Festa que comemorou chegada do asfalto há 18 anos, virou tradição entre vizinhos
Há 18 anos a cena se repete. Na Vila Popular, região Oeste de Campo Grande, o tradicional Arraiá de Rua une os moradores. Tudo começou com Emiliano Franco, que resolveu chamar os vizinhos para comemorar uma super conquista do bairro, a chegada do asfalto no fim da década de 90
Aos 61 anos, Emiliano fica até emocionado quando lembra de como era viver ali. "Era um bairro distante, quase esquecido, muita coisa acontecia aqui. Coisa que as vezes eu nem gosto de lembrar", diz sobre o alto índice de violência daqueles tempos.
Ele mora na região há 40 anos e acompanhou de perto as evoluções e garante que um dos momentos mais felizes da região foi o fim da terra que forrava as ruas. "Foi uma alegria, a vontade que a gente tinha era de deitar, abrir os braços e abraçar o asfalto", descreve.
Naquele dia, as crianças não saíram da rua, conta ele. Queriam aproveitar e brincar no asfalto novo que mais parecia um tapete, segundo Emiliano. "Foi como se tivesse feito uma nova calçada dentro de casa, porque antes só tinha terra e depois do asfalto tudo melhorou", comenta.
Tamanha era a felicidade que logo surgiu a ideia de uma festinha. Como era junho, a comemoração virou um arraial. "A ideia era reunir os vizinhos para brincar e dançar. A primeira foi um fracasso, mas passou ano atrás de ano e todo mundo foi se apegando. Hoje eu até tento parar, mas ninguém deixa e a gente acaba lutando para não perder a tradição", comenta.
Os filhos cresceram, nem todos os jovens que ajudavam na festa continuam na organização. Mesmo assim, Emiliano é cobrado. "Todo ano é a mesma coisa, vai chegando perto da data e as pessoas começam a me perguntar como vai ser. Muita gente cresceu, hoje tentam passar a tradição para outras crianças da região."
O endereço sempre foi o mesmo e tudo é feito na base da colaboração.
Os próprios moradores montam o palco, fazem as comidas que são vendidas, cuidam da decoração e deixam o microfone aberto para as apresentações.
João Raimundo dos Santos é um dos vizinhos animados com a tradição. Fala que a primeira edição da festa jamais será esquecida. Ele faz questão de contar que na época ninguém tinha dinheiro para alugar um palco. Por isso, ofereceu a camionete que acabou servindo naquela noite.
"Eu tenho camionete e ela foi o palco. Eu fico muito feliz por isso, pode ser simples, mas sempre foi uma festa que uniu a gente e todo mundo gosta de participar. É algo que a gente tem que lutar para não se perder, mesmo que ainda falte apoio", pede.
Neste ano, Emiliano aponta que cerca de 800 pessoas estiveram na festa que aconteceu no sábado e domingo. As atrações sempre são variadas, tem criança e adulto que sobe no palco para cantar. "Já teve até declaração de amor no palco, as vezes é tanta gente que nem consegue ter espaço", comenta.
O povo é teimoso e não deixa a festa morrer, apesar de algumas decepções ao longo dos anos. "Teve um tempo que houve brigas de gangues. Foi muito difícil e a gente até pensou em desistir. Mas depois a gente viu que não valia a pena virar refém da violência. Porque a nossa festa era feita de gente do bem e ainda é", ressalta.
Agora, o projeto dos moradores é batalhar por apoio para inserir a festa no calendário de eventos culturais da cidade. "Isso daqui é muito importante para gente. Apesar das dificuldades, todo ano é um sucesso. A gente não pode desistir", reforça