Boteco raiz diverte com 56 anos de treta, jukebox e pingaiada
Em poucas horas sentado, o boteco raiz te proporciona espetáculos que não vemos em anos saindo para lugares fitinhas da cidade
Em poucas horas sentado, o boteco raiz te proporciona espetáculos que não vemos em anos saindo nesses lugares fitinhas de Campo Grande. É um intensivão de acontecimentos que te deixa mais tonto que a pinga servida.
Ali na Rua 15 de novembro, o boteco do Fabiano, um boa praça que conversa com todo mundo e ainda toma uma com o cliente, é a síntese desse tipo de estabelecimento.
Nossa reportagem, bem cara de pau, foi até o lugar e, em pouco tempo, pôde testemunhar que o espírito do botecão raiz está bem vivo no Centro.
Teve gente combinando ménage aos berros, amigas brigando, uma delas inclusive discutiu, fez as pazes e tomou cerveja com meio bar. Teve também show particular de um cliente que dançou no meio do salão hipnotizando a todos, até o lendário Sabiá, personagem inconfundível do Centro de Campo Grande estava por lá.
No balcão, tio, sobrinho (os donos) e um funcionário. Numa conversa sem nos identificarmos, eles explicam que compraram o bar há dois anos, mas que ele existe há 56 anos.
O tio de Fabiano, simpático igual ao sobrinho, é quem nos atende. Atrás dele chama atenção uma prateleira repleta de recipientes com pingas curtidas em raízes. Cada dose custa R$ 3,00. Ao final do rolê, por uma empatia inexplicável, Fabiano nos oferece várias delas, só posso dizer que não dirigimos depois.
Tudo no boteco é bom. Na mesa ao lado da nossa estão as amigas que brigaram. O motivo se perdeu em meio aos berros. Pouco antes elas combinavam, brincando, um ménage.
“Hoje é dia de que?”, pergunta uma.
“Ele me lambe e eu te chupo”, diz a outra gargalhando. Um homem completa a mesa. Mesa aliás que monopolizou a atenção do bar durante um bom tempo.
A “DR” das amigas foi longe e envolveu muita gente, até o Fabiano, que precisou apaziguar os ânimos de uma das amigas, a mais exaltada. Ela ficou até quase o bar fechar, discutiu, conversou e bebeu a cerveja de quase todo mundo.
As conversas mais “picantes” do começo desagradaram dois clientes que bebiam sozinhos, mas trocaram impressão sobre a cena. “Pouca vergonha, né, cara? Os clientes todos aí, falando isso na frente de todo mundo”. Ao final, a amiga brava também tomou a cerveja dele.
Pessoas que bebem sozinhas é um dos fenômenos mais comuns dos botecos. Eles interagem entre si, mas não é uma regra. São sempre fiéis aos mesmos bares.
Quem não é fiel a bar nenhum é o Sabiá, que vai aonde dão cerveja a ele, apesar da proibição por conta dos problemas psiquiátricos que tem. Sabiá ostentava uma garrafa de “Lokal”, marca de cerveja mais barata do bar e de qualidade duvidosa. Ele apontava para a garrafa e pedia mais. Enquanto estávamos no local, ninguém pagou.
Numa das pontas da calçada um grupo de hippies. Na outra um grupo de flamenguistas, mas a cereja do bolo do boteco do Fabiano estava dentro do salão.
De óculos escuro, camiseta preta e shorts branco, um cliente dançou quase todas as músicas colocada na jukebox, outro item indispensável de um boteco raiz que se preze. A energia dele foi tão contagiante que, em dado momento, outras cinco pessoas dançaram junto.
O chão é limpo, as mesas de plástico também. Tio de Fabiano vai embora antes, se despede de todos e se desculpa pela amigas brigonas.
Aos poucos os "botequeiros" vão pagando suas contas, as vozes vão diminuindo e mais um dia de boteco chega ao fim. Para muitos um lugar de gente bêbada, para outros um momento de escapismo em meio a loucura da vida. Mas uma coisa uma coisa temos certeza, boteco é um patrimônio e deve ser preservado.
Vida longa ao bar de Fabiano!
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