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Comportamento

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Em Campo Grande, Coletivo M.A.S.S.A reúne homens para debater assuntos relacionados ao exercício da masculinidade no mundo atual

Lucas Mamédio | 07/05/2020 06:12
Normalmente apenas homens participam das reuniões do M.A.S.S.A (Foto: Arquivo Pessoal)
Normalmente apenas homens participam das reuniões do M.A.S.S.A (Foto: Arquivo Pessoal)

Um tempo atrás, acompanhando a entrevista de um grande ator brasileiro que comentava o comportamento de um famoso personagem da nossa política, dei muita risada e, logo depois, fiquei meio reflexivo com a potência da frase proferida por ele para definir o político. Segundo o entrevistado, o tal político “era um homem iludido com a própria virilidade”.

Não é pra colocar a mão no queixo e pensar: como assim?

Na verdade, o que ele dizia é que alguns homens são tomados pela necessidade de uma masculinidade impositiva, que tem de ser explicitada a todo momento. E essa autodemanda guia as atitudes desse homem, custe o que custar.

Pra debater – e combater - esse comportamento, alguns homens se reuniram em Campo Grande e criaram o Coletivo M.A.S.S.A, sigla para Coletivo de Masculinidade Autêntica, Sensível, Saudável e Acolhedora. Na prática, eles querem desconstruir esse conceito mais atual de masculinidade tóxica, do “chernoboy”, e ajudar a construir no lugar um cara minimamente tragável.

O idealizador e criador do coletivo foi o psicólogo de formação Amin Taher Asrieh, de 30 anos. Segundo ele, a vontade nasceu depois de um momento difícil em 2018. “Eu tinha um empreendimento que não deu certo e que me deixou numa situação de muita vulnerabilidade emocional”.

Já muito atento ao papel do homem no mundo de hoje, Amin pensou que podia existir um espaço em que outros homens conversassem sobre essa vulnerabilidade que vez ou outra afeta todos nós. “Percebi que dividir o momento que estava passando podia ser útil pra outros homens, mostrar que temos nossas fraquezas também”.

Amin, então, entrou em contato com outros dois amigos, explicou a ideia e eles deram início a primeira reunião. “As primeiras duas reuniões foram só com homens convidados, não sabíamos ainda como lidar com tudo, como tocar as discussões, depois só que abrimos para quem quisesse participar”.

As reuniões acontecem normalmente uma vez por mês, cada uma em um local previamente escolhido, mas não fixo. Por conta da pandemia, agora os encontros estão sendo online a cada 15 dias.

No grupo de Whatsapp, que reúne a maioria dos homens que já passaram pelas reuniões e são mais assíduos, tem cerca de 70 membros. “Mas nas reuniões não vão todos sempre”.

Cada reunião tem um tema específico. Nesse período de dias das mães, por exemplo, o tema é: “Você é machista com a sua mãe?”, e assim por diante, com vários assuntos pra refletir sobre o papel do homem e o exercício da masculinidade.

São variados temas todas as reuniões (Foto: Arquivo Pessoal)
São variados temas todas as reuniões (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Amin, debater a sensibilidade, a não aspereza da masculinidade é essencial num mundo em aguda transformação. “As mulheres não são mais as mesmas, por que seríamos? Se elas debatem o lugar delas no mundo, nós também temos que debater”.

Nesse sentido, esse homem mais consciente e preocupado com suas atitudes, é não só uma ação, mas uma reação a uma nova mulher. “São mulheres que se livraram de famílias patriarcais, que são independentes, então que homem sou eu diante dessa nova mulher?”.

Amin foi o idealizador do M.A.S.S.A (Foto: Arquivo Pessoal)
Amin foi o idealizador do M.A.S.S.A (Foto: Arquivo Pessoal)

As reuniões são frequentadas por vários tipos de homens. Um deles é o professor de história Victor Hugo Xavier Flandoli, de 30 anos. Ele é casado, sempre se julgou um cara progressista, mas só se atentou para a possibilidade de debater sua condição mais a fundo após assistir ao lançamento do documentário “O silêncio dos homens” veiculado pelo M.A.S.S.A ano passado, junto com coletivos do Brasil todo.

“Eu nunca tinha ouvido falar em masculinidade tóxica e nem em saudável, nunca tinha ouvido falar nesses termos. O documentário me deixou super em choque, me fez pensar como essa masculinidade imposta por padrões sociais é ruim não só para as mulheres, é claro, mas também para os homens”.

Victor, que é casado com uma mulher ligada ao movimento feminista, já tinha razoável contato com discussões de gênero, mas trazendo o debate para o lado de cá, novos horizontes de pensamento foram abertos.

“Uma coisa me tocou muito, que foi me ligar que as mulheres têm mudado, estão ocupando espaço, estão se impondo, mas e os homens? Que mudanças estamos fazendo? E isso me estimula a melhorar como homem, como companheiro, como filho, como companheiro de trabalho mais respeitoso com as mulheres”.

Mas como levar esse debate tão importante ao homem mais simples, que não é psicólogo, que não é professor de história, que não é jornalista? Amim ainda vê esse passo como um desafio.

Victor se vê como novo homem depois de começar as discussões. (Foto: Arquivo Pessoal)
Victor se vê como novo homem depois de começar as discussões. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Essa cultura patriarcal coloca o homem em um local de privilégio e questionar isso é um problema para esse homem machista, mas é um trabalho que deve ser feito aos poucos e precisa ter um começo, como o nosso”.

Ele completa: “na minha visão, a gente está fazendo o que todos os homens deveriam estar fazendo, mas no mundo em que vivemos hoje, acredito que pode ser chamada de uma atitude revolucionária”.

Serviço – Durante o período de pandemia, o Coletivo M.A.S.S.A está oferecendo acolhimento psicológico de graça para homens. Mais informações, inclusive de como participar dos encontros, podem ser obtidas no perfil do Instagram @coletivomassa.

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