madeira, até ovinhos coloridos, embrulhos, artesanato, laços e mais laços. Até um galho se transformou num “ninho” pascal.
“A novidade foram as capas para encosto das cadeiras de jantar que eu mesma fiz. Numa dessas noites, peguei minha máquina de costura e dei cabo de tudo. Ah! E as cenouras de mentirinha também. O resto tudo comprado em todos esses anos e nas viagens que fizemos juntos”, explica Beth.
Desta vez, neste ano, Júlio preferiu servir de “apoio moral e logístico” à esposa do que necessariamente colocar tirar cada um dos itens da gaveta. E olha que são muitos. Guardados e organizados em caixas e mais caixas, “competem” só com a decoração de Natal – que ganha de lavada.
“Às vezes eu brinco e passo de carro bem em frente a uma loja de artigos para decoração. Digo à Beth: ‘você viu aquilo ali na vitrine? Lindo demais... ’ e dou a volta na quadra só para testá-la”, diz o marido. “Sou a louca da décor”, confessa a esposa.
Na época em que pegaram covid, em outubro do ano passado, não imaginavam que por 10 dias seguidos iriam frequentar a ala de internação do Proncor. Dos dois, Beth foi a mais atingida e teve que ser encaminhada à UTI (unidade de terapia intensiva). Ambos ficaram direto no oxigênio, mas não precisaram de intubação – o que agradecem pela “sorte”. Entretanto, foram dias de temor que preferem deixar no passado.
“Sentia uma falta de ar tremenda. Tudo que eu fazia, até mesmo respirar, me cansava. Isso foi me dando uma fobia terrível, tive síndrome do pânico e tudo”, afirmou Beth. “É uma fase que eu gostaria de não ter passado. É tão horrível que não vale a pena descobrir por si só”, disse Júlio.
Por mais que a recuperação tenha sido “rápida” e as sequelas – como falta de ar, cansaço, perda do olfato e paladar, entre outras – não duraram muito tempo, até hoje os dois lamentam acompanhar o quadro da covid no país. “Na época, mal saímos de casa e nem estávamos no pico da doença como agora, e mesmo assim pegamos o vírus. Pudemos contar com plano médico e assistência hospitalar, mas e quem não tem a mesma sorte? Vivemos num país muito desigual, e é triste testemunhar isso pela covid-19”, refletiu Júlio.
O novo coronavírus ainda se faz presente e vem atingindo MS de forma intensa neste mês. Pela insistência da esposa, a antiga atividade de decorar a casa não foi perdida, mas ressignificada pela esperança de que dias melhores virão – e que o casal sobreviva a cada um deles para poder contar.
“Páscoa é sobre vida nova, ressurgimento. Mesmo com a covid, temos que parar para pensar e refletir sobre o agora. Estamos aqui juntos nessa e podemos fazer melhor do que isso”, considera Beth. Já o marido aposta em outro significado de Páscoa. “A palavra vem do hebraico pesah que significa passagem. Precisamos ser fortes, atravessar este momento difícil com sabedoria para, então, conquistarmos um novo lugar”, finaliza.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.