“Importado”, júri que avalia desfile fica incomunicável e guarda nota a 7 chaves
Empresa especializada em julgar carnavais brasil afora foi contratada pelas escolas na Capital
Quase três horas da manhã dessa quarta-feira (26), um homem com 18 envelopes lacrados chega em um dos camarotes, já vazio, e com as luzes apagadas da Praça do Papa, local onde o desfile das escolas de samba de Campo Grande foi realizado.
Esses envelopes contêm as notas dos 18 jurados que avaliaram os nove quesitos apreciados em um julgamento de escola de samba no Carnaval. São eles: bateria, samba enredo, comissão de frente, evolução, fantasia, enredo, harmonia, alegoria e adereço, mestre sala e porta-bandeira.
O homem do qual estamos falando é Daniel Ganen, carioca e coordenador do corpo de jurados desta edição do Carnaval de escola de samba da Capital. A única pessoa autorizada a falar.
Daniel separa, então, os 18 envelopes em três montes, representando os três grupos de jurados espalhados pela avenida. Mostra os envelopes lacrados a dois seguranças presentes e também ao presidente da Lienca (Liga das Escolas de Samba de Campo Grande), Eduardo Souza Neto, e então coloca dentro de uma bolsa que é fechada com cadeado e entregue a Eduardo.
Daniel é fisioterapeuta de formação e está aqui na Capital a serviço de uma empresa especializada em capacitar jurados de Carnaval, e que também oferece o serviço de avaliação, caso seja contratada, como foi para o desfile de 2020.
A contratação de uma empresa de fora do Estado foi uma demanda das próprias escolas, como explica o presidente da Lienca, Eduardo Souza Neto. “Nós explicamos que haveria um custo trazer uma empresa de fora, mas as escolas optaram por abrir mão de parte do nosso repasse para contratá-los”.
De acordo com Daniel, a empresa para qual trabalha, atua nesse mercado hás mais de 20 anos, recrutando pessoas que possam avaliar carnavais Brasil afora. “Nós temos 180 julgadores aptos a avaliarem e trabalhamos em várias cidades do país: Vitória, Salvador, até o próprio Rio de Janeiro”.
Segundo coordenador, a empresa contrata profissionais de várias áreas relacionadas aquelas julgadas por eles. “Eu tenho aqui comigo, por exemplo, um maestro, quem melhor pra avaliar harmonia – um dos quesitos – do que um maestro?”.
Os jurados, como dissemos, são de várias áreas diferentes e ganham a vida cada um a seu modo no resto do ano. “Eu mesmo sou fisioterapeuta, mas especializado em dança, por isso também sou capacitado pra julgar, reforça Daniel.
O coordenador também diz que é essencial prezar pela lisura da avaliação e da apuração, por isso o zelo quase ritualístico na hora de entregar pegar e entregar os envelopes. “Não jogamos nenhum rascunho de jurado no lixo, todos guardam e destroem com água em casa ou no hotel”.
A presidente da escola de Samba Igrejinha, Marisa Fontoura, gostou da mudança. “Mostra que a Liga está preocupada em profissionalizar o Carnaval de Campo Grande”.
Já o presidente da atual campeã, Unidos da Vila Carvalho, José Carlos Carvalho, é mais conservador. “Quando um time está jogando tudo certinho, a gente mão mexe nele, aqui em Campo Grande tem gente capacitada, mas agora vamos ver, tomara que dê tudo certo.”
José faz referência aos antigos jurados, recrutados em Campo Grande mesmo. A empresa foi contratada para dois anos de serviço, sendo esse o primeiro e 2121 o segundo e último.
O resultado do trabalho do corpo de jurados virá a conhecimento do público nesta quarta-feira (26). Conforme determina o regulamento, eles ministraram notas de 7 a 10, com permissão para fracionar em casas decimais, por exemplo: nota 7,1. A apuração começa 16h, no Teatro de Arena do Horto Florestal, ao lado do Instituto Mirim, na Vila Sargento Amaral.