De terno e gravata, seu Antônio se realiza votando aos 102 anos de vida
Todo arrumadinho e sorridente, seu Antônio foi votar logo cedo. Pela idade, nem precisava mais. Foi a vontade de "levantar Campo Grande", como ele justifica, que falou mais alto. Aos 102 anos, comprovados no documento, se vestiu como vai à igreja, de terno e gravata, porque votar é motivo de festa.
Acompanhando de um dos 9 filhos, quem sempre lidou com roça e não sabe nem ler e nem escrever, anotou sozinho os números dos candidatos. Sabia que eram dois. Primeiro vereador e depois prefeito.
A folhinha com a cola saiu de dentro da carteira junto dos documentos, que desde o corredor da escola Dr. Eduardo Olímpio Machado, no bairro Jardim Ouro Verde, já estavam nas mãos dele. A idade pesa na concurda e os passos são vagarosos, mas ele faz questão de chegar aos mesários sozinho.
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Na urna, o filho, José, ajuda. E quando o segundo "barulhinho" sinaliza que a votação acabou, seu Antônio até reclama: "mas já?".
"Votei, não foi difícil, mas eu queria votar em três. Por que só uma pessoa?" brinca Antônio Ramos Martins. Para a gente, baixinho, ele conta que com 102 anos, continua votando por costume e que foi ele mesmo quem anotou os números na colinha.
E o que ele espera dos candidatos? "Propostas boas, de levantar a cidade de Campo Grande. Os candidatos têm que fazer uma força por nós. O prefeito recém que estava aqui era bom, apresentou a rodoviária, construiu muitas casas, quem vier pode fazer coisas boas também. Eu quero saúde melhor", pede o eleitor centenário.
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Vizinho da escola, ele acordou 5h da manhã e se vestiu por pensar que "era melhor assim, de terno e gravata, porque parece que fica mais interessante", diz.
Seu Antônio nasceu em Cuiabá e passou as últimas quatro décadas em Campo Grande. Entre netos, bisnetos e tataranetos, brinca... "Não estou vencendo contar...". Para si, seu Antônio admite que não tem muito mais a ver da produção dos eleitos, mas vota pelas gerações seguintes. "Há de se esperar o produto que vier para nós".
Da escola ele saiu bem cedo. Ainda menino. "Houve um fracasso no estudo, pois minha mãe me pôs no colégio, com meu irmão. Um dia a professora bateu na cabeça dele e ele ficou zangado. Era longe para eu ir sozinho, então, fiquei eu sem aprender".
O que lhe aconteceu, seu Antônio não quer para si, nem para filhos, netos, bisnetos e tataranetos. "Por que? Porque estudar é importante", frisa.
Sobre os 102 anos vividos, seu Antônio diz que todo mundo acredita, mas que quando precisa, tira da carteira os documentos para mostrar. E em quem ele votou? Sigilo. Nem os filhos ficam sabendo.
O eleitor centenário é aquele que nem o peso de 102 anos vividos lhe tiram a vontade de sorrir e votar.