Repercussão contra casal de lésbicas gerou até boato de demissão da PM

A repercussão foi das grandes. Quase 400 mil leituras em um só dia no Campo Grande News. Mas o preço também foi alto para as partes envolvidas. O pedido de casamento da policial militar, que abordou a namorada com aliança em um pedido de casamento especial no último domingo (31) – a chamada “operação noivado” –, fez surgir até o boato de que Janaina Aureliano Borges, cabo da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul), seria exonerada da instituição em que já atua há 11 anos.

Ao lado da noiva, Aline Marengo, ela acompanhou durante o dia a enxurrada de comentários sobre a reportagem mais lida do Campo Grande News no primeiro dia de fevereiro. Mas as duas já estavam precavidas, garantem.

"A gente já estava preparada para a enxurrada de comentários negativos, tanto é que concordamos em fazer a matéria. Campo Grande ainda é sim uma cidade muito preconceituosa. O povo sente a necessidade de externar a maldade, o ódio, procurando qualquer coisinha para criticar, seja por serem duas mulheres noivando ou da minha 'atitude' profissional", afirmou Janaina.

Após a repercussão, ela faz questão de deixar bem claro: "toda a ação demorou menos de 15 minutinhos, ocupando somente os policiais que estavam junto comigo e em horário de almoço, justamente para que não houvesse prejuízo no tempo de serviço de ninguém".

O boato de que seria afastada da PM foi desmentido pelo seu próprio comandante, mas a ação será apurada, "por praxe", diz Janaina. "Ele me ligou de manhã primeiramente parabenizando a 'operação'. Em seguida, informou apenas que um procedimento padrão seria instaurado para apurar se houve algum tipo de transgressão. Isso é super normal, algo inclusive que eu já esperava. Estou com o coração tranquilo porque foi tudo dentro dos conformes", garante.

Planejada por Janaina, a 'operação noivado' recebeu o aval do comandante imediato, que também era o fiscal de serviço naquele dia de patrulhamento – seu plantão. "Então é bom esclarecer que houve sim solicitação e que esta foi permitida. Sendo assim, a hierarquia militar foi respeitada".

Após o resultado da reportagem feita em exclusividade pelo Lado B, Janaina interpreta como "maquiagem" todo o preconceito que ela e sua noiva sofreram nas redes sociais no dia de ontem. "Usaram a justificativa de eu ter feito um 'uso indevido de dinheiro público', o que considero não só um argumento fraco, mas uma máscara ao preconceito", considera.

Em outras ocasiões, é comum a presença de viatura policial em festinhas de criança ou até mesmo servir como uma forma de homenagem ao sargento aposentado, por exemplo. Então porque toda essa repercussão em cima da gente? Puro preconceito. Não estou aqui para agradar todo mundo.

Isso sem falar da enxurrada de mensagens "iradas" no Direto das Ruas, o canal de interação com o leitor, além de comentários raivosos postados na página do Facebook do Campo Grande News. "Quem é homossexual precisa ter a consciência de que o preconceito existe e não se cala facilmente. Cabe a nós levantarmos a nossa própria bandeira. Entretanto, o que teve de gente falando mal também tiveram muitos parabéns, desejando só a nossa felicidade e vida longa ao casal", agradeceu.

Independente do ocorrido, as duas ainda se encontram em estado de êxtase, felizes da vida por terem selado o laço no relacionamento. "Foi o último presente de 'namorada' que dei à Aline. Daqui pra frente, só presente de casamento!", brinca Janaina. E por falar em matrimônio, a data já está marcada para dezembro do ano que vem.

Caso semelhante – Em 2019, o Lado B fez uma matéria bem parecida com o caso de Janaina e Aline, porém se tratando de um casal heterossexual. Naquele episódio, um homem pediu ajuda da PM para fingir uma operação de prisão por tráfico de drogas, mas que no fim o apaixonado revelou ser uma pegadinha, pedindo a amada em casamento na sequência.

A repercussão, no entanto, foi completamente diferente de agora, bastante positiva, apesar do mesmo gasto com tempo e dinheiro público.

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