Monogâmico ou não, gays e lésbicas querem o direito de viver a afetividade
Estereótipos não combinam com relacionamentos afetivos. Ao menos não deveriam. Acreditar que todo gay ou lésbicas são promíscuos, que mantêm vários parceiros ao mesmo tempo, por exemplo, é de longe um equívoco.
No primeiro Tricô das Bichas, realizados na tarde de ontem em Campo Grande, estudantes e professores de diferentes cursos da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) discutiram o tema em uma roda de conversa que promete ter novas edições.
“O padrão de afetividade já está estabelecido. Por mais que os alunos tenham divergência sobre o tema, o que todos querem é a afetividade. Como você vai viver a afetividade, claro que isso varia de acordo com o que alguns acham que podem viver, pode ser monogâmico ou no poliamor. Não só os gays têm vários parceiros, isso é comum em relacionamentos héteros, acontece o tempo todo, homens terem mais de uma esposa”, afirma o professor Aparecido Francisco dos Reis, 52 anos.
Na roda de conversa, o que mais tem é divergência. Há quem defenda a liberdade de ter múltiplos parceiros como uma vitória, uma inspiração do caminho que os movimentos feministas começaram a traçar nos anos 60. Enquanto outros acreditam que a opção de ter relacionamentos monogâmicos deve ser explorada e aceitada pelos amigos e familiares.
Infelizmente, o ponto de encontro é a insatisfação ao ter essa afetividade reprimida, não importa como ela apareça. “Relacionamentos com mais de uma pessoa só valem para os héteros, para os gays isso é promiscuidade. Isso para pessoas que vivem dentro do padrão da questão héteronormativa. Mulheres também são julgadas dessa forma, ela é uma biscate, uma puta”, esclarece.
Segundo Aparecido, o que costuma ser frequente são gays seguindo os preceitos monogâmicos, do ponto de vista heteronormativo em uma tentativa de ser aceito com mais facilidade pela sociedade. “Isso é ilusão, a partir do ponto de vista héteronormativo não se acredita que possa existir amor em um relacionamento homossexual, afetividade entre dois homens ou duas mulheres, porque acredita que o amor é só aquele que pode ser visto entre um homem e uma mulher, mas nunca entre dois iguais. O que está dado como padrão de amor é esse”, reflete.
O professor conta que tem casos de alunos que não se consideram promíscuos do ponto de vista hétero e decidem ter relacionamentos sérios para serem aceitos com mais facilidade. “Um estudante falou comigo, contou que nunca se relacionou com vários parceiros, queria ser aceito pela mãe e então arrumou um namorado. Achou que seria melhor, com base nessa ideia do amor romântico. Mas, a mãe não aceitou do mesmo jeito”, frisa.
O que fica é a ideia de quem ninguém deve julgar a forma como o outro encontrou para viver sua afetividade, desde que exista respeito e reciprocidade entre os parceiros. “Afetividade não é só amor, mas é erotismo, por um ou mais parceiros, não é uma coisa que esteja reduzida a essa ideia restrita que só duas pessoas podem viver isso, pode ser algo duradouro como ela pode ser vivenciada em relacionamentos transitórios”, diz.