Há dois anos em hospital, mãe ouve que filho pode partir a qualquer momento
O filho tinha saúde até completar 11 meses e ser diagnostico com hidrocefalia e paralisia cerebral, mas a mãe não desiste 1 minuto
Quando a dona de casa Tatiana Conceição dos Santos, 30, viu-se com o terceiro filho nos braços, não imaginava o desafio que teria de enfrentar. Há dois anos, ela faz do hospital a sua moradia. Os corredores se tornaram familiares, os equipamentos que garantem a sobrevivência de pacientes não assustam mais. Ela passa os dias ao lado do filho Enzo, preenchendo o tempo com esperança, mesmo ao escutar que ele pode partir a qualquer momento.
“Eu escuto muito que meu filho não irá resistir ou que não vai aguentar ou que não dá para saber o dia de amanhã. Mas eu não desisto de estar ao lado dele”, diz Tatiana.
Enzo Vinicius dos Santos Silva nasceu no dia 22 de dezembro de 2011. A gestação e o parto foram tranquilos. Segundo a mãe, o filho tinha saúde até completar 11 meses e ser diagnostico com hidrocefalia e paralisia cerebral.
Quando tinha um ano de vida, Enzo passou por uma cirurgia para colocar uma válvula na cabeça. Ele não levou mais uma vida normal, ao contrário das irmãs. O estado de saúde piorou e o quadro de gripes e pneumonia o levou diversas vezes para o hospital.
“Foram alguns dias de idas e vindas do hospital, até que em 2017 ele piorou de vez e precisamos interná-lo. No dia 16 de maio daquele ano ele teve uma parada cardíaca na enfermaria e foi para o CTI (Centro de Terapia Intensiva)”, lembra Tatiana.
Assim que internado, na Santa Casa de Campo Grande, Enzo sofreu outras duas paradas cardíacas e chegou a ficar entubado por dias. Alimentos comuns não eram mais aceitos pelo organismo e a criança precisou de uma dieta restrita.
A rotina da mãe mudou completamente. Sogra e a mãe se revezam para acompanhar e cuidar das outras duas filhas de Tatiana fora do hospital.
Os últimos dois anos foram de dias intensos. Tatiana permanece 24 horas ao lado dele. Não trabalha. E, de vez em quando, tira um tempinho para voltar para casa e abraçar as duas filhas, de 11 e 13 anos, que também sentem falta da presença da mãe, mas sabem da luta dela pelo irmãozinho. “Elas entendem o que eu estou fazendo aqui, ainda que existam pessoas que me cobram e falam que eu não dou atenção para as minhas filhas. Mas eu sei que elas estão bem e que o que estou fazendo aqui é o certo”, explica.
Em 2018, após oito meses de internação, Tatiana lembra que o médico liberou Enzo a voltar para casa. Para surpresa de todos, uma semana depois o menino apresentou piora no estado de saúde e retornou ao hospital. “Desde então estamos aqui. Neste domingo completa dois anos de hospital”.
Gradativamente, o quadro de saúde piorou e o seu estado inspira cuidados. “Os médicos não têm muita explicação sobre como ele vai ficar daqui pra frente. Ele está no hospital por causa de uma medicação para o coração. Não sabemos o que pode acontecer com ele se retirar essa medicação”.
Quando o menino apresenta instabilidades no estado de saúde, a mãe é preparada pela equipe médica. “Eles conversam comigo que talvez o Enzo não resista. Ano passado recebi a informação que ele só teria uma semana de vida, mas acabou resistindo. Hoje, não sei quanto tempo ele ainda vai ficar com a gente, mas eu não desisto e me sinto preparada para qualquer coisa”.
Tatiana se tornou uma mãe que assiste seu filho lutar pela vida diariamente. Ela ainda aguarda uma resposta positiva no quadro de saúde do menino. Apesar da montanha-russa de emoções, ela não deixa de sonhar e nem de transformar a vida de Enzo com cores. No último fim de semana, a mãe protagonizou uma comemoração de aniversário de 8 anos, com tema do super-herói “Huck”.
“Mesmo que eu escute que é impossível saber o dia de amanhã, eu vivo o hoje. Tem dias que eu estou esgotada. Mas não consigo deixar de pensar nele e fazer o melhor pra ele”, descreve.
Ela atribui a força dentro do hospital à equipe. Médicos e enfermeiros, de tão próximos, se tornaram bons amigos. “Aprendi a ser mais paciente com eles. No início, eu era conhecida como uma mãe barraqueira e aprendi a esperar mais, a entender que cada coisa tem o seu tempo e a sofrer menos”.
Quando conversa sobre o futuro, Tatiana pensa em saúde, mas também fala da possibilidade de uma despedida. “Não sei quanto tempo ele vai viver, mas sei que hoje não peço para ele ficar por mim. Hoje eu peço que ele fique enquanto tem que ficar. Se ele partir, vai doer muito, talvez, para sempre, mas vou entender que chegou o momento dele”.
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