Transplante não salvou vida de Ricardo e torcedor ganhou homenagem do Fluminense
Ricardo Wagner Pedrosa Machado lutou durante meses contra um câncer, sem nunca deixar de lado sorriso e a esperança. Mas no dia 19 de outubro, a família se despediu do super torcedor do Fluminense, que abraçou Campo Grande em 1983. O orgulho pelo tricolor carioca foi retribuído no último domingo, durante a partida entre Fluminense e Bahia, no Maracanã. O minuto de silêncio foi suficiente para emocionar os filhos e aumentar a saudade.
Aquele dia, o que menos importou foi o resultado da partida. "Procurei sinais dele em todos os lugares e em todos os momentos. Subi aquela rampa, a mesma que subi pela primeira vez em 1992 de mãos dadas com ele. E antes do previsto, o Maracanã se calou pelo meu pai e ele se sentiu em paz, tenho certeza", descreve o médico Thiago José Maksoud Machado, de 30 anos, um dos filhos de Ricardo.
Ricardo foi atleta do Fluminense, onde ganhou destaque no time de Water Polo, durante toda década de 70. Era um menino quando começou a nadar nas Laranjeiras, por conta de uma bronquite e recomendação médica. Foi considerado o melhor jogador do Campeonato Carioca, campeão em torneios do Water Polo Brasileiro e até convidado para a seleção brasileira. Mas a motivação de Ricardo sempre foi acompanhar de perto o desempenho do time predileto em campo, até os últimos dias de vida.
Entre 1969 a 1983, Ricardo só perdeu um jogo do Fluminense no Maracanã, porque veio em embora com a família para Campo Grande. "Ele cantava aos quatros ventos que só perdeu o jogo em um sábado de Carnaval, porque Carnaval ninguém é de ferro. Mas tinha o maior orgulho em dizer que viu seu time ser campeão".
Apesar da distância entre Campo Grande e Rio de Janeiro, nada mudou na relação do pai com o Flu. "Ele comprou um rádio para continuar escutando o Tricolor à distância. Conseguiu fazer eu e meu irmão mais velho tricolores, e com ele, fomos inúmeras vezes ao Maracanã, Engenhão, Moça Bonita, Edson Passos, Volta Redonda e São Januário, assistir ao Fluminense".
O amor era tanto que nem Copa do Mundo disputou sua fidelidade com o time de coração. "Ouvia ele falar que sua seleção era o Fluminense e que a Copa do Mundo só teria importância se o tricolor jogasse", recorda Thiago.
Mas neste ano, um diagnóstico foi determinante na vida de Ricardo. Ele descobriu um câncer no fígado, deu início ao tratamento e entrou na fila de transplantes por um órgão. "Quando ele ficou em quinto lugar na fila, ele e minha mãe foram morar no Rio de Janeiro a espera da cirurgia. Até que no dia 9 de outubro, recebeu a ligação que haviam encontrado um fígado para ele".
Mas uma complicação durante a cirurgia fez Ricardo passar por outros 2 transplantes. "Ele teve uma trombose no primeiro e segundo transplante. Após o terceiro procedimento, por um motivo que ainda não sabemos, ele não resistiu ao pós-operatório", descreve.
A família viu Ricardo vibrar, torcer, chorar e ficar de pé a cada partida. Sem perder o fôlego, correu vários lances da arquibancada quando o jogador fazia um gol inesperado, chegou a viajar 600km de carro só para ver o time ser campeão brasileiro, sofreu em cada eliminação e perda de título.
"Subir a rampa do Maracanã nunca mais vai ser igual. Mas quando o jogo do último domingo estava terminando o que menos importava era o resultado. Continuei procurando meu pai e finalmente encontrei, dentro de mim, nos meus gestos, na maneira de gritar gol, reclamar do juiz e no amor que tenho pelo Tricolor. E isso nunca vou deixar escapar. Ele estará sempre em mim e no coração dos meus irmão".
Dez dias após sua morte, a família encontrou conforto no gesto simples que eternizou a importância que Ricardo representou para o time. Veja esse momento no vídeo.