A 15 km do Centro, Indubrasil é passeio com pé de figueira, pastel e churrasco
O bairro tem peculiaridades que chamam atenção de turistas e faz morador não desistir de viver longe.
Entre as conquistas da venda de salgados, o que orgulha Adriel Ribeiro Batista, de 36 anos, é levar uma vida mais sossegada, longe da turbulência de uma Capital. "Aqui acordo muito cedo, mas levanto tranquilo, em paz", diz. Há 1 ano, ele arrendou um ponto no Indubrasil, às margens da BR 262, lugar que também leva nome de Rua Indaiatuba, a 15 quilômetros do Centro de Campo Grande.
Noticiado pelos problemas, como o mau cheiro que atormenta moradores, falta de médicos aos fins de semana e uma unidade da Polícia Militar abandonada, Indubrasil tem diversão para trabalhadores e gastronomia que não passa despercebida por turistas, garante Adriel que é dono da "Grande Parada", endereço que existe há 24 anos e ganhou reconhecimento pela natureza exuberante representada por um pé de figueira, com aproximadamente, 100 anos de existência.
O local virou ponto de parada para um lanche, ida ao banheiro, a compra de CDs antigos e fotografias. "O último que parou foi um grupo de japoneses que estavam indo para o Pantanal. Todos desceram do carro para tirar foto e abraçar a figueira, ela é uma atração".
A árvore que já danificou parte da estrutura de concreto a sua volta é hoje o xodó de Adriel que torce pela sua força. "Quando chove muito a gente fica com medo porque ela bem ao nosso lado, encostada no telhado, mas eu torço para que ela fique em pé durante muito tempo", diz.
A localidade surgiu a partir do loteamento de fazendas, talvez, por isso, ainda leva características de endereço do sossego. "Moro aqui há 9 anos, é uma calma só. Venho trabalhar de madrugada e não tem problema", esclarece Rosane Paiva Gonçalves, de 21 anos. Para a jovem, a calmaria é bem-vinda. "Às vezes rola um pagode ou flashback, mas é bem raro, e até bom porque todo mundo levanta cedo", diz a funcionária da Grande Parada.
Assim como Rosane que chega cedo ao serviço, boa parte dos trabalhadores e comerciantes do Indubrasil levantam às 4h da madrugada. "Nesse horário já tem movimento. A gente atende muito turista e caminhoneiro", destaca Adriel.
Indubrasil tem escola, CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), mercado, lojas de iscas, ao menos cinco botecos e duas churrascarias, uma delas, faz sucesso com a demanda dos trabalhadores do pólo industrial por uma comida boa e barata.
Churrasco - Tem gente que sai de longe para experimentar outra especialidade de Indubrasil: picanha recheada com queijo e fechada com um belo pedaço de bacon. N Churrascaria Espeto de Prata, outra grande árvore é o chamariz para a churrascaria de quase 30.
Com o tempo o lugar se modernizou. Hoje tem grande janelas de vidro temperado e salão climatizado. Mas o que pega mesmo a clientela no fim de semana é o buffet livre a R$ 45,00, com 20 tipos de churrasco, desde o carneiro bem temperado e a costelinha suína, até a picanha selecionada e o "Cupim Mexicano", manteado e temperado com pimenta especial.
Ainda mais antigo na região, há 36 anos, o churrasco é servido do mesmo jeito no Restaurante Santo Antônio. Carne assada e linguiça são cortados em pedaços na chapa. O modelo é self-service e por R$ 15,00, turista e trabalhador comem à vontade. Foi o jeitinho que Antônio Leonel Alves, de 59 anos, encontrou para conquistar a clientela do distrito que dorme cedo. "Nove horas muita gente já está na cama, aqui o dia começa cedo", explica.
O churrascão batizado de "econômico" tem buffet livre com arroz, feijão, mandioca, macarronada, salada e farofa. Na hora de beber, quem quer economizar troca o refrigerante pelo suco servido em garrafa pet, feito pelo próprio restaurante e que custa R$ 3,00.
Mais do que aproveitar o sossego da região, para Antônio o restaurante é um recomeço na vida da família desde 1982, quando sofreu um grave acidente de trânsito na Capital. "Foi de caminhão, quase morri", diz ,mostrando a sequela no braço direito, sem conseguir movimentar parte dos dedos. "Não é mais a mesma força. Mas agradeço pela minha vida".
Ao perguntar se Indubrasil é um lugar bom para viver, a resposta é antecedida por um sorriso largo. "Com certeza. Não troco a calmaria daqui por Campo Grande ou qualquer outro lugar. Na cidade a gente só vai para fazer compras". Hoje, brinca que o churrasco e o gosto pelo distrito foi repassado aos filhos.
Mas Antônio não deixa de observar que, há alguns meses, serviços básicos como saúde e segurança estão ruins. "No posto de saúde não tem médico aos fins de semana. Se você passar mal de verdade tem que correr para Campo Grande ou esperar socorro, isso é muito ruim", conta.
Outro desafio é com a segurança. Apesar da tranquilidade relatada, Antônio teme com o fechamento do posto policial há meses. "Não sei dizer o que houve, só fecharam. E eu ajudei a construir esse lugar, dei comida para os trabalhadores durante muito tempo. A gente fica com medo de algo acontecer e a polícia não estar aqui", desabafa.
Do restaurante de Antônio as lanchonetes, o que reina também nas preferências gastronômicas é o pastel. Frito na hora, acompanhado com suco ou refrigerante, ele é o carro-chefe no Rota Pantaneira que pertence a moradora Jeniffer Dias, de 31 anos, que administra a empresa familiar e largou a rotina de Campo Grande para recomeçar um negócio no distrito. "Meu pai sempre trabalhou nesse ramo, então o salgado e a comida são aliados na nossa vida".
Além de salgados o lugar serve prato feito de R$ 12,00 a R$ 24,00 com bife acebolado e filé de frango. Mas o destaque fica por conta da porção de pacu ou tilápia a R$ 40,00, também frita na hora
De jubebox a cerveja - Indubrasil é lugar de boteco. Na manhã de sábado (5), um deles estava aberto, ao lado de um ginásio que parece abandonado no tempo. Morador do distrito, José Roberto França Soares, de 42 anos, faz parte dos pequenos comerciantes pela região com boteco de sinuca, jukebox e cerveja.
Sem falar muito da vida pessoal ele resume que o trabalho "tem futuro" por ali. "São muitos caminhoneiros por perto, alguns ficam dias aqui perto, então é bom ter algo para se divertir".
Ele também aproveita a reportagem para destacar problemas. "Esse ginásio aqui atrás merecia mais atenção, está abandonado, é perigoso até para a criançada". Na visão dele, o principal investimento poderia ser em esporte e lazer. "Ia fazer um bem para a região, até para as pessoas mais velhas", finaliza.
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