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Comportamento

Há 1 ano, estudante pulou de viaduto, mas sobreviveu para defender a vida

Aos 22 anos, ela ganhou outra chance de viver, depois de cair de altura de 8 metros

Thailla Torres | 16/11/2021 09:02
Cartinha deixada no viaduto da Afonso Pena, na tentativa de evitar mais tragédias. (Foto: Arquivo)
Cartinha deixada no viaduto da Afonso Pena, na tentativa de evitar mais tragédias. (Foto: Arquivo)

Numa entrevista em que a pausa se faz necessária a todo instante para respirar fundo, uma estudante em Campo Grande lembra frases que tiveram efeito devastador em meio ao sofrimento e a tentativa de suicídio há exatamente um ano. Ela sobreviveu após pular do viaduto na Afonso Pena, em novembro de 2020. Ganhou outra chance, com uma fratura no quadril e o pé quebrado.

Pedindo para não ser identificada, a jovem de 22 anos começa dizendo que fez muita coisa errada nos últimos tempos, mas que nada justifica o que ouviu durante meses que antecederam o salto, como palavras que impactaram no quadro depressivo e só potencializaram o sentimento de pular fora da vida.

Por isso, ela resolveu falar abertamente sobre o suicídio como forma de prevenir pensamentos como os que ela teve, a ponto de agir dolorosamente contra si. “Não quero que as pessoas façam isso. Depressão é uma doença, um assunto sério, precisa mesmo é de tratamento”.

Na visão da estudante, ela teve chance que quase 100% das pessoas na mesma situação não têm: uma nova oportunidade de viver. “Eu só tenho a agradecer pela chance que eu tive”.

Diagnosticada com depressão desde os 14 anos, essa não foi a primeira vez que viu a vida sem sentido. Na adolescência, o quadro se agravou quando teve um vídeo íntimo exposto nas redes. Casos de bullying na escola também foram frequentes e, segundo ela, só potencializavam a dor. “Falavam que eu era estranha. Naquela época, eu tinha o estilo emo e as pessoas me ofendiam até por isso”.

O ano de pandemia também teve impacto na saúde mental, assim como problemas pessoais, que levaram ao cansaço extremo. Antes de agir de maneira drástica, ela lembra que ouviu frases que passavam longe do acolhimento.

“Tive amigos que disseram que não iam sentir a minha falta. Eu não aguentei a pressão e decidi ir à casa de uma amiga para conversar com ela”.

Era tarde novembro quando a estudante saiu em busca de uma conversa que a acalmasse. Mas, sem apoio, se viu perdida. “Então, pensei que deveria fazer o que todo mundo estava pedindo, morrer”.

Do momento que deixou a casa da amiga até chegar à principal avenida da cidade, em um viaduto onde muitos já se viram fora da vida, a única coisa que pensou foi em deixar um vídeo. As imagens tinham conteúdo de despedida e foram publicadas nas redes sociais.

Horas depois, a única lembrança é dos seus olhos de um lado par ao outro tentando reconhecer onde estava. Era um hospital, onde passou por cirurgias após quebrar quadril e um pé. “Na hora que eu acordei, não me dei conta do que eu tinha feito. Quando descobri, fiquei em choque”.

Foram seis meses na cadeira de rodas até a recuperação total dos movimentos. Em casa, ela deu continuidade ao tratamento psicológico e acompanhamento psiquiátrico, mas carrega até hoje o peso das palavras que ouviu até quando sobreviveu a dor. “Teve pessoas que ficaram bravas porque eu não morri. Isso foi muito doloroso. Foi então que eu busquei mudar a minha vida”.

Longe de pessoas que diminuem ou repreendem seus sentimentos, a estudante passou a buscar pessoas que caminham pelo acolhimento, diálogo e transparência quando o assunto é transtornos psicológicos.

Hoje, a estudante defende o tratamento contra a depressão e tenta falar, na medida do possível, como busca encontrar um novo olhar para a vida, que potencialize pensamentos mais positivos. “A gente nunca sabe o que o outro está sentindo”, diz. “Sei o quanto tudo isso é difícil, mas hoje, penso na minha vida”.

Esse processo não é fácil. Ela admite que o dia a dia é de altos e baixos, mas vê na chance raríssima que teve, a força para seguir em frente. “Eu só quero que ninguém faça o que eu fiz, temos uma vida pela frente, por mais difícil que ela seja” .

Ajuda - Nem sempre é fácil tratar o assunto, falando da gravidade do problema, sem aprofundar na prática do suicídio. Mas é preciso falar sobre, dialogar é prevenir.

Em Campo Grande, o Grupo Amor Vida (GAV) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através dos telefones (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99644-4141 (Vivo), todos sem identificador de chamadas. Ligue sempre que precisar!

Horário de funcionamento das 07:00 às 23:00, inclusive, sábados, domingos e feriados. Informações também pelo site (clique aqui).

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