Com apego à tradição, festa cigana mostra a riqueza de uma cultura misteriosa
Ao entrar na "Tsara", nome dado à tenda cigana, um tecido vermelho que reveste todo o salão, é impossível não notar a riqueza nos detalhes de uma cultura cercada de mistérios e misticismo. A decoração vai do chão até o teto e é cercada de significados. A começar pelas mesas, sempre em números pares.
Postas de seis a oito lugares, os números pares das mesas representam a união, a alegria e a sorte, só um dos costumes de um povo que é família, gosta muito de festa e estar próximo das pessoas que ama.
A festa "Gitana", que deve acontecer a cada 15 dias, no Espaço Místico e Holístico Vida em Harmonia, no bairro Monte Castelo, em Campo Grande, é para mostrar um pouco da cultura cigana para o público. Neste último sábado, o Lado B foi acompanhou a festa. Um convite de um povo com etnias e costumes próprios que fazem parte da história do mundo, e até hoje é cercada de mistérios e preconceitos.
“O que nós queremos é divulgar um pouco da nossa cultura para as pessoas que estão dispostas a vir conhecer e respeitar, que tem interesse de ver como é de verdade. Começamos com uma festa só para mulheres e decidimos fazer uma festa maior. Hoje é a realização de um sonho, poder mostrar um pouco das nossas festas para as pessoas”, comenta a organizadora do evento, Natalia Cristhiane Nicolish, de 44 anos.
Na família dela as tradições sempre foram seguidas à risca. Ainda na infância, ela foi prometida a Pedro Nicolish, também de 44 anos, ciganos só se casam entre eles e a festa tem a duração de dois dias. No primeiro, a celebração é mais tradicional, parecida com as que estamos acostumados, no segundo é o momento em que a mulher exibe a sua virgindade, outra tradição forte cigana.
As famílias são grandes e sempre que podem estão juntas. Cigano não gosta de ficar sozinho. As mulheres, sempre bem vestidas, de saias longas, flores no cabelo e muito brilho, tem como tradição não tomar uma decisão antes de conversar com as matriarcas da família.
Entre outros detalhes que cercam as tradições ciganas, festas como essa são uma maneira de manter viva a cultura. “Na verdade eram mais de 32 etnias ciganas no mundo, hoje só restam cinco, e nós conseguimos juntar quatro delas na Romani (Federação sul-mato-grossense de cultura e etinias cigana). O cigano é festeiro e buscamos preservar os nossos costumes”, conta Pedro, presidente da Romani.
Em uma mesa, vários signos da cultura cigana são representados, o sal com moedas e canela, estão ali para espantar as energias ruins e o uma bola de cristal também faz parte da decoração. O ambiente feito para o evento desperta curiosidade em conhecer um pouco mais um povo que tem o seu próprio dialeto, ensinado de geração em geração.
A música e a dança também são bem características. No cardápio, pratos que não podem faltar em uma “Pathil” como são chamadas as festividades ciganas. Entre eles estão o “Sosso Baclâno”, um cordeiro assado temperado com ervas finas à moda cigana e o Sarmá, charutos de arroz, carne moída e bacon temperado à moda romena.
Fátima Jorge, de 44 anos veio de São Paulo para participar da festa, com vestes típicas, é fácil identificar que ela é uma cigana, e não apenas se vestiu para estar ali.
“É maravilhoso, tudo é magico na cultura cigana, e sempre foi uma mistério para as pessoas, e para nós é uma alegria poder compartilhar um pouco da nossa cultura, para as pessoas conhecerem essa magia” explica.
Se toda a produção do salão, os quitutes preparados na cozinha, música e a dança para nós é uma festa, para quem é cigano, é apenas uma pequena demostração. “O que para vocês é novidade, para nós é rotina. Isso é muito pouco perto de uma verdadeira festa cigana. Nossas festas duram três dias” pontua Patricia Jorge, de 27 anos.
Ela também me conta sobre a vaidade cigana, as mulheres sempre estão muito arrumadas, não usam roupas curtas e abusam do brilho. Os homens costumam usar camisas, algumas vezes bem chamativas também.
O Gitana é uma festa paga, à noite com comidas e atrações inclusas custa R$70,00, só a bebida e paga à parte. Mas mais que um comércio, representa a força de um povo em preservar as suas tradições. O Espaço Místico fica na Rua Doutor Anibal de Toledo, 641, no bairro Monte Líbano.