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Comportamento

Daltônico, Ítalo levou 20 anos só para descobrir a cor dos olhos da ex

Isso e várias outras histórias; além dele, o irmão, tio e um primo também compartilham a anomalia na família

Raul Delvizio | 19/04/2021 08:52
Ítalo é o daltônico que demorou 20 anos para descobrir sobre sua condição (Foto: Arquivo Pessoal)
Ítalo é o daltônico que demorou 20 anos para descobrir sobre sua condição (Foto: Arquivo Pessoal)

Por praticamente 20 anos, o jornalista Ítalo Milhomem não sabia que não podia contar com o par de olhos que lhe foi "dado" assim que nasceu. Pelo menos não na questão de cores. Demorou tudo isso de tempo – e várias histórias que prefere contar como piada ao invés de tragédia – para descobrir que o daltonismo o acompanhava para tudo que olhasse.

Para quem não sabe, o daltonismo é caracterizado como um "desajuste" na capacidade cromática ocular, isto é, de enxergar as cores como elas são no mundo real. Se trata de uma condição hereditária (passada de mãe para filho) que acaba confundindo pequenas nuances, tom sobre tom ou cores como o vermelho e o verde (mais comum), por exemplo.

Este é justamente o caso de Ítalo. "Eu não percebia mesmo. Até então, achava que era aquele aspecto machista de que homem não presta atenção nos detalhes. Mas não é que eu não prestasse, eu nem ao mesmo enxergava", revela o jornalista de 33 anos.

Desde que tinha 20 para 21 anos ele já usava óculos, mas nem suspeitava que seu problema fosse relacionado às cores (Foto: Arquivo Pessoal)
Desde que tinha 20 para 21 anos ele já usava óculos, mas nem suspeitava que seu problema fosse relacionado às cores (Foto: Arquivo Pessoal)

Para ele, vermelhos e verdes muito escuros se misturam, conta. "Ficam com tons amarronzados", explica. E cores clarinhas também. "Elas se confundem todas. O vermelho às vezes me parece laranja, amarelo, até mesmo rosa. Já o verde vira um amarelo ou um azul bem claro", explica.

E isso já lhe causou certas confusões. "Eu tinha uma namorada que a cor dos olhos era azul, mas para mim parecia verde. Sem falar da minha profissão, numa cobertura de jogo de futebol as cores das camisetas dos atletas ficam umas parecidas com as outras. Sem falar dos infográficos… O que era algo simples poderia virar um problemão", ressalta.

Ítalo só foi descobrir seu daltonismo no ano de 2008, quando tinha 20 para 21 anos. Estava no final da faculdade e – se sentindo ainda meio perdido sobre o que fazer – resolveu fazer concurso para a Polícia Militar. "Passei na teórica, porém na hora de fazer a inspeção física, o médico diagnosticou uma 'leve' alteração cromática. Acabei que fui reprovado. Depois disso resolvi ir ao oftalmologista, que confirmou meu daltonismo", recorda.

Torcedor do Esporte Clube Comercial, é um problema para Ítalo distinguir tons do uniforme (Foto: Arquivo Pessoal)
Torcedor do Esporte Clube Comercial, é um problema para Ítalo distinguir tons do uniforme (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando o rapaz começou a se aperceber dentro da sua condição, o mundo mudou de "cor". Estima-se que 8% da população mundial possua o daltonismo sem nem saber. Como a anomalia é mais comum aos homens, não é só o Ítalo que possui a gene na família.

"Por 10 anos, meu irmão me zoava por causa do daltonismo brincando de trocar as cores, até que ele mesmo fez um exame de vista e também descobriu que possuía. O que para mim era 'leve' o dele era bem mais intenso. Ou seja, era o sujo falando do mal lavado!", brinca.

Foi aí que os familiares também acabaram por fazer o teste de cores de Ishihara (conjunto de círculos coloridos com números subscritos) e alguns deles se viram daltônicos. "Descobrimos que um tio, aos 50 anos, tinha daltonismo, além de um primo de 14. Atualmente, somos em pelo menos quatro parentes daltônicos por enquanto…"

Nesse registro clicado por Ítalo, nem todas as cores do arco-íris ele consegue perceber (Foto: Arquivo Pessoal)
Nesse registro clicado por Ítalo, nem todas as cores do arco-íris ele consegue perceber (Foto: Arquivo Pessoal)

Vaquinha – Nos últimos 13 anos desde que foi diagnosticado, Ítalo convive "numa boa" com o fato de não enxergar as cores como elas são. Mais recentemente, porém, comovidos pela situação, alguns amigos resolveram fazer por conta própria uma vaquinha virtual para que o jornalista consiga um óculos especial com tecnologia que corrige sua anomalia.

"Não nego que esse sempre foi um sonho meu, mas deles também. Todos os meus amigos vem acompanhando essa minha jornada de pessoa daltônica. Na pandemia, a coisa apertou financeiramente para mim, tive que me virar pude, inclusive ser motorista de aplicativo. Acho que por esta razão, principalmente, eles quiseram dar o presente", considera.

Daltonismo do pai – anomalia mais comum aos homens – não passou para o filho (Foto: Arquivo Pessoal)
Daltonismo do pai – anomalia mais comum aos homens – não passou para o filho (Foto: Arquivo Pessoal)

E não é barato. Por ser um produto importado, o valor da tecnologia começa a partir de R$ 1.500,00 chegando ao montante de mais de R$ 2.600,00. Lembrando que, por confundir verdes e vermelhos, semáforos podem, por vezes, "enganá-lo". Mesmo adaptado à situação – até porque teve permissão do Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) em sua habilitação de motorista –, o óculos faria diferença.

"Pra mim, a vaquinha já serve de pontapé para, quem sabe, fazer uma campanha maior, descobrir os daltônicos de Campo Grande que, por questões financeiras assim como eu, não teriam condição de ter a experiência dos óculos para si", finaliza.

Quem quiser ajuda Ítalo, pode contribuir na vaquinha on-line.

Descubra se você também pode ser um daltônico por meio desse teste rápido.

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