Em encontro na rampa, rola até batalha do conhecimento entre artistas do hip hop
Mesmo após tantas polêmicas que já envolveram eventos realizados na rampa da Morenão, na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), o movimento hip hop em Campo Grande decidiu unir forças para ocupar o espaço público e fazer debates com arte e música.
O evento começou tímido, mas aos poucos várias pessoas foram chegando para uma batalha bastante democrática. Primeiros surgem as apresentações musicais e depois vem a principal atração da noite que é a 'batalha do conhecimento' onde são sorteados temas como educação, preconceito, política, criminalidade, cultura e diversos outros que fazem parte do cotidiano.
Após o sorteio, os rappers, em batalhas individuais ou em duplas, fazem rimas com a temática e a melhor apresentação ganha como prêmio a gravação em um estúdio.
Para quem acompanha o cenário musical na cidade, o que falta é quebrar as barreiras e preconceito sobre o movimento hip hop. A cantora Marina Peralta, ressalta que é uma oportunidade para que a galera da periferia tenha espaço.
"A gente resolveu tentar ocupar esse ano com o movimento hip hop, porque entendemos que a universidade precisa estar de portas abertas para diversos tipos de manifestações culturais. É também um espaço de arte, cultura e muitas vezes esse espaço é fechado para a periferia", esclarece.
Com dificuldades em realizar os eventos por conta das burocracias, o que a maioria deseja é respeito e reconhecimento pela cultura. "A gente teve bastante dificuldade de fazer os eventos aqui, porque envolve bastante burocracia, mas aqui é um espaço público, todo mundo tem o direito de estar aqui, então essa polêmica não devia acontecer, porque a gente está fazendo manifestação artística e cultural", enfatiza.
Acabar com associação do hip hop à marginalidade também é uma das bandeiras levantadas. "Não é uma bobeira isso daqui, as pessoas estudam, buscam conhecimento e conceitos para poder dar a opinião. E a união é fazer com que o rap possa sair do MS. A gente só está buscando melhoria e reconhecimento", explica a empresária Pha Jacques, de 29 anos.
Vinícius Gonçalves, de 17 anos, conta que conheceu o rap ainda na infância e luta pela valorização do estilo. "O cenário do rap em Campo Grande no momento está um pouco bagunçado, o povo está ligando apenas para o ibope. Mas hoje aqui na rampa estão os que querem fazer um rap de verdade e a gente sintonizar essa união, levando uma ideologia e fazendo disso uma profissão", explica rimando.
E local é aberto para todos os públicos, além dos artistas, tem família que leva a criançada para aproveitar a música.
Luana Peralta, de 30 anos, levou as filhas Sara, de 9,e Julia, de 10 anos, que até arriscam algumas rimas. "Eu acredito que quando tem essa discriminação e você proíbe, elas crescem buscando e descobrindo sozinha. Por isso elas vem comigo para conhecer realmente o quanto é bacana o movimento", explica.
A mãe ainda ressalta que, mesmo entre tantos jovens, nunca teve problema de levar toda a família. "Dizem que as pessoas vem aqui para se marginalizar, mas não é isso, aqui é um evento gratuito e minhas filhas nunca foram desrespeitadas. Elas gostam de ver a batalha que passa em forma de música uma mensagem consciente", diz.