Baianas guardam histórias de muitos Carnavais e recebem homenagem pela 1ª vez
Nove integrantes da ala das baianas foram homenageadas na quadra da Catedráticos do Samba
As baianas são uma das figuras mais tradicionais do Carnaval e guardam a história das escolas de samba. Faltando uma semana para a folia, nove integrantes da ala das baianas foram homenageadas pela Escola de Samba Catedráticos do Samba, na quadra da escola, no bairro Sílvia Regina, em Campo Grande.
As baianas falam cheias de carinho da ala em que desfilam. A baiana mais antiga, Lucimara da Silva, 58 anos, está a cerca de 40 anos na Catedráticos do Samba. A escola só conseguiu ter um barracão próprio há dois anos e ela lembra bem dos tempos em que ensaiou na praça do bairro e na rua. “Era barro, lama para ensaiar e até chuva. Era uma luta rodando na terra. Lucimara diz que gosta do Carnaval, porque “há muitas coisas ruins e o Carnaval é só alegria”.
A baiana era uma das mais empolgadas durante a homenagem e levou à família para a quadra da escola de samba. Ela diz que os filhos chegaram a participar dos carnavais, mas que hoje em dia, não desfilam mais, apenas dão apoio. “Eu também saí no Bloco Formigueiro e estou sempre animando os mais novos que entram. Não vou parar nunca e vamos ver quem é quem no Carnaval deste ano.
As baianas são vaidosas, e mesmo que não foi com uma saia volumosa, colocou algum detalhe na roupa. Nirce Ortega foi de vermelho, a cor da sua escola, a Igrejinha, turbante na cabeça e colares. Ela conta que já desfilou em outras escolas e que está na ala das baianas da Igrejinha há vários anos, desde que a Igrejinha voltou a desfilar. “A minha fisioterapeuta disse que eu podia vir”, brinca Nirce, que não gosta de falar muito da idade.
“Toda a vida eu gostei de Carnaval. Eu fugia de casa para ir ao Carnaval e quando voltava, minha mãe me batia. No outro ano, eu ia de novo. O gostoso do Carnaval é que é uma cultura nossa e que não tem preconceito. É quando pessoas simples podem participar, porque é gratuito”.
Para desfilar todos os anos, Nirce conta que se prepara com caminhadas e que ensaia muito. “A escola de samba tem três coisas que não pode faltar: a bateria, o mestre-sala e a porta-bandeira e a ala das baianas. A baiana desfila desde criança, passa por todas as alas e, quando chega na das baianas, é como um agradecimento”
Apesar de muitas vezes a ala das baianas ser lembrada como uma ala de senhoras, também há baianas jovens no Carnaval de Campo Grande. Rosicleia Dias da Silva, 29 anos, entrou neste ano para a Catedráticos do Samba. Ela destaca a questão da religião ligada às baianas, no caso dela o Candomblé. Ela diz que para a religião, a figura da baiana é muito importante e que representa a tradição. “A baiana chama o lado candomblé e do culto africano”.
Jaqueline Barbosa, 38 anos, está há oito Carnavais na ala das baianas da Cruzeiro. Ela também reforça o lado da religião que as baianas representam. “A religião influencia muito, porque veio da África e se fixou na Bahia. A baiana aborda essa religiosidade que influencia muito na escola de samba”, explica.
Na Deixa Falar, a baiana é multicultural. Celina Rojas, 51 anos, é paraguaia e mora desde os 9 anos em Mato Grosso do Sul. Há 18 anos ela participa dos desfiles. Primeiro foi na extinta Unidos do Buriti e agora está há nove anos na ala das baianas da Deixa Falar.
“A baiana tem uma responsabilidade muito grande e eu desfilo todos os anos. Eu não tenho vínculo só com uma escola e saio em todas no Carnaval. Tem que gostar muito. Chega nessa época do ano, eu desligo de tudo. Saio do serviço e vou direto para o barracão”. Apesar da paixão pelo Carnaval de Celina, ninguém na família seguiu os passos dela.
A ala das baianas da Catedráticos do Samba está sendo comandada pela policial Maria Campos, que também é diretora-financeira da escola. A presidente, Marilene Pereira de Barros, diz que sem baianas não há Carnaval. “Se não tiver baiana, não tem Carnaval. Elas não recebem pontos, mas, se uma escola não tiver baianas, perde ponto. Elas são as rosas que enfeitam a avenida”.