Sara, a menina que não tinha motivo para rir é quem mostra felicidade todo tempo
Com hidrocefalia, esta menininha de 4 anos vai te fazer sorrir junto com ela daí
Sara se espreguiça da soneca que acabou de tirar. Finalzinho de tarde, tempinho nublado e a cama depois de um dia inteiro de estímulos é mais do que convidativo para a menininha. Quando a reportagem bate à porta de casa, ela desperta e mesmo acordando, abre o maior sorriso do mundo, sua marca registrada. Com hidrocefalia, a menina de 4 anos, que não teria motivos para sorrir, é quem mais estampa o que é felicidade no riso e no olhar.
Na semana que passou, durante uma visita ao Cotolengo, o Lado B se encantou pela menininha. De rabo de cavalo com trancinhas, ela não parava de movimentar a cabeça e os bracinhos no mesmo ritmo em que abria um sorrisão. Era alegria demais para um corpinho preso à cadeira.
Nossa curiosidade foi tamanha que batemos lá na casa dela. Sara mora com a avó, a mãe e a irmã mais velha numa simples residência no bairro Jardim das Cerejeiras, em Campo Grande. Dona Hilária, a avó, quis até desmarcar a entrevista por sentir vergonha do estado das ruas, sentimento que deveria pertencer a quem administra o imposto pago pela família de Sara e não elas.
A primeira via de acesso para chegar à casa dela estava impossível de se chegar com carro. "A cadeira não pode vir para cá, fica lá no Cotolengo, ainda mais neste tempo de chuva. Então a gente leva ela no colo", resume a cozinheira Maria Hilária Vilalba, de 60 anos.
Ainda na gestação, a mãe de Sara, Eugênia, soube de todo o problema de saúde da filha. Na primeira ultrassonografia, o médico chegou a cogitar para ela a hipótese de aborto e que era para a família buscar um especialista na Santa Casa. "Ela tinha que colocar uma válvula na cabeça, porque tinha bastante água. A Sara foi um milagre, a prova de que Deus existe para a gente", se emociona a avó.
Do quarto para o quinto mês que a mãe conta ter ganhado mais tranquilidade. "Primeiro disseram que ela tinha a cabeça aberta e não tinha cérebro. Eu não ia tirar, se eu fiquei grávida, por que ia tirar?", se perguntou a faxineira, Eugênia Vilalba, de 26 anos.
Mais adiante, um exame de ultrassom minucioso mostrou que a cabecinha da filha estava fechadinha, além de confirmar o diagnóstico de hidrocefalia. "Aí continuei o acompanhamento. No parto, eu poderia ter hemorragia, morrer e ela viver ou eu viver e ela morrer ou ir nós duas", recorda a mãe.
A cesárea durou mais que o necessário, mas não pela saúde da filha. Foi a mãe que teve uma hemorragia. "Aí trouxeram ela pertinho de mim e sabe que nem precisou operar? Ficamos só duas semanas no hospital para ela fazer todos os exames e ganhar peso".
A conversa se dá com a família, mas no colo da avó, Sara sabe que é dela que estão falando e não economiza em gracinhas. Ri, olha para a gente e solta gritinhos. Em casa, o que mais se ouve ela dizer é "ai vó". Na rotina, todo mundo "entrega" que a menina come de tudo, até mesmo jiló.
Dia desses a baixinha deu um susto: começou a ter crises de convulsão acompanhadas pela epilepsia. Qualquer movimento involuntário da pequena é motivo de preocupação da mãe e da avó, que apesar da simplicidade, entendem quão sérias são as consequências da hidrocefalia na menina que inspira felicidade.
"Ela é super sorridente e entende tudo o que você fala. Faz cócegas nela, faz", brinca a mãe. O nome era para ser Vitória, porque a criança nasceu de uma conquista própria, mas a promessa do tio que a fez se chamar Sara. "Ele prometeu na igreja dele que se ela nascesse, ia se chamar Sara", explica a mãe.
A vontade de Sara de brincar é imensa, dá para ver nos olhinhos da menina, e a felicidade de ter visita em casa, também.
"Eu considero ela um milagre, e ela ainda vai andar e a gente vai sentar e conversar disso de novo", antecipa a mãe. E talvez seja a esperança da família o combustível para tanta alegria da menina.
"Ela é feliz, do jeitinho dela, mas é feliz", comemora a avó.
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