Sem cerimônia, grupo ocupa a Orla para fazer churrasquinho entre novos amigos
Um misto de espontaneidade e o desejo de se divertir tornou diferente o cenário da Orla Ferroviária, no cruzamento da Avenida Calógeras com a Mato Grosso. No fim de semana, grupo que saiu de diferentes regiões do País para tarbalhar aqui decidiu fazer um churrasquinho e, sem cerimônia, providenciou o churrasco sob um pé jaca, no meio da Orla.
Todos estão na Capital a trabalho, há pouco mais de um mês. Foram contratados por uma empresa, para exercer a função de montador de andaime e ficam na cidade até o fim das obras. Depois, se novas oportunidades surgirem, eles vão para outra cidade, arriscarem uma nova proposta. Por enquanto, estão no Hotel União, na Calógeras.
Ali quando o telefone de cada um toca, do outro lado da linha está a saudade. A maioria é casada e deixou os filhos em casa. "Aqui todo mundo tem um sonho, tem uma construção pra fazer", explica Evanildo Arivaldo de Neves, 41 anos.
Natural da Bahia, Evanildo é casado e pai de três. Deixou a família para conseguir ganhar dinheiro e dar um vida melhor a todos. A qualificação nesse tipo de serviço, segundo ele, acaba vindo de fora e eles ganham um papel importante no desenvolvimento da cidade. "A construção termina, mas ninguém imagina quem trabalhou por trás disso. Mas é a gente que deixa a família pra trás e vem ganhar dinheiro", diz.
Acostumado com o axé da Bahia, Evanildo diz que gostou da cidade pela calmaria. "Eu não gosto muito da muvuca não. Achei uma cidade tranquila. Passei um ano trabalhando em Três Lagoas e depois vim pra cá", conta.
Ele exerce a função há 18 anos, admite que a saudade sempre bate, mas é feliz no trabalho pela chance de dar um vida melhor aos filhos. "A gente sente falta né, mas é o nosso trabalho, já estou acostumado", ri.
Com um churrasqueira pequena, dividida entre eles, à sombra das árvores os trabalhadores fazem questão de falar da cidade. Simpatia é unanimidade sobre as características do campo-grandense, mas quando assunto é diversão, não há tanta gente satisfeita.
De Minas Gerais, Daniel Junior da Silva, 25 anos, disse que a cidade é parada. "Falta um forró né?", brinca. "A gente que vem de um lugar animado, aqui sofre. Mas eu achei um bolero ali em frente da Feira Central, que vou te dizer, é bacana", sugere.
Como todo mundo é animado, não perde tempo de armar o churrasco. "A gente trabalha a semana toda, chega sábado tem que ter um churrasquinho e uma cerveja. O lugar é tão bonito, que a gente resolveu ficar aqui", explica.
Criado na roça, Gleison Pereira, de 25 anos, ficou surpreso pelo tamanho da cidade, mas ainda não se adaptou a geografia. "Aqui é tudo baixada, onde eu morava só tinha morro", menciona.
Com experiência como encarregado de obra, a oportunidade de emprego também ajuda a família. "Vim atrás da folha (dinheiro), sem ela não dá pra viver. Lá na roça a gente trabalha demais e ganha muito pouco lamenta".
Como tudo era novidade, Gleison resolveu experimentar o que há de mais típico na cidade, o tereré, mas não curtiu muito. "Rapaz, a erva boa, mas tira o sono da gente. Fiquei a noite inteira sem dormir", ri.
Já Francisco de Assis, 35 anos, ficou curioso pelo sobá. "Ainda não provei, foi só o tereré mesmo, é melhor que erva gaúcha", avalia. Pai de 2 filhos, deixou o serviço de supervisor epidemiológico em Minas Gerais, para ser montador. "É um temporada pra investir na minha família. Eu tenho sonho de construir uma casa. Então, o jeito é trabalhar".
Durante o churrasquinho no sábado, quem passava na rua, ficava curioso, mas a turma não se importou. Com carne, linguiça e milho no fogo, por ali, a conversa foi longe. Campo Grande os uniu e a amizade é a força para seguir com o trabalho. "Pra gente que fica fora de casa, é como se fosse uma família mesmo, então a gente tem que se divertir", reforça Daniel.
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