Na experiência de ser Noelete por 1 dia, descobrimos como nasce trauma de Natal
São três camadas de roupa para "vestir" literalmente o personagem de Mamãe Noel ou Noeletes. Meia-calça branca, short, blusa e um vestido por cima. Sim, o traje é quente. Para finalizar, uma tiara nos cabelos, que estão sempre soltos e bonitos. Tudo o esforço é para dar um ar ainda mais angelical a quem assume a responsabilidade de deixar os olhos das crianças brilhando de alegria.
Tudo bem, que nem sempre é assim. Durante as horas de trabalho é comum ouvir os pais falarem "se não sorrir o Papai Noel não dá presente" ou o clássico "se não se comportar não vai ganhar a bicicleta". Apesar de negarem nas entrevistas, durante o momento de maior tensão, ou seja, convencer a criança a tirar uma foto com o bom velhinho, acontece de tudo. E assim surgem os primeiros traumas natalinos, da pressão infundada em cumprir com o protocolo. Bom mesmo é deixar as crianças livres.
Para a equipe que está trabalhando vale pensar e agir positivamente. Nada de ameaças, pelo contrário. As Noeletes do Bosque dos Ipês precisam ser educadas, gentis e sempre agradar as crianças. Normalmente, não só os pequenos se assustam, mas os pais também ficam dando voltas, meio sem jeitos de chegar pertinho, perguntar se é gratuita a foto.
Alguns, inclusive, chegam com seus traumas muito bem definidos. Elidiane Szimanskm da Silva, 30 anos, descobriu na infância que Papai Noel não existia e isso acarretou um trauma para o resto da vida. "Na verdade eu nunca quis que ela acreditasse no Papai Noel. Ela que decidiu vamos ver o Papai Noel. Nós fomos levando aos poucos e esse ano ela pediu para sentar do lado. Sem muita expectativa", afirma Elidiane.
Segundo os pais, em casa não tem essa de acreditar no Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa. "Nós explicamos que é um personagem", explica o pai, Eduardo Silva Escrivano, 33 anos, funcionário público.
Mesmo assim, contrariando os pais, a menina chegou sorrateiramente e conseguiu uma aproximação com o bom velhinho, com direito a bala e foto para a posteridade. Enquanto isso, quem auxilia precisa ficar atento e sempre receber e se despedir da criança corretamente, sendo gentil e abaixando para falar com o pequeno. Ajuda bastante.
A movimentação costuma atrair curiosos. Alguns chegam em bando, outros tem crianças ou não. A maioria só quer dar uma olhadinha na decoração completa. As meninas que trabalham no shopping são bem novinhas e o pré-requisito é gostar de criança.
Vale usar a voz mansa e conversar com eles. Há quem seja animado. Corre para o bom velhinho sem nem olhar para trás. É o caso da pequena Sofi Figueiredo Leandro Gomes, 1 ano e 9 meses, que até manda beijo de longe para o Papai Noel.
"Ano passado ela morria de medo, olhava para ele com pavor, mas tinha uns sete ou oito meses, ela não queria ficar perto. Mas, hoje ela chega e quer ficar conversando. É o Papai Noel. Ele até conhece ela, se eu não venho com a Sofi aqui, ela faz um escândalo", conta a mãe Luciana Figueiredo Leandro, 23 anos.
Durante meu período de Noelete no Shopping Bosque dos Ipês das 16h às 18 horas, os meninos pareceram os mais sociáveis com o Papai Noel. Nada de crise. Podiam até ficar mais tímidos, mas sediam, sentavam na cadeira e davam um sorrisão para a foto.
Os pais também se comportaram bem. Fora algumas excessões, não rolaram muitas ameaças. O filho que rejeitava tinha todo o direito de sair caminhando sem olhar para trás. Para o Papai Noel, é muito importante que os pais não forcem o pequeno.
"Alguns pais não educam direito a criança e querem transferir a a responsabilidade para personagens como o Papai Noel. Isso não deve acontecer. Eu converso, falo sobre o comportamento, mas são regras simples, como comer direitinho, escovar o dente. Tento fazer a criança entender que ela vai ganhar presente de qualquer jeito, mas se tiver bom comportamento, um melhor pode vir", garante.
Nem com essa promessa Jade Palácio Fernandes, 2 anos e sete meses, tirou foto com o Papai Noel. Decidida, ela balançou a cabeça e saiu caminhando. "Tenho mais duas filhas, ela não tinham medo. Não sei se a Jade tem medo, acho que ela não tem medo, só fica encabulada, porque com o outro Papai Noel ela tirou foto, o que é um boneco", explica Janaina Palácio, 44 anos, mãe da pequena.
Mesmo rejeitando a figura natalina, Janaina diz que a filha aceitou a foto ao lado de um amiguinho da mesma idade em outro Shopping e garante que foi sem ameaça. "Não falo que ela não vai ganhar presente ou que a polícia vai prender. Não acho isso saudável", diz.
O que fica da experiência de levar uma criança pelas mãos e acompanhá-la até os braços do bom velhinho é receber um pedido como o de Isabelly Alburquerque Brites, de 4 anos. "Quero escrever uma carta para o Papai Noel", pediu, apontando para a caixa de correio vermelha.
Carinhosa, com direito a abraços repentinos e uma mãozinha gordinha, a pequena que mora no Jardim Columbia adorou a bala, a Noelete, mas saiu de lá calada e sem conseguir sentar na cadeira do Papai Noel. Apesar disso decretou: "Eu gostei da sua roupa". Vanilda Francisca da Silva, amiga da mãe de Isabelly que acompanhava a criança no passeio diz que ela é bem faladeira. "Ela é carinhosa. Um amor mesmo".