No mês da Síndrome de Down, vacina para Juliano foi presente
Juliano diz que sonha em ver os amigos vacinados e ficar com a namorada quando estiver 100% imunizado
Felicidade é o sentimento que tomou conta ontem de Juliano Valera logo quando foi acordado pela mãe, Malu Fernandes, que ficou até o fim da noite de sexta-feira acordada para finalizar o cadastro do filho e levá-lo para tomar a primeira dose da vacina contra a covid-19, que foi liberada neste sábado (27) para pessoas de 18 a 60 anos com comorbidades, incluindo as pessoas com deficiência.
Para quem não sabe, Juliano é emblemático na cidade. Aos 28 anos, ele é o jovem que dá nome a uma das principais instituições de apoio as crianças e adolescentes com Síndrome de Down em Campo Grande, a Associação Juliano Varela, que hoje luta para construir sua nova sede.
Chef de cozinha, youtuber e um apaixonado por tudo o que a sua história de vida representa, Juliano luta ao lado da mãe para que pessoas como ele não fiquem escondidas do mundo pela diferença e se abraçam contra um preconceito que continua na ativa.
Por isso, a contemplação com a vacina fez mãe e filho explodirem de felicidade. Acompanhado da amiga de infância e jornalista Caroline Merlo, Juliano foi até a sala de vacina e se tornou uma das pessoas com Síndrome de Down vacinadas neste sábado.
Foram três horas na fila da UBSF Arnaldo Estevão de Figueiredo à espera da vacina. E nem o sol forte e o calor desanimaram Juliano, que sabia bem a importância daquele momento. “É a vacina para não pegar corona”, explicava.
Quando questionado o que faria depois que tomasse a segunda dose e estivesse imunizado, os olhinhos semicerrados pelo sorriso largo que explodia por trás da máscara quase falavam por ele. “Quero ver minha namorada. Estou namorando. É a Kelly”, contava radiante.
Por crescer em ambiente onde o senso de coletivo é muito presente, ele não escondeu o desconforto ao ver poucos colegas com Síndrome de Down na fila. “Tinha que vacinar todo mundo da minha escola, todos os meus amigos”, pediu.
Após tomar a primeira dose, saiu da sala de vacina direto para o abraço acolhedor da mãe, que também não segurou a emoção.
“O mês de março é um dos mais importantes para quem luta pela causa das pessoas com Síndrome de Down. Esse ano nos trouxe uma grande alegria. Durante o mês deles, conseguiram a liberação da vacina. Sinto que foi o maior presente deste ano, comemorado em nosso coração com muita alegria”, descreveu Malu.
A mãe, que também é diretora da Associação Juliano Varela, explica que as pessoas com a síndrome tendem a ter baixa imunidade, hipertensão e problemas cardíacos. Por isso, a covid-19 para elas é devastadora. “Estamos cuidando com muito zelo de cada vida. Mas só na Juliano Varela já perdemos três alunos para a covid-19”, conta.
Para manter todos os cuidados, a instituição suspendeu todas as atividades presenciais. A ação que já dura um ano e três meses também impacta em doenças emocionais. “Agora, com a vacina, temos esperança de termos nossos alunos sendo felizes, jogando futebol, nadando, dançando, namorando, vivendo a vida deles como eles merecem viver. Agora eu só tenho que agradecer imensamente por essa liberação. Felicidade é o temo que nos define hoje”, diz Malu.
Para Caroline, que fotografou e registrou em vídeo cada momento até a “picadinha” da vacina, o dia foi uma satisfação inexplicável. “Juliano é meu irmão de coração e vê-lo vacinar é um misto de emoções. Todo mundo está a espera desse dia, de se sentir seguro, mais protegido, com a esperança de que esse pesadelo acabe logo”, finalizou.
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