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Diversão

Com feira e bailão, rua na Vila Margarida é a diversão de moradores antigos

Thailla Torres | 10/01/2017 10:10
Raimunda é uma das mais animadas no bar. Dança, canta e de mesa em mesa distribui sorriso durante a noite. (Foto: Fernando Antunes)
Raimunda é uma das mais animadas no bar. Dança, canta e de mesa em mesa distribui sorriso durante a noite. (Foto: Fernando Antunes)

A cena é curiosa em um sábado a noite. A Rua Naviraí, na Vila Margarida, é um point e tanto para quem busca alegria. Ao entardecer, moradores se reúnem pelos bares da rua, que movimentam o espaço ocupado de dia pelo comércio local. 

Todo sábado é do mesmo jeito, com ressalva para a animação, que só aumenta a cada fim de semana. Tem gente que mora perto, mas há quem atravesse a cidade para curtir o movimento da rua. É a balada na periferia levada na simplicidade, de um jeito festeiro e dançante.

À noite, bebida e o som da sanfona aumentam o ânimo de quem ainda está tímido na pista. Logo mais, todo mundo se levanta e vai dançar. Do outro lado da rua há uma feira pequena, com a bugigangas e hortifruti, que também contribui para todo movimento.

Bar do Brasileiro tem o grupo "Chamamézeiros"
Bar do Brasileiro tem o grupo "Chamamézeiros"
Animação é o que não falta em bares e até lanchonete. (Foto: Fernando Antunes)
Animação é o que não falta em bares e até lanchonete. (Foto: Fernando Antunes)

Quem passou a visitar, não se arrepende. Aos 60 anos, Raimunda Tereza de Jesus, trabalha todos os dias como empregada doméstica. Apesar do esforço, nota-se que não existe cansaço, é a mais animada no Bar do Brasileirinho, um dos típicos botecos da Rua Naviraí.

"Venho aqui todo sábado e ninguém me tira", sorri, enquanto faz questão de mostrar como é que se dança um chamamé de verdade. "Quem sabe dançar não derruba esse copo", diz, equilibrando um copo cheio de cerveja, enquanto mostra o que aprendeu no Estado. 

Nascida no Ceará, Raimunda chegou aqui aos 13 anos, junto da família. Diz que deixou de lado o forró quando se apaixonou pelo chamamé e frequenta a festança da rua Naviraí há dois anos. "Só dançava xote e forró, aqui aprendi o vanerão, chamamé e dois por dois. É ótimo dançar assim", conta. 

O dono do bar é o pecuarista Taison Rodrigues, de 61 anos, que está na administração do lugar há 1 ano e meio. O local é antigo, já passou pela mão de muitos donos. Enquanto o atual observa os clientes, a esposa está no cozinha fritando pastéis. 

"Sou de Camapuã. A gente conhecia essa rua e vê que o movimento cresce. Pra ganhar um dinheiro, compramos o bar e como aprendi que baile é algo legal, colocamos a música", explica o dono.

Maria Aparecida não troca o baile por baladas do Centro.
Maria Aparecida não troca o baile por baladas do Centro.

Ali, a maioria do público já passou dos 50 anos e aproveita a diversão com simplicidade. Não tem regra de estilo e nem moda ditada. Seja de salto ou chinelo, o que não falta é gente chegando nos bares. Conforme a música vai tocando, quem perde a timidez arrisca na pista, quem não tem parceiro até dança sozinho. 

Muitos se conhecem porque são moradores da Vila Margarida. Passam na feira e depois escolhem um dos bares com mais movimento.

Mara Lopes, de 54 anos, é exemplo que vem de longe. Moradora do Nova Lima, encara o trajeto de moto só para ouvir a música. "Eu sempre gostei de chamamé, o lugar é gostoso, todo fim de semana eu estou aqui, não troco por nada", explica. 

Para alguns, é balada alternativa diante de tanto programa igual na cidade. Maria Aparecida Pereira, tem 48 anos e não troca o baile animado por balada nenhuma. "Já virou tradição esses lugares aqui na rua. Faça chuva ou sol, todo sábado a gente está aqui. Muito melhor do que as baladas de qualquer outro lugar", conta a esteticista. 

Em outro ponto, é o Guga Lanches que movimenta a região. O local já era conhecido pelo baile animado até amanhecer. Mas hoe é diferente, a festa só acontece até a meia-noite, uma forma de driblar a reclamação de quem não se acostumou com a barulheira.

"Era bom quando tinha até de madrugada. Mas o povo perturba e acaba mais cedo", explica Maria.

Morador há 20 anos, diz que hoje não tem briga e rua virou ponto para reunir a família. (Foto: Fernando Antunes)
Morador há 20 anos, diz que hoje não tem briga e rua virou ponto para reunir a família. (Foto: Fernando Antunes)

Cerveja gelada é o que não pode faltar. A garrafa de 600ml custa R$ 5,00 e é bem mais barata do que nos bares do centro.

Tuani Santo de Oliveira, de 33 anos, é dona da lanchonete e já acostumou a vender mais garrafas do que as porções. "É o que o povo gosta e sempre gostou. Cada dia que passa só aumenta o movimento. Mas nunca tive um problema, as pessoas vem aqui pra se divertir e não para brigar", diz.

Antigamente, a Vila Margarida tinha fama pela violência e as brigas de gangues constantes na região. Hoje, é a diversão e o movimento noturno que parecem dominar o cenário.

Silvio Jorge Souza, de 65 anos, vive no bairro há 20 anos, presenciou a mudança e acredita que os moradores se uniram. "A gente fez da rua, um lugar para reunir a família, vir na feira e aproveitar a música. Essa é a nossa diversão, eu moro aqui há 20 anos e faz muito tempo que não vejo uma briga. Tem uns que exageram, mas passa", confessa.

Quem quiser aproveitar a noite tem que chegar cedo. Os bailes e bares da rua abrem às 19h e vão até meia-noite com música ao vivo. Depois, o jeito é esperar o próximo sábado para curtir mais uma noite animada, com músicas que enchem o coração de saudade.

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